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LUÍS NASSIF
Acertos de rumo
Nos últimos dias, críticas como as do ex-ministro Rubens
Ricupero e do atual ministro da
Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, chamaram
a atenção para a necessidade de
ajustes de rumo na condução de
aspectos relevantes da política
econômica.
Dois pontos merecem atenção. Da parte de Bresser, a crítica que se faz aos investimentos
estrangeiros diretos. Da parte
de Ricupero, a crítica à forma
como foi conduzida a privatização, sem a necessária democratização do capital, que permitiria gerar grandes empresas públicas democráticas no país.
Houve quem se escandalizasse com ambos, supondo ter adotado posição de fechamento da
economia, na completa contramão da história. O buraco é
mais embaixo.
Na primeira etapa do jogo,
FHC decidiu partir para o caminho mais rápido -provavelmente na suposição de que
qualquer refinamento no modelo de privatização retardaria
o processo, aumentando a resistência. Adotou-se como premissa a valorização máxima dos
ativos a serem vendidos, e pouca visão estratégica na forma de
vender.
Conseguiu-se preço mais alto.
Mas a contrapartida foram defeitos que precisam ser resolvidos no segundo tempo do jogo.
O primeiro deles foi a utilização de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
aos compradores. Como eram
financiamentos a juros internacionais (bem mais baixos do
que os juros internos), conseguia-se, com isso, um aumento
no preço nominal das estatais
vendidas. Mas à custa de um
desvirtuamento das próprias
funções do banco, e de desvio de
investimento que poderia ser
canalizado para aumento da
capacidade instalada da economia.
O segundo defeito relevante
foi a falta de análise sobre o balanço de pagamentos de cada
privatização em si. O país padece de problemas externos estruturais. Investimentos externos
que geram divisas são bem-vindos. Investimentos externos em
áreas "não-transacionáveis"
acirram os desequilíbrios. Os
dólares entram uma vez, depois
irão gerar um fluxo eterno de
remessa de dividendos. Esse fato terá que ser bem pesado, ainda mais agora que as privatizações irão se concentrar em infra-estrutura.
O terceiro bem é com relação
à concentração de capital nas
estatais privatizáveis. O resultado mais palpável foi uma política desequilibrada de distribuição de dividendos, a fim de
permitir aos controladores quitar seus compromissos com a
própria compra da empresa, e
um processo megalômano de
aquisição de concorrentes, a
fim de satisfazer o ego dos controladores -justamente pela
ausência de um equilíbrio
maior na composição do capital. Sem contar o grau de interferência do governo, com o propósito de acertar distorções do
modelo, que acabou gerando
desgaste político inútil.
Continuo insistindo em que a
utilização de estatais para quitar passivos sociais deveria ser
prioridade de governo. O presidente continua achando que a
prioridade maior deveria ser a
quitação de dívidas. Ora, os
passivos sociais são dívidas que,
mais cedo ou mais tarde, terão
de ser contabilizadas, quitadas
por meio de emissão de títulos.
Do ponto de vista contábil,
não há diferença entre a dívida
social e a dívida mobiliária. Do
ponto de vista político e econômico, as diferenças são abissais.
Vai se poder ter verdadeiras sociedades anônimas, com equilíbrio entre sócios garantindo a
continuidade de projetos de
longo prazo. E a reconciliação
política entre governo e país.
Soros e Argentina
Declarações de quem quer que
seja só desestabilizam economias quando elas já estão suficientemente vulneráveis para
ser desestabilizadas. É o caso
das declarações de George Soros
sobre a Argentina, alertando
para a valorização cambial.
Uma economia que não resiste
a uma declaração está no ponto
para ser desestabilizada.
O que se terá, daqui até as
eleições, será apenas esperneio,
até que mude o sistema cambial.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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