São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2007

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Investimento estrangeiro bate recorde

País recebeu US$ 2,8 bi em março, melhor marca já registrada para o mês, mas economista critica falta de estratégia

No primeiro trimestre entraram US$ 6,6 bi; compra de dólares pelo BC atinge US$ 8,3 bi no mês e US$ 22 bi de janeiro a março


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil recebeu fluxo recorde de investimentos estrangeiros diretos no mês passado, com multinacionais sediadas no exterior aplicando US$ 2,778 bilhões no país, maior valor já registrado num mês de março desde 1947, início da série do Banco Central.
O saldo acumulado no primeiro trimestre deste ano chegou a US$ 6,578 bilhões. Se descontados os números apurados na época das privatizações, quando empresas estrangeiras investiram bilhões na compra de estatais brasileiras, o resultado dos primeiros três meses de 2007 também é o maior já registrado pelo BC no período.
Em 2006, o Brasil recebeu US$ 18,8 bilhões em investimentos, e a expectativa do BC é que esse resultado suba para US$ 20 bilhões neste ano.
"Por enquanto, os números confirmam o acerto da nossa projeção", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Os investimentos estão vindo porque existe mais confiança na economia, com perspectivas de crescimento bastante sólido."
Para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, a estabilidade da economia e a expectativa de um crescimento mais acelerado nos próximos anos ajudam o país a atrair investimentos, mas a situação "podia estar melhor". "O Brasil não tem uma estratégia de atração de investimentos. O país está no mapa pelo potencial que representa, mas os setores de maior valor agregado não têm muita competitividade", afirma.
Segundo Lacerda, problemas como a burocracia brasileira, a alta carga tributária e problemas de infra-estrutura acabam desestimulando os investidores. Além disso, ele aponta a valorização do real como outro fator negativo, pois isso prejudica a exportação de produtos industrializados, afetando investimentos nesses setores.
Uma saída para o problema do câmbio, de acordo com Lacerda, seria uma queda mais acentuada dos juros, para reduzir o que se chama no mercado financeiro de "arbitragem" -operação pela qual um investidor pode contrair um empréstimo a taxas reduzidas em outro país para aplicar em títulos brasileiros, que oferecem uma rentabilidade mais alta.
Atualmente, uma aplicação em títulos públicos rende entre 7% e 8% ao ano de juros reais -já descontada a inflação. No mês passado, estrangeiros investiram US$ 1,940 bilhão nesses papéis. Entre janeiro e março, foram US$ 3,492 bilhões.
Os elevados juros no Brasil também já fazem com que empresas instaladas no país busquem mais financiamentos no exterior. No mês passado, segundo o BC, o setor privado captou R$ 2,433 bilhões no mercado internacional, valor 167% maior do que o total de parcelas da dívida externa que venceram nesse período.
Diante do forte ingresso de capital externo, o BC manteve uma atuação agressiva no câmbio. No mês passado, comprou US$ 8,3 bilhões em divisas para reforçar as reservas em moeda estrangeira no país.
Entre janeiro e março, essas compras somaram US$ 21,9 bilhões, valor que já supera, por exemplo, os US$ 21,5 bilhões adquiridos ao longo de todo o ano de 2005. No ano passado, as compras somaram US$ 34,3 bilhões.


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