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CORREÇÃO DE RUMO
CMN autoriza BC a perseguir taxa de 5,5% com variação de 2,5 pontos percentuais para cima e para baixo
Governo mira juro e ajusta meta de inflação
LEONARDO SOUZA
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao ajustar ontem a meta de inflação para 2004, o governo manteve o alvo de inflação a ser perseguido pelo Banco Central no próximo ano, mas deu mais espaço
ao BC para cortar os juros básicos
da economia ou para tolerar
maior aumento de preços.
O CMN (Conselho Monetário
Nacional) tornou definitiva a meta ajustada de 5,5% para o ano
que vem, mas reintroduziu margem de tolerância de 2,5 pontos
percentuais, o que significa que a
inflação de 2004 poderá chegar a
8% sem que a meta seja descumprida. Também foi fixada em
4,5% a meta de inflação para 2005,
com o mesmo intervalo de tolerância fixado para o próximo ano:
2,5 pontos percentuais para cima
ou para baixo.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que anunciou as
novas metas na véspera de o governo divulgar um pacote de estímulo ao microcrédito, disse que
não houve mudança em relação à
meta de 2004, mas sim a confirmação de um alvo com o qual o
BC já trabalhava e para o qual as
expectativas do mercado financeiro convergem.
"Os agentes [econômicos] já
percebem a meta ajustada de
5,5% como o objetivo de política
monetária em 2004", disse Palocci. Ele negou que a margem de tolerância tenha sido reintroduzida
para a meta do ano que vem para
permitir que o Banco Central possa cortar mais rapidamente os juros. Alegou que o intervalo serve
para acomodar choques que a
economia venha a sofrer.
Alvo
Ou seja, segundo a explicação
de Palocci, o Banco Central continua a perseguir os 5,5% de alvo,
mas, se houver alguma crise na
economia que provoque aumentos de preços mais altos do que o
esperado, a instituição não apertaria demasiadamente a política
monetária para cumprir a meta
central (5,5%), mas trabalharia
com o limite da margem de tolerância (8%).
"A experiência dos últimos anos
demonstrou que a economia brasileira está sujeito a choques. Dependendo da magnitude e da persistência desses choques, podem
ocorrer desvios da inflação em relação às metas. Para acomodar esses choques, é necessário o estabelecimento de bandas ao redor
da meta", informa trecho lido por
Palocci do documento com a justificativa para a mudança.
As metas iniciais para 2003 e
2004 eram, respectivamente, de
4% e de 3,75%, com margem de
tolerância de 2,5 pontos percentuais nos dois casos. Diante da
forte pressão inflacionária herdada do ano passado, em janeiro o
CMN resolveu adotar o conceito
de meta ajustada, elevando as metas para 8,5% (2003) e 5,5%
(2004), mas sem intervalo de tolerância.
O ministro negou também que
a nova alteração possa afetar a
credibilidade do BC na condução
do sistema de metas inflacionárias. Entre outros argumentos,
disse que essa é uma meta factível
para o BC cumprir, levando-se
em consideração os planos do governo de crescimento econômico
sustentável do país -3,5% em
2004.
Custo
Segundo Palocci, o estabelecimento de meta significativamente
menor poderia representar custo
excessivo para o crescimento da
economia. Isto é, para cumpri-la,
o BC poderia precisar manter os
juros elevados, o que sacrificaria a
atividade econômica.
Se a meta fosse muito superior
ao alvo atual, poderia haver uma
deterioração das expectativas dos
agentes de mercado, que passariam a acreditar que o Banco Central seria mais tolerante a níveis
mais altos de inflação, afirmou o
ministro.
"Os agentes revisariam rapidamente as suas expectativas de inflação para cima. A consolidação
da inflação em patamar elevado
incentivaria os mecanismos de
reindexação na economia e levaria a um aumento da persistência
da inflação", diz o documento.
"Meta ambiciosa"
A meta ajustada de 2003 foi
mantida em 8,5%. Palocci reconheceu, no entanto, que a meta é
"ambiciosa", apesar de ter dito
que o BC continuaria a persegui-la. Até maio, a inflação medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) no ano está
em 6,8%.
Palocci afirmou que o mais importante é a trajetória da inflação
e que as metas são pontos dessa
trajetória. Segundo ele, as expectativas estão convergindo "rapidamente" para as metas.
Outro ponto importante mencionado pelo ministro é o alvo de
inflação perseguido pelo BC a médio prazo, de 4%. Palocci disse
que essa não necessariamente será a meta de 2006, mas que manter a inflação nesse nível será o objetivo do BC durante o governo
Lula. Segundo ele, 4% está próximo da média de inflação perseguida pelas economias emergentes, de 3,8%.
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