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Juro "pode cair muito mais", afirma novo diretor do BC
Torós diz que país tem novo patamar de juros e agrada a comissão do Senado
Economista ressalva que transição para juro menor "deve ser feita com tanta ou mais prudência que tivemos para chegar à estabilização"
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Indicado para substituir Rodrigo Azevedo -diretor de Política Monetária do Banco Central e considerado um dos pilares da política de juros altos-, o
economista Mário Torós surpreendeu, ontem, ao mostrar-se bem mais flexível.
Em sabatina na Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado (CAE), ele defendeu a prudência do BC, mas disse que o
país está num novo patamar de
juros e há espaço para uma queda maior nos próximos meses.
O país não está "condenado a
ter juros altos por muito tempo", disse ele.
Torós defendeu também a
política de compra de dólares
do BC, que elevou as reservas
brasileiras em moeda estrangeira para patamar recorde. Para ele, elas minimizam a chance
de uma oscilação brusca no
câmbio, mas não devem impedir a apreciação do real se o país
atingir o "investment grade"
(recomendação para investimento dada por agências de risco americanas).
"A taxa [de juros] é cadente,
está caindo e pode cair muito
mais nas próximas reuniões
[do Comitê de Política Monetária do BC]", disse Torós, ao ser
questionado pelos senadores
como votaria se já estivesse no
Copom em sua última reunião,
na semana passada, quando,
por 4 votos a 3, optou-se por
queda de 0,25 ponto percentual
na taxa contra queda de 0,5
ponto.
Cuidadoso, Torós, que trabalhou no banco Santander, evitou opinar sobre a reunião do
Copom. "Sobre o passado tenho dificuldade de responder."
Mas, em seguida, deu seu recado. "A política monetária
cumpriu o seu papel de trazer a
inflação para um nível mais
baixo. Na medida em que ela é
bem sucedida, temos que relaxar a política monetária, e isso
está acontecendo", enfatizou,
argumentando que o movimento deve ser feito com a prudência tradicional de um banco
central.
Para ele, a economia brasileira está chegando a um outro nível. "Estamos no fim de uma
travessia que deve ser feita com
tanta ou mais prudência que tivemos para chegar à estabilização. Mas caminhamos, de fato,
para taxas de juros reais e nominais mais baixas."
Apesar da cautela diante de
alguns questionamentos e da
defesa que fez da atuação do BC
até agora, a interpretação dos
senadores foi a de que o novo
diretor representa uma mudança no conservadorismo da
instituição, que teve ainda a
saída neste ano de Afonso Bevilaqua, considerado o mais conservador da diretoria.
"Fiquei animado com sua
frase de que os juros podem
cair muito mais. Só espero que
isso não seja discurso de candidato", brincou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da CAE.
Ao anunciar o resultado da
votação na comissão do Senado, 24 votos pela aprovação do
nome de Torós e três contrários, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) brincou:
"Há três monetaristas aqui".
No início da noite, a indicação
foi aprovada no plenário do Senado por 52 votos a 7.
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