São Paulo, Terça-feira, 25 de Maio de 1999
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MERCADO TENSO
Recuo foi de 4,88%; os C-Bonds caíram e dólar voltou a subir em dia marcado pelo "efeito Argentina"
Bovespa tem maior queda desde janeiro

da Reportagem Local

A Bolsa de Valores de São Paulo registrou um recuo de 4,88% ontem, a maior queda desde 14 de janeiro (durante a crise cambial).
Os C-Bonds, títulos brasileiros mais comercializados no exterior, caíram 2,6%, fechando em 60,875% de seu valor de face.
O dólar voltou a subir, cotado a R$ 1,726 no comercial, para venda -alta de 1,53% em relação a sexta-feira.
O "efeito Argentina" continua sendo apresentado como o grande vilão. Para o economista-chefe do Lloyds Bank, Odair Abate, "a instabilidade argentina se reflete no Brasil com força porque o país é um mercado com grande liquidez. É aqui que se pode fazer dinheiro mais rapidamente".
O temor de que o peso (moeda local) seja desvalorizado e perca a paridade com o dólar (moeda norte-americana) estaria afugentando o investimento estrangeiro dos mercados emergentes. A Bolsa da Argentina caiu 2,69% ontem.
Aproveitando o momento, os investidores estariam "realizando lucro", ou seja, vendendo papéis que se valorizaram, para embolsar o lucro obtido. A Bovespa acumula alta de 64,4% em 1999.
Os investidores não temem uma grande queda da Bolsa no momento -ela ainda tem muita alta acumulada para queimar-, mas sim uma mudança na política monetária interna.
Com a crise na Argentina e desde a última reunião do Federal Reserve (o banco central dos EUA), neste mês, que possibilitou o aumento na taxa de juros internos do país, os estrangeiros têm fugido dos títulos de dívidas dos países emergentes para os T-Bonds.
Os T-Bonds são os títulos americanos de 30 anos, considerados os mais seguros do planeta.
Além da fuga, a mudança do Fed também fez a Bolsa de Nova York registrar repetidas quedas -com reflexos no Brasil. Ontem, ela recuou 1,61%.
Com a fuga, os C-Bonds, títulos brasileiros, já desvalorizaram 13,81% no mês. Quanto maior o deságio nesse papel, menor a credibilidade do país.
Para enfrentar a desconfiança de que o Brasil não será capaz de honrar seus compromissos, os compradores pedem um juro maior para o papel. Hoje, a rentabilidade dos C-Bonds é de cerca de 13% a14% ao ano.
Com juro maior, fica mais difícil para o Banco Central reduzir os juros de mercado no Brasil. Atualmente a taxa é de 23,5% ao ano. O mercado, antes da crise argentina, esperava uma redução para cerca de 21% até junho.
Agora o ambiente já é outro. No mercado futuro, os juros estão projetados em 23% para junho.
Ontem, circulou no mercado o boato de que o Copom (Comitê de Política Monetária) se reuniria para mudar o viés dos juros -de baixa para o de alta. O BC não confirmou o rumor.
Para Octávio de Barros, economista-chefe do Banco Bilbao Vizcaya, o país "não está em momento dramático".
Segundo ele, a pressão do dólar até o momento pode ser considerada normal. "O câmbio flutuante é para isso mesmo. Ele amortece crises externas", diz Barros.
(MARCELO DIEGO E VANESSA ADACHI)



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