São Paulo, Terça-feira, 25 de Maio de 1999
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BOLA DE CRISTAL
Robert Rubin, do Tesouro, nega conversação formal entre os países
Adoção do dólar na Argentina não é levada a sério pelos EUA

MARCIO AITH
de Washington

Nenhuma autoridade norte-americana vê como uma possibilidade séria a dolarização unilateral e imediata da economia argentina -processo por meio do qual o país adotaria o dólar como meio de circulação em vez de sua própria moeda sem negociar com o governo dos EUA.
A idéia ganhou destaque dentro da Argentina devido às pressões sofridas pela economia do país na última semana.
No plano externo, ela aumentou ainda mais a total contradição entre o que dizem as autoridades norte-americanas e argentinas sobre o assunto.
Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Robert Rubin, disse que não existe nenhuma negociação formal entre os dois países para dolarizar a economia argentina e que não há nenhuma razão para acreditar no fim do sistema atual no país, o "currency board".
Na sexta-feira, o ministro da Economia da Argentina, Roque Fernández, havia dito que existem conversas formais entre os dois países para planejar a dolarização do país e que o novo sistema poderia ser implantado já em 2001.
No domingo, o vice-ministro da Economia, Pablo Guidotti, afirmou que, se o país sofrer um ataque especulativo, poderia implantar a dolarização unilateralmente.
Segundo Guidotti, os EUA admitiram que a Argentina tem o poder de fazer isso. Mas ele se referia, na verdade, a declarações recentes um pouco diferentes.
A primeira autoridade norte-americana a dizer que, em tese, países podem dolarizar unilateralmente suas economias foi o presidente do Fed (o banco central norte-americano), Alan Greenspan.
Num depoimento ao Senado norte-americano no mês passado, Greenspan disse que, embora não precisem da autorização formal dos EUA para adotar a dolarização, os países interessados teriam necessariamente que consultar o governo norte-americano. "Afinal de contas, somos nós que emitimos o dólar", disse ele.
Greenspan disse ainda que não mexeria nas taxas de juros de seu país para aliviar crises em economias que trocarem sua moeda pelo dólar. Em suma, os EUA não seriam "paternalistas" com os países dolarizados.
Greenspan não foi detalhista em suas ressalvas e deixou de fora problemas práticos interessantes, como, por exemplo, a duração média de uma nota de US$ 10, calculada em um ano.
Naquela ocasião, Greenspan e o secretário-adjunto do Tesouro, Lawrence Summers, também listaram vantagens da medida -entre as quais promover estabilidade na região e reduzir os riscos de companhias norte-americanas que investem em países dolarizados.
No entanto, os riscos e condições que os dois apontaram foram inequivocamente maiores que as vantagens.


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