São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2007

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Nobel de economia critica "conservadorismo" do Brasil

Phelps diz que não existe "cultura econômica favorável a inovações" e defende reformas

No RS, premiado em 2006 cita legislação trabalhista como exemplo de atraso, mas vê "novo período de grandes investimentos"


Ricardo Duarte/Agencia RBS
Phelps, Nobel de Economia, durante visita a Porto Alegre


SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2006, o americano Edmund Phelps, 73, afirmou que o Brasil precisa reformar suas instituições se quiser crescer mais rapidamente.
Phelps, que deu palestra ontem em Porto Alegre, citou apenas a legislação trabalhista como exemplo de estrutura que precisa mudar no país. Criticou o conservadorismo das leis trabalhistas brasileiras, citando que são inspiradas na "Carta Del Lavoro" da Itália fascista.
"No Brasil não existe cultura econômica favorável a inovações. Para mudar isso, só com reformas institucionais. É uma pena que este país se mantenha tão conservador quando, claramente, poderia inovar."
O economista disse que começou a estudar a economia brasileira há quatro meses, quando começou a ser requisitado a falar sobre o tema. Ressalvou que o Brasil não está entre os 20 países aos quais dedica seus estudos, mas apontou que o país pode estar no início de um "novo período de grandes investimentos". "Dados recentes sugerem que o Brasil está no limiar de novo período de grande atividade em investimentos. Isso é parte do processo de desenvolvimento e não deveria surpreender."
Defensor de subsídios públicos como complemento de renda de trabalhadores com salários muito baixos, Phelps disse que o programa Bolsa Família, do governo federal, é "atraente". Afirmou, contudo, que o programa deveria atingir todos os trabalhadores com baixos salários e também ser provido pelo setor privado.

EUA
Phelps disse que os EUA ainda são referência mundial em "capitalismo dinâmico", conceito criado por ele para indicar um sistema que combina inovação, lucro e redução de desigualdades sociais. Apontou que o capitalismo tem efeito positivo sobre o emprego e que isso é "bastante aparente" nos EUA.
Phelps criticou a Rússia e países do Leste Europeu por não ensinarem "o quanto é necessário, útil e divertido trabalhar com o mundo capitalista". Afirmou ainda que as taxas de desemprego de França e Alemanha são resultado da "visão anticapitalista" francesa e da falta de inovação na Alemanha.

Aquecimento
Phelps afirmou não acreditar que o avanço do aquecimento global seja resultado do aumento da produção no mundo. Disse que é prematuro relacionar as duas coisas. "Acho um equívoco dizer que a produção de bens de consumo é a responsável pelo aquecimento global." Professor da Universidade Columbia, Phelps ganhou o Nobel especialmente por sua teoria sobre a "Nairu" (sigla em inglês para Taxa de Desemprego Não-Acelerando a Inflação), que questionou a noção de que há uma relação inversa entre inflação e desemprego -quando um aumentasse, o outro deveria cair.


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