São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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LUÍS NASSIF

Aos excluídos, as filas

Há confusão na pressão que vem sendo feita contra o programa de inclusão digital do governo de São Paulo. Como esta coluna já divulgou, em dezembro passado, trata-se de um programa destinado a fornecer cartões flash aos usuários, a um custo inicial de R$ 80. De posse desses cartões, o usuário poderá acessar qualquer computador dos centros de inclusão digital. O cartão permitirá acessar a internet, utilitários em geral, e servirá para armazenar arquivos e dados pessoais do usuário, além de permitir o acesso a um sem-número de serviços públicos e privados.
Há dois argumentos contra o programa. O primeiro é que já existem sítios na internet que permitem armazenamento gratuito, logo os cartões seriam desnecessários. Equivale a dizer que a Lettera 120 permite redigir cartas, portanto o computador é uma frescura moderna.
Um cartão flash (ou do tipo) é para muito mais, assim como o computador é muito mais do que mera máquina de escrever. Dentro de uma política pública consequente, permitirá armazenar dados e também a cada titular ter acesso a todos os seus dados públicos, podendo se cadastrar em banco postal ou ser cliente da rede bancária, marcar consulta médica na rede pública, ter seu prontuário médico armazenado, seu cartão de saúde, de INSS, do FGTS.
O segundo argumento é que o cartão serviria para beneficiar os bancos, já que daria aos "excluídos digitais" acesso aos serviços bancários com menores custos. Uma medida não pode ser boa para o banco e para o cliente do banco? Quem achar o contrário que abra mão das facilidades da internet e volte a frequentar filas bancárias. O que não pode é sonegar esse direito ao "excluído digital", a pretexto de que o banco será beneficiado. Sem a inclusão digital, esse pessoal nem sequer teria acesso a qualquer serviço bancário.
Os avanços tecnológicos não podem ser tratados com temor reverencial, de que poderão resolver todos os problemas da humanidade. Mas também não se pode incorrer nesse anacronismo de considerar perniciosa toda forma de avanço tecnológico. Senão vai se chegar à posição de alguns filósofos da idade da pedra, para quem programas de qualidade significam a última forma de exploração do homem pelo homem, por extrair mais valor agregado por empregado. Uma lógica que transformaria analistas de sistema em explorados e trabalhadores de mina de carvão em privilegiados.
A discussão relevante não é essa. É saber se existe alternativa tecnologicamente mais eficiente, avançada e com menor custo que o flash card.

Falta de Sensus
O PFL estava querendo desbancar José Serra. Contra todas as demais pesquisas, pesquisa CNT-Sensus dava Serra lá embaixo, com 13%, e Garotinho lá em cima. O presidente da CNT é do PFL. Agora se pacificam as relações entre os partidos e todos os institutos indicando Serra na faixa de 20%. E a pesquisa Sensus chega lá. Pode ser apenas erro metodológico. Mas que cheira conta de chegada cheira.

Armínio e a crise
Alguns meses atrás, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, incorreu em alguns escorregões ideológicos, fazendo coro a alguns xiitas da PUC-Rio em patrulhamentos superficiais, que não estavam à sua altura. Corrigiu-se a tempo. Sua entrevista ao "Roda Viva" de ontem mostrou uma pessoa compreensivelmente cansada, com menos energia do que se esperaria de um presidente do Banco Central nesse tiroteio. Mas um brasileiro que assumiu definitivamente seu papel de referência futura, seja qual for o presidente da República que vier por aí.
De todo modo, se vai ao exterior aplacar a ansiedade dos investidores, terá que ser mais político e menos intelectual, exibir mais as convicções do gestor do que as indagações do intelectual. É claro que o BC não resolve tudo, que a volatilidade não irá desaparecer como num passe de mágica. Mas deixe esse discurso para teses acadêmicas. Para tratar com a manada, há que ter fé cega e faca amolada.
E-mail - lnassif@uol.com.br



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