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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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Mercado já espera queda maior da taxa de juros

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A forte queda da inflação na primeira quinzena deste mês, que ficou bem abaixo das previsões dos especialistas, já leva até o conservador mercado financeiro a esperar uma redução mais vigorosa das taxas de juros. Economistas estão revisando para baixo suas previsões para o IPCA deste mês. As novas estimativas oscilam de 0,18% a 0%.
"Acho que já há espaço para um corte de um a dois pontos percentuais na taxa de juros em julho. Se isso não ocorrer, o processo de "desinflação" poderá se tornar mais rápido do que é preciso, o que prejudicaria desnecessariamente o crescimento", afirma Alexandre Maia, economista da Gap Asset Management.
Maia reduziu sua projeção do IPCA para junho de 0,22% para 0,16%, que, segundo ele, ainda pode ser conservadora.
O banco Boreal -instituição que, segundo o próprio Banco Central, melhor tem estimado as tendências de preços no país- já trabalha com a previsão de IPCA de 0% para junho. Mas, para Elson Teles, economista-chefe do banco, isso não significa que o país esteja próximo da deflação.
"A deflação ocorre quando há uma queda forte e generalizada de preços. Mas o desempenho do IPCA em junho está sendo influenciado pela grande queda nos preços dos combustíveis", diz Teles.
A visão é compartilhada por Joel Bogdanski, gerente de política monetária do banco Itaú. Segundo ele, descontados os reajustes nos preços da gasolina e do álcool, pode-se dizer que a inflação ao consumidor mensal está oscilando em torno de 0,5%.
Bogdanski também acredita que já haja espaço para um corte de um a dois pontos percentuais na taxa Selic, atualmente em 26% ao ano, no próximo mês.

Mudança da meta
Com a recente tendência de queda dos preços, o cumprimento da meta de inflação de 5,5% em 2004 é considerado mais factível a cada dia.
Até ontem -embora o BC já trabalhasse com um alvo de inflação de 5,5% no próximo ano- a meta formal do Conselho Monetário Nacional ainda era 3,75%. Mas, como era esperado pelo mercado, o CMN decidiu transformar os 5,5% na meta formal de 2004.

Divergência
O único aspecto da mudança que preocupa o mercado foi, por outro lado, motivo de comemoração entre políticos. Trata-se da manutenção de um intervalo possível de variação de 2,5 pontos percentuais para a meta. O que, na prática, significa que a inflação poderá oscilar de 3% a 8% sem que a meta seja descumprida.
Para o mercado, é fundamental que o BC mostre que não será leniente com a política monetária e que trabalhará, de fato, para que o IPCA fique em 5,5% em 2004.
Já para políticos, tanto os da oposição como os do governo, a expansão da meta de 2004 para até 8% facilitará a retomada do crescimento econômico.
"As metas são compatíveis com o esforço do governo em controlar a inflação e criar um ambiente favorável à retomada dos investimentos e do crescimento da economia", afirmou o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Casa.
Para ele, as metas divulgadas "estão de acordo com as possibilidades atuais do país".
Outro que elogiou a medida foi o tucano Alberto Goldman (SP), vice-líder da bancada do partido na Câmara: "É um passo positivo porque representa o afrouxamento da política monetária que, na minha opinião, já deveria ter ocorrido antes".
Para o líder da bancada do PFL na Casa, José Carlos Aleluia (BA), o aumento da meta é positivo porque "os custos sociais de metas inatingíveis estão afetando todo o país".


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