São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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FMI vê a AL melhor que os ricos na crise

Para Fundo, América Latina tem fundamentos mais sólidos e se recuperará antes do que as economias mais avançadas

Diretor do FMI diz ainda que previsão de queda de 1,3% do PIB brasileiro, contestada pelo governo, deve-se à exposição global do país


Mandel Ngan/France Presse
Manifestantes protestam contra o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, que fazem reunião em Washington (EUA)

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI acredita que a América Latina já esteja "tocando o fundo do poço" na crise e que poderá voltar a crescer de forma mais acelerada em 2010 na comparação com as economias avançadas. Para os países desenvolvidos, o FMI afirma que o pior da crise só será atingido ao final deste ano.
Segundo Nicolás Eqzaguirre, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, além de os fundamentos macroeconômicos da América Latina estarem mais sólidos, "o sistema bancário está sadio e há espaço para políticas fiscais contracíclicas [gastos públicos maiores em período de recessão]".
Eqzaguirre afirmou que a atual recessão na América Latina deve ter o "formato" da letra V, enquanto a contração das economias ricas será mais parecida com um U. Ou seja, na região, a recuperação será rápida, mas ela levará mais tempo nos países avançados.
Para o Fundo, a crise global também não terá sobre a América Latina o mesmo efeito de crises passadas, como a dos anos 1980, batizados como "a década perdida" para a região.
Eqzaguirre disse ainda que a situação social de vários países (citou especificamente Brasil e México) não deve se deteriorar tanto em razão dos programas de transferência de renda adotados por alguns deles -no caso brasileiro, o Bolsa Família.
Pelas previsões do FMI, enquanto o crescimento das economias avançadas poderá ficar perto de zero em 2010, a América Latina poderá crescer 1,6% (2,2% no caso do Brasil).
A opinião do FMI sobre a região já estar atingindo o "fundo do poço" é parecida com a do ministro Guido Mantega (Fazenda). Mas Mantega contesta a previsão do Fundo de que haverá um encolhimento de 1,3% na economia brasileira neste ano. O FMI justificou novamente ontem a projeção devido à exposição que grandes economias como a brasileira têm em relação ao mundo. O FMI espera contração de 11% no comércio internacional neste ano.
"Entendo que, quando nossas previsões são mais pessimistas, incomodam. Mas não há nenhuma motivação contra qualquer país", afirmou Eqzaguirre.
A entrevista do diretor do Fundo já havia terminado quando os gravadores captaram seu adjunto no departamento, José Fajgenbaum, cochichando ao seu ouvido: "Você não vai falar sobre os bancos?". Ao que Eqzaguirre respondeu: "Mas não me perguntaram... Vou falar mesmo assim".
A partir daí, mesmo já tendo falado que os bancos na região estão saudáveis, Eqzaguirre voltou a frisar que a boa saúde dos bancos será "fundamental" para a recuperação.
Um dia antes, Mantega havia reclamado de declaração de Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI, sobre os bancos na América Latina, quando ele afirmou que poderiam sofrer caso a crise se prolongasse por muito tempo.


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