São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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Brics cobram do FMI reforma em troca de aporte

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Brasil e seus parceiros de Brics (Rússia, Índia e China) decidiram que só farão aporte de dinheiro no Fundo Monetário Internacional se for via novo instrumento e estiver condicionado a uma reforma na instituição que dê mais poder a essas economias emergentes. A decisão foi comunicada ontem pelo ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, depois de reunião com seus colegas.
O grupo fará o aporte em conjunto, no espírito do combinado na reunião do G20 em Londres em março, de que era preciso aumentar o dinheiro à disposição do organismo multilateral para ajudar países em dificuldade a enfrentar a crise. Só que Brasil, Rússia, Índia e China veem na necessidade uma oportunidade para avançar as mudanças no FMI, iniciadas no ano passado.
Na reunião de ontem, Mantega sugeriu que os aportes fossem feitos via emissão de bônus pelo FMI, um título ainda a ser criado com prazo de vencimento de até um ano, que possa ser contado nas reservas internacionais dos países e que tenha um rendimento um pouco maior do que os títulos do Tesouro dos EUA, os "treasuries", para que os países tenham estímulo em investir.
Instado algumas vezes a dar o valor decidido pelo grupo de países para investimento, Mantega se recusou a revelá-lo aos jornalistas, com quem falava na sede do Fundo, em Washington. Pelo atual sistema de cotas, o teto do Brasil seria de US$ 4,5 bilhões. Rumores davam conta, no entanto, de até US$ 10 bilhões apenas em dinheiro brasileiro, hipótese que o ministro evitou comentar.
"Somente falaremos sobre quantias em dinheiro depois que um novo instrumento estiver pronto", disse. O brasileiro afirmou, no entanto, que a gravidade da crise fará com que o aporte venha antes que as reformas aconteçam de fato, dado o ritmo historicamente lento de mudanças no Fundo. Nesse sentido, o ministro concordou que os Brics estariam dando o dinheiro antes para ver os resultados depois.
Neste mês, o governo afirmou que voltaria a integrar o grupo de países-membros do FMI que fornecem dinheiro para operações de socorro a nações em dificuldades, lista de que foi excluído em 1982, quando declarou moratória da dívida externa. As reservas do país hoje são de cerca de US$ 200 bilhões.

"Mal-entendido"
Mantega voltou a comentar declaração do diretor-gerente do Fundo. Numa entrevista para o diário "Valor Econômico" e outros três jornais latino-americanos na terça, Dominique Strauss-Kahn dissera que, a persistir a deterioração da situação econômica mundial, "até os bancos da América Latina vão carregar ativos tóxicos".
No dia seguinte, Mantega reclamou da frase. Ontem, após encontro com o francês, o brasileiro disse que ouviu do diretor-gerente que "houve um mal-entendido". Horas antes, em palestra na Câmara Americana de Comércio, o presidente do BC, Henrique Meirelles, havia batido na mesma tecla. "Os bancos brasileiros não têm nenhuma exposição a ativos podres ou a ativos alavancados dentro ou fora do Brasil."


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