São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2007

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Juro "pode cair muito mais", afirma novo diretor do BC

Torós diz que país tem novo patamar de juros e agrada a comissão do Senado

Economista ressalva que transição para juro menor "deve ser feita com tanta ou mais prudência que tivemos para chegar à estabilização"


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Indicado para substituir Rodrigo Azevedo -diretor de Política Monetária do Banco Central e considerado um dos pilares da política de juros altos-, o economista Mário Torós surpreendeu, ontem, ao mostrar-se bem mais flexível.
Em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), ele defendeu a prudência do BC, mas disse que o país está num novo patamar de juros e há espaço para uma queda maior nos próximos meses.
O país não está "condenado a ter juros altos por muito tempo", disse ele.
Torós defendeu também a política de compra de dólares do BC, que elevou as reservas brasileiras em moeda estrangeira para patamar recorde. Para ele, elas minimizam a chance de uma oscilação brusca no câmbio, mas não devem impedir a apreciação do real se o país atingir o "investment grade" (recomendação para investimento dada por agências de risco americanas).
"A taxa [de juros] é cadente, está caindo e pode cair muito mais nas próximas reuniões [do Comitê de Política Monetária do BC]", disse Torós, ao ser questionado pelos senadores como votaria se já estivesse no Copom em sua última reunião, na semana passada, quando, por 4 votos a 3, optou-se por queda de 0,25 ponto percentual na taxa contra queda de 0,5 ponto.
Cuidadoso, Torós, que trabalhou no banco Santander, evitou opinar sobre a reunião do Copom. "Sobre o passado tenho dificuldade de responder."
Mas, em seguida, deu seu recado. "A política monetária cumpriu o seu papel de trazer a inflação para um nível mais baixo. Na medida em que ela é bem sucedida, temos que relaxar a política monetária, e isso está acontecendo", enfatizou, argumentando que o movimento deve ser feito com a prudência tradicional de um banco central.
Para ele, a economia brasileira está chegando a um outro nível. "Estamos no fim de uma travessia que deve ser feita com tanta ou mais prudência que tivemos para chegar à estabilização. Mas caminhamos, de fato, para taxas de juros reais e nominais mais baixas."
Apesar da cautela diante de alguns questionamentos e da defesa que fez da atuação do BC até agora, a interpretação dos senadores foi a de que o novo diretor representa uma mudança no conservadorismo da instituição, que teve ainda a saída neste ano de Afonso Bevilaqua, considerado o mais conservador da diretoria.
"Fiquei animado com sua frase de que os juros podem cair muito mais. Só espero que isso não seja discurso de candidato", brincou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da CAE.
Ao anunciar o resultado da votação na comissão do Senado, 24 votos pela aprovação do nome de Torós e três contrários, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) brincou: "Há três monetaristas aqui". No início da noite, a indicação foi aprovada no plenário do Senado por 52 votos a 7.


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