São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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Goldman Sachs festejou ganho com crise

E-mail revela que executivos de banco processado nos EUA diziam estar fazendo "dinheiro grosso" com queda do mercado de hipotecas

FMI afirma que reforma bancária é prioridade e que negociações para liberar ajuda para a Grécia devem começar imediatamente

Mario Tama - 22.abr.10/France Presse
Lloyd Blankfein (Goldman Sachs) durante discurso de Obama

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Uma série de e-mails tornados públicos ontem pelo Congresso dos EUA revela que o banco Goldman Sachs comemorou a derrocada do mercado imobiliário nos EUA e chegou a ganhar US$ 51 milhões em um único dia apostando na piora da crise em 2007.
As mensagens, escritas por seus executivos, contrariam as alegações do banco segundo as quais a instituição perdeu dinheiro com a crise.
O Goldman está sendo processado pela SEC (a CVM americana) exatamente pela suspeita de que montou um fundo, chamado Abacus 2007, para apostar na queda dos preços dos imóveis nos EUA.
Com a participação de um outro fundo de investimentos, o Paulson, as operações teriam causado prejuízos de mais de US$ 1 bilhão a vários investidores, dentro e fora dos EUA.
Os e-mails apresentados pelo subcomitê de Investigações Financeiras do Congresso revelam que os executivos diziam estar fazendo "dinheiro grosso" ("serious money") com a derrocada do mercado.
O próprio presidente do Goldman, Lloyd Blankfein, escreveu: "É claro que não provocamos a crise. Até perdemos dinheiro, mas depois ganhamos mais do que perdemos".
Em outra mensagem, de meados de 2007, o chefe do departamento financeiro do Goldman, David Viniar, afirma que o banco ganhou US$ 51 milhões em um único dia apostando que o mercado de hipotecas iria derreter.
Na próxima terça, executivos do Goldman terão de ir ao Congresso para esclarecer o papel que tiveram na crise.
O chefe do comitê que revelou os e-mails, o senador democrata Carl Levin, fez um resumo da sua visão sobre o caso:
"Nossa investigação revela que bancos como o Goldman Sachs não estavam ajudando seus clientes. Eles tinham interesses próprios em operações arriscadas e complicadas que levaram à crise de 2008".
"Empacotaram "ativos tóxicos" e de valor duvidoso em instrumentos financeiros complexos, obtiveram selos AAA das agências de classificação de risco e os venderam a investidores, espalhando o risco pelo mercado financeiro."
"Em muitos casos", continua, "apostaram contra os mesmos produtos que vendiam a seus clientes, lucrando à custa das perdas deles."
A revelação ocorreu ao final de uma semana em que tanto o presidente dos EUA, Barack Obama, como os ministros das Finanças que fazem parte do G20 (grupo das maiores economias do mundo), reunidos no FMI (Fundo Monetário Internacional), pressionaram para que o projeto de apertar a regulamentação do sistema financeiro seja levado a cabo.

FMI e Grécia
Em entrevista ontem, o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, elencou a reforma dos bancos e a diminuição dos deficit fiscais e do endividamento dos países avançados como prioridades a serem perseguidas.
O elevado endividamento dos países mais desenvolvidos ganhou nova atenção após o pedido da Grécia, na sexta, para que a União Europeia e o FMI concedam empréstimo de ao menos US$ 60 bilhões a fim de evitar que o país seja obrigado a dar calote em seus credores.
À tarde, o Tesouro dos EUA soltou nota incitando o FMI a agir com rapidez. Já Strauss-Kahn disse que as negociações devem começar imediatamente e que detalhes do plano só devem ser divulgados após um acordo.
O FMI deve condicionar o empréstimo a medidas impopulares na Grécia, como corte de benefícios a futuros aposentados e liberalização do mercado de trabalho.
O ministro das Finanças da Grécia, George Papaconstantinou, também fez ontem uma romaria no FMI para encontrar vários colegas de outros países, inclusive Guido Mantega (Fazenda). O brasileiro disse que apoiará o socorro ao governo grego.


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