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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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ANTICORPOS

País precisa manter atual política macroeconômica para se proteger do contágio de um desaquecimento global

Fazenda procura vacina contra turbulência

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para proteger o Brasil de um maior contágio do desaquecimento econômico global o governo precisa manter "a atual linha macroeconômica" e "não tergiversar na aprovação das reformas" da Previdência e tributária, disse à Folha o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto.
"O importante é que nós criemos os anticorpos, é fortalecer o organismo diante dos riscos. A grande geração de anticorpos é uma boa resposta em política monetária e a aprovação das reformas [...] Essa é a grande vacina", afirmou.
Ele diz que a desvalorização do dólar em relação ao euro pode até beneficiar as exportações brasileiras, mas desde que a Europa não desabe. Leia a seguir a entrevista que Canuto concedeu à Folha no começo da semana passada.

Folha - Qual o efeito sobre a economia da desvalorização do dólar em relação às outras moedas?
Otaviano Canuto -
Há dois cenários. No primeiro, haveria desvalorização gradual e não muito intensa [do dólar]. Esse seria o cenário mais benigno, pois daria tempo aos agentes econômicos para se adaptar ao novo quadro. O outro cenário, pessimista e preocupante, poderá se dar caso o realinhamento cambial entre dólar, euro e iene ocorra de forma mais abrupta e profunda. Toda a vez em que há movimento [cambial] intenso você gera turbulência [no mercado financeiro].

Folha - O fortalecimento do euro em relação ao dólar não prejudicará a União Européia?
Canuto -
Pelo lado das exportações, sim. Mas isso [o enfraquecimento do dólar] abre uma janela para o afrouxamento da política monetária européia. Porque a valorização do euro derruba a inflação [os produtos importados ficam mais baratos no mercado doméstico europeu], o que permite a redução da taxa de juros. A economia européia seria reativada pelo lado interno, não externo.

Folha - Muitos analistas dizem que o Brasil pode ser beneficiado por conta da queda do dólar.
Canuto -
A valorização do euro aumenta a nossa competitividade na Europa, dado que nossa moeda flutua em torno do dólar [o real acompanha a depreciação do dólar em relação ao euro e às demais moedas fortes].

Folha - Esse é o lado positivo da desvalorização do dólar. E o lado negativo?
Canuto -
O Brasil tem sido destaque positivo entre os emergentes. Mas isso não impede que os fluxos e refluxos de dinheiro [o capital estrangeiro volátil que deixa os países a qualquer sinal de risco] para economias emergentes afete o Brasil.
O bom desempenho da economia brasileira serve como espécie de atenuante dessa tendência [de volatilidade dos capitais internacionais]. Mas é claro que, se a economia mundial desabar, aí ficamos todos iguais.

Folha - Vocês temem então uma retração no fluxo de capitais para mercados emergentes?
Canuto -
Isso depende muito da resposta da política monetária dos países desenvolvidos e também da aversão ao risco dos investidores estrangeiros. O importante é que nós criemos os anticorpos, é fortalecer o organismo diante dos riscos. A grande geração de anticorpos é uma boa resposta em política monetária e a aprovação das reformas.
É continuar mostrando que domesticamente estamos fazendo aquilo que é necessário para reforçar a saúde da economia. Essa é a grande vacina com a qual o país se prepara para enfrentar toda e qualquer turbulência.

Folha - Com que cenário a Fazenda trabalha para o desempenho da economia mundial?
Canuto -
Trabalhamos com perspectivas de acomodação do crescimento mundial num patamar mais baixo do que nos últimos anos, pelo menos neste ano.

Folha - Ainda assim a economia brasileira cresceria 3,5% no ano que vem, como prevê o governo?
Canuto -
Esse quadro de acomodação da economia mundial na margem, que não é um cenário catastrófico, já estava embutido nas nossas projeções quando avaliamos o crescimento da economia em 3,5% no ano que vem. Mas isso pressupõe que a economia européia não desabe. Se a economia européia desabar, as exportações americanas caem, e o retorno do crescimento econômico mundial fica mais difícil.

Folha - Diante de um fraco desempenho econômico mundial, os investimentos diretos na economia brasileira não cairiam ainda mais?
Canuto -
O investimento direto vai depender da nossa capacidade de crescimento sustentado. A cada dia em que o compromisso com o programa que nós nos propusemos fica mais sólido, mais um passo nós estamos dando na direção de fortalecer essas decisões [de investimento no país].
O segundo semestre deste ano será um período essencial. Os agentes econômicos terão os parâmetros para tomar as decisões sobre os investimentos que irão fazer no país.

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