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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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CORREÇÃO DE RUMO

CMN autoriza BC a perseguir taxa de 5,5% com variação de 2,5 pontos percentuais para cima e para baixo

Governo mira juro e ajusta meta de inflação

LEONARDO SOUZA
SÍLVIA MUGNATTO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao ajustar ontem a meta de inflação para 2004, o governo manteve o alvo de inflação a ser perseguido pelo Banco Central no próximo ano, mas deu mais espaço ao BC para cortar os juros básicos da economia ou para tolerar maior aumento de preços.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) tornou definitiva a meta ajustada de 5,5% para o ano que vem, mas reintroduziu margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais, o que significa que a inflação de 2004 poderá chegar a 8% sem que a meta seja descumprida. Também foi fixada em 4,5% a meta de inflação para 2005, com o mesmo intervalo de tolerância fixado para o próximo ano: 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que anunciou as novas metas na véspera de o governo divulgar um pacote de estímulo ao microcrédito, disse que não houve mudança em relação à meta de 2004, mas sim a confirmação de um alvo com o qual o BC já trabalhava e para o qual as expectativas do mercado financeiro convergem.
"Os agentes [econômicos] já percebem a meta ajustada de 5,5% como o objetivo de política monetária em 2004", disse Palocci. Ele negou que a margem de tolerância tenha sido reintroduzida para a meta do ano que vem para permitir que o Banco Central possa cortar mais rapidamente os juros. Alegou que o intervalo serve para acomodar choques que a economia venha a sofrer.

Alvo
Ou seja, segundo a explicação de Palocci, o Banco Central continua a perseguir os 5,5% de alvo, mas, se houver alguma crise na economia que provoque aumentos de preços mais altos do que o esperado, a instituição não apertaria demasiadamente a política monetária para cumprir a meta central (5,5%), mas trabalharia com o limite da margem de tolerância (8%).
"A experiência dos últimos anos demonstrou que a economia brasileira está sujeito a choques. Dependendo da magnitude e da persistência desses choques, podem ocorrer desvios da inflação em relação às metas. Para acomodar esses choques, é necessário o estabelecimento de bandas ao redor da meta", informa trecho lido por Palocci do documento com a justificativa para a mudança.
As metas iniciais para 2003 e 2004 eram, respectivamente, de 4% e de 3,75%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais nos dois casos. Diante da forte pressão inflacionária herdada do ano passado, em janeiro o CMN resolveu adotar o conceito de meta ajustada, elevando as metas para 8,5% (2003) e 5,5% (2004), mas sem intervalo de tolerância.
O ministro negou também que a nova alteração possa afetar a credibilidade do BC na condução do sistema de metas inflacionárias. Entre outros argumentos, disse que essa é uma meta factível para o BC cumprir, levando-se em consideração os planos do governo de crescimento econômico sustentável do país -3,5% em 2004.

Custo
Segundo Palocci, o estabelecimento de meta significativamente menor poderia representar custo excessivo para o crescimento da economia. Isto é, para cumpri-la, o BC poderia precisar manter os juros elevados, o que sacrificaria a atividade econômica.
Se a meta fosse muito superior ao alvo atual, poderia haver uma deterioração das expectativas dos agentes de mercado, que passariam a acreditar que o Banco Central seria mais tolerante a níveis mais altos de inflação, afirmou o ministro.
"Os agentes revisariam rapidamente as suas expectativas de inflação para cima. A consolidação da inflação em patamar elevado incentivaria os mecanismos de reindexação na economia e levaria a um aumento da persistência da inflação", diz o documento.

"Meta ambiciosa"
A meta ajustada de 2003 foi mantida em 8,5%. Palocci reconheceu, no entanto, que a meta é "ambiciosa", apesar de ter dito que o BC continuaria a persegui-la. Até maio, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no ano está em 6,8%.
Palocci afirmou que o mais importante é a trajetória da inflação e que as metas são pontos dessa trajetória. Segundo ele, as expectativas estão convergindo "rapidamente" para as metas.
Outro ponto importante mencionado pelo ministro é o alvo de inflação perseguido pelo BC a médio prazo, de 4%. Palocci disse que essa não necessariamente será a meta de 2006, mas que manter a inflação nesse nível será o objetivo do BC durante o governo Lula. Segundo ele, 4% está próximo da média de inflação perseguida pelas economias emergentes, de 3,8%.


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