São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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CRISE NA AMÉRICA LATINA

BC vende US$ 116 mi para tentar segurar a alta da moeda; Lavagna viaja hoje a Washington

Dólar atinge 2º maior valor na Argentina

France Presse
Mulher argentina carrega um crucifixo em manifestação contra o curralzinho, em Buenos Aires


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O temor de que a turbulência econômica enfrentada pela América Latina complique ainda mais a situação argentina fez o dólar atingir a segunda maior cotação desde o fim do regime de conversibilidade, em janeiro deste ano.
A moeda norte-americana subiu 2,9% e foi vendida a 3,85 pesos nas casas de câmbio de Buenos Aires. O valor ficou muito próximo ao recorde registrado no dia 25 de março, quando o dólar chegou a 3,90 pesos. Em algumas casas de câmbio do interior argentino, a moeda bateu esse recorde e foi vendida a 4 pesos.
O Banco Central tentou evitar a valorização do dólar com o venda de US$ 116 milhões aos bancos e casas de câmbio, um volume muito mais alto do que a média diária registrada nas últimas duas semanas.
O presidente demissionário do Banco Central, Mario Blejer, também tentou acalmar o mercado ao afirmar ao jornal "Buenos Aires Económico" que o dólar não deverá ultrapassar a cotação de 3,90 pesos neste ano.
Mesmo assim, a demanda superou os esforços do Banco Central porque, além da crise latino-americana, que pode agravar a recessão na Argentina, a população e os bancos também não acreditam que o país será capaz de fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em breve.
Segundo relatório da Fundação Capital, o dólar chegará próximo ao valor de 5 pesos se não houver acordo em 30 dias. A consultoria lembrou que o país tem de pagar aos organismos internacionais de crédito dívidas de US$ 1,7 bilhão em 15 de julho. Sem acordo, tanto o calote como a utilização das reservas para honrar esses compromissos só trariam mais nervosismo.
A expectativa da população e dos banqueiros também piorou devido à renúncia de Blejer na última sexta-feira. O ex-presidente do BC havia trabalhado quase 30 anos para o FMI e era considerado o homem de confiança do organismo dentro do governo argentino.

Intervenção
Para complicar ainda mais a situação, o ministro Roberto Lavagna (Economia) disse ontem que vai insistir com a diretoria do FMI que o país deve intervir no mercado de câmbio para conter a inflação.
O Fundo não concorda com a utilização das reservas internacionais, que estão hoje em cerca de US$ 9,8 bilhões, para baixar a cotação do dólar.
Para o FMI, o governo deveria fechar um acordo com a Corte Suprema para frear a fuga judicial dos recursos presos nos bancos pelo curralzinho, o que eliminaria naturalmente as pressões sobre a moeda dos EUA.
Sem um discurso afinado com o organismo, Lavagna viaja hoje a Washington apenas com um pacote de promessas para apresentar aos dirigentes do FMI e do Tesouro dos EUA. Segundo o ministro, o socorro internacional possibilitaria que o país começasse a negociar um reajuste de tarifas públicas e também ajudaria na reabertura das conversações com os credores para a retomada do pagamento da dívida externa.
Além disso, Lavagna leva a Washington o discurso de que a falta de ajuda à Argentina prejudicaria os próprios países ricos com investimentos na América Latina.
Segundo o porta-voz da Presidência, Eduardo Amadeo, o Tesouro dos EUA deveria ajudar a Argentina para favorecer "não apenas os interesses dos países da região mas também os interesses de seus próprios investidores".



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