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LUÍS NASSIF
Aos excluídos, as filas
Há confusão na pressão que vem sendo feita contra o programa de inclusão digital do governo de São Paulo.
Como esta coluna já divulgou,
em dezembro passado, trata-se
de um programa destinado a
fornecer cartões flash aos
usuários, a um custo inicial de
R$ 80. De posse desses cartões,
o usuário poderá acessar qualquer computador dos centros
de inclusão digital. O cartão
permitirá acessar a internet,
utilitários em geral, e servirá
para armazenar arquivos e
dados pessoais do usuário,
além de permitir o acesso a um
sem-número de serviços públicos e privados.
Há dois argumentos contra o
programa. O primeiro é que já
existem sítios na internet que
permitem armazenamento
gratuito, logo os cartões seriam
desnecessários. Equivale a dizer que a Lettera 120 permite
redigir cartas, portanto o computador é uma frescura moderna.
Um cartão flash (ou do tipo)
é para muito mais, assim como
o computador é muito mais do
que mera máquina de escrever. Dentro de uma política
pública consequente, permitirá armazenar dados e também
a cada titular ter acesso a todos os seus dados públicos, podendo se cadastrar em banco
postal ou ser cliente da rede
bancária, marcar consulta médica na rede pública, ter seu
prontuário médico armazenado, seu cartão de saúde, de
INSS, do FGTS.
O segundo argumento é que
o cartão serviria para beneficiar os bancos, já que daria aos
"excluídos digitais" acesso aos
serviços bancários com menores custos. Uma medida não
pode ser boa para o banco e
para o cliente do banco? Quem
achar o contrário que abra
mão das facilidades da internet e volte a frequentar filas
bancárias. O que não pode é
sonegar esse direito ao "excluído digital", a pretexto de que o
banco será beneficiado. Sem a
inclusão digital, esse pessoal
nem sequer teria acesso a qualquer serviço bancário.
Os avanços tecnológicos não
podem ser tratados com temor
reverencial, de que poderão resolver todos os problemas da
humanidade. Mas também
não se pode incorrer nesse
anacronismo de considerar
perniciosa toda forma de
avanço tecnológico. Senão vai
se chegar à posição de alguns
filósofos da idade da pedra,
para quem programas de qualidade significam a última forma de exploração do homem
pelo homem, por extrair mais
valor agregado por empregado. Uma lógica que transformaria analistas de sistema em
explorados e trabalhadores de
mina de carvão em privilegiados.
A discussão relevante não é
essa. É saber se existe alternativa tecnologicamente mais eficiente, avançada e com menor custo que o flash card.
Falta de Sensus
O PFL estava querendo desbancar José Serra. Contra todas
as demais pesquisas, pesquisa
CNT-Sensus dava Serra lá embaixo, com 13%, e Garotinho lá
em cima. O presidente da CNT
é do PFL. Agora se pacificam as
relações entre os partidos e todos os institutos indicando Serra na faixa de 20%. E a pesquisa Sensus chega lá. Pode ser
apenas erro metodológico. Mas
que cheira conta de chegada
cheira.
Armínio e a crise
Alguns meses atrás, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, incorreu em alguns escorregões ideológicos, fazendo coro a alguns xiitas da PUC-Rio em patrulhamentos superficiais, que não estavam à sua
altura. Corrigiu-se a tempo.
Sua entrevista ao "Roda Viva"
de ontem mostrou uma pessoa
compreensivelmente cansada,
com menos energia do que se
esperaria de um presidente do
Banco Central nesse tiroteio.
Mas um brasileiro que assumiu
definitivamente seu papel de
referência futura, seja qual for o
presidente da República que
vier por aí.
De todo modo, se vai ao exterior aplacar a ansiedade dos investidores, terá que ser mais político e menos intelectual, exibir mais as convicções do gestor do que as indagações do intelectual. É claro que o BC não resolve tudo, que a volatilidade não irá desaparecer como num passe de mágica. Mas deixe esse discurso para teses acadêmicas. Para tratar com a manada, há que ter fé cega e faca amolada.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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