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VINICIUS TORRES FREIRE
"Harmonia"
Popular com a economia e com distributivismo social, governo Lula faz campanha a fim de pacificar oposição
"HARMONIA" E variantes do
velho clichê "oposição
responsável" (isto é,
sem alternativas) são as expressões
políticas da hora. Emanam dos discursos do presidente, dos cafezinhos
da oposição no Planalto e são o efeito prático das conversas ainda obscuras entre governo e PSDB a respeito de mudanças nas regras da
eleição para presidente em 2010.
É evidente a origem da "distensão", para recorrer a outro velho lugar-comum político. Para o que restou da oposição, está difícil sangrar o
governo e oferecê-lo às piranhas.
No que diz respeito à paz social
dos cemitérios floridos por uma gorjeta de distribuição de renda, a aliança na prática dos programas de fato
de PSDB e PT por ora pacificou o povaréu. Abertura econômica, inflação
baixa, iniciativas tucanas adotadas
pelo lulismo, e o distributivismo de
Lula são alguns dos principais esteios do prestígio do presidente.
A ruína moral do PT e o blocão governista no Congresso permitiram
ao presidente exilar seu partido na
periferia do governo. Como de resto
o blocão lulista no Congresso ora
não tem candidatos, há um vácuo de
perspectivas políticas no governismo. O fato de Lula não ser candidato
em 2010 permite às candidaturas
precoces do PSDB se aproximarem
do presidente tanto quanto for do
interesse particular mútuo -os partidos são legenda de conveniência.
Em início de governo, interessa
mais a governadores, prefeitos e
suas bancadas no Congresso negociar bocados de fundos públicos. Isto é, financiar seus projetos políticos. Foi o que se viu na marcha dos
prefeitos, quando Lula ofereceu um
naco da receita federal às cidades.
Os governadores tratam de federalismo eleitoral. Reivindicam, na
base do "se rolar, rolou", parte da
CPMF e da Cide. Do dinheiro que
perderam com isenção fiscal de exportações (Lei Kandir). Dos recursos do fundo da educação (Fundeb),
que tendem a perder para os municípios ou para o governo federal.
Querem desviar-se de obrigações
constitucionais e legais que engessam parte de seu orçamento, como o
faz o governo federal.
Mas pelo jeito se contentariam
mesmo em modificar (ou dar um jeito) nas leis e normas da renegociação fernandina das dívidas estaduais, a fim de aumentar seu nível de
investimento e endividamento.
Mesmo isso é problema grande, pois
implica, de maneira indireta, perda
de arrecadação federal e fornece bala demais para os governadores, o
paulista em particular.
A "distensão" parece tratar-se,
pois, de uma redisposição das tropas
no terreno, de acumulação de recursos para a batalha que viria daqui a
dois anos, mais ou menos, quando
recomeçariam as campanhas presidenciais. A dúvida maior fica ainda
na política: como dar-se-á a campanha das prefeituras, dado o presente
ambiente "harmônico"?
Parece que os jogadores políticos
fazem um pacto calculado e provisório. Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria, na política ou na
tuberculose, como diria Manuel
Bandeira. Pode ser tolo acreditar
que a reignição da atividade política,
de oposição ou da campanha governista de 2010, vai se dar sem mais
em 2009, como se então não tivesse
sido assentada a predominância política de Lula.
vinit@uol.com.br
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