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Brics cobram do FMI reforma em troca de aporte
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Brasil e seus parceiros
de Brics (Rússia, Índia e China) decidiram que só farão
aporte de dinheiro no Fundo
Monetário Internacional se
for via novo instrumento e
estiver condicionado a uma
reforma na instituição que
dê mais poder a essas economias emergentes. A decisão
foi comunicada ontem pelo
ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, depois
de reunião com seus colegas.
O grupo fará o aporte em
conjunto, no espírito do
combinado na reunião do
G20 em Londres em março,
de que era preciso aumentar
o dinheiro à disposição do
organismo multilateral para
ajudar países em dificuldade
a enfrentar a crise. Só que
Brasil, Rússia, Índia e China
veem na necessidade uma
oportunidade para avançar
as mudanças no FMI, iniciadas no ano passado.
Na reunião de ontem,
Mantega sugeriu que os
aportes fossem feitos via
emissão de bônus pelo FMI,
um título ainda a ser criado
com prazo de vencimento de
até um ano, que possa ser
contado nas reservas internacionais dos países e que tenha um rendimento um pouco maior do que os títulos do
Tesouro dos EUA, os "treasuries", para que os países tenham estímulo em investir.
Instado algumas vezes a
dar o valor decidido pelo grupo de países para investimento, Mantega se recusou a
revelá-lo aos jornalistas, com
quem falava na sede do Fundo, em Washington. Pelo
atual sistema de cotas, o teto
do Brasil seria de US$ 4,5 bilhões. Rumores davam conta, no entanto, de até US$ 10
bilhões apenas em dinheiro
brasileiro, hipótese que o ministro evitou comentar.
"Somente falaremos sobre
quantias em dinheiro depois
que um novo instrumento
estiver pronto", disse. O brasileiro afirmou, no entanto,
que a gravidade da crise fará
com que o aporte venha antes que as reformas aconteçam de fato, dado o ritmo
historicamente lento de mudanças no Fundo. Nesse sentido, o ministro concordou
que os Brics estariam dando
o dinheiro antes para ver os
resultados depois.
Neste mês, o governo afirmou que voltaria a integrar o
grupo de países-membros do
FMI que fornecem dinheiro
para operações de socorro a
nações em dificuldades, lista
de que foi excluído em 1982,
quando declarou moratória
da dívida externa. As reservas do país hoje são de cerca
de US$ 200 bilhões.
"Mal-entendido"
Mantega voltou a comentar declaração do diretor-gerente do Fundo. Numa entrevista para o diário "Valor
Econômico" e outros três
jornais latino-americanos na
terça, Dominique Strauss-Kahn dissera que, a persistir
a deterioração da situação
econômica mundial, "até os
bancos da América Latina
vão carregar ativos tóxicos".
No dia seguinte, Mantega
reclamou da frase. Ontem,
após encontro com o francês,
o brasileiro disse que ouviu
do diretor-gerente que "houve um mal-entendido". Horas antes, em palestra na Câmara Americana de Comércio, o presidente do BC, Henrique Meirelles, havia batido
na mesma tecla. "Os bancos
brasileiros não têm nenhuma exposição a ativos podres
ou a ativos alavancados dentro ou fora do Brasil."
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