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Mercado já espera queda maior da taxa de juros
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A forte queda da inflação na primeira quinzena deste mês, que ficou bem abaixo das previsões dos
especialistas, já leva até o conservador mercado financeiro a esperar uma redução mais vigorosa
das taxas de juros. Economistas
estão revisando para baixo suas
previsões para o IPCA deste mês.
As novas estimativas oscilam de
0,18% a 0%.
"Acho que já há espaço para um
corte de um a dois pontos percentuais na taxa de juros em julho. Se
isso não ocorrer, o processo de
"desinflação" poderá se tornar
mais rápido do que é preciso, o
que prejudicaria desnecessariamente o crescimento", afirma
Alexandre Maia, economista da
Gap Asset Management.
Maia reduziu sua projeção do
IPCA para junho de 0,22% para
0,16%, que, segundo ele, ainda
pode ser conservadora.
O banco Boreal -instituição
que, segundo o próprio Banco
Central, melhor tem estimado as
tendências de preços no país- já
trabalha com a previsão de IPCA
de 0% para junho. Mas, para Elson Teles, economista-chefe do
banco, isso não significa que o
país esteja próximo da deflação.
"A deflação ocorre quando há
uma queda forte e generalizada de
preços. Mas o desempenho do IPCA em junho está sendo influenciado pela grande queda nos preços dos combustíveis", diz Teles.
A visão é compartilhada por
Joel Bogdanski, gerente de política monetária do banco Itaú. Segundo ele, descontados os reajustes nos preços da gasolina e do álcool, pode-se dizer que a inflação
ao consumidor mensal está oscilando em torno de 0,5%.
Bogdanski também acredita
que já haja espaço para um corte
de um a dois pontos percentuais
na taxa Selic, atualmente em 26%
ao ano, no próximo mês.
Mudança da meta
Com a recente tendência de
queda dos preços, o cumprimento da meta de inflação de 5,5% em
2004 é considerado mais factível a
cada dia.
Até ontem -embora o BC já
trabalhasse com um alvo de inflação de 5,5% no próximo ano- a
meta formal do Conselho Monetário Nacional ainda era 3,75%.
Mas, como era esperado pelo
mercado, o CMN decidiu transformar os 5,5% na meta formal de
2004.
Divergência
O único aspecto da mudança
que preocupa o mercado foi, por
outro lado, motivo de comemoração entre políticos. Trata-se da
manutenção de um intervalo possível de variação de 2,5 pontos
percentuais para a meta. O que,
na prática, significa que a inflação
poderá oscilar de 3% a 8% sem
que a meta seja descumprida.
Para o mercado, é fundamental
que o BC mostre que não será leniente com a política monetária e
que trabalhará, de fato, para que o
IPCA fique em 5,5% em 2004.
Já para políticos, tanto os da
oposição como os do governo, a
expansão da meta de 2004 para
até 8% facilitará a retomada do
crescimento econômico.
"As metas são compatíveis com
o esforço do governo em controlar a inflação e criar um ambiente
favorável à retomada dos investimentos e do crescimento da economia", afirmou o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do
governo na Casa.
Para ele, as metas divulgadas
"estão de acordo com as possibilidades atuais do país".
Outro que elogiou a medida foi
o tucano Alberto Goldman (SP),
vice-líder da bancada do partido
na Câmara: "É um passo positivo
porque representa o afrouxamento da política monetária que, na
minha opinião, já deveria ter
ocorrido antes".
Para o líder da bancada do PFL
na Casa, José Carlos Aleluia (BA),
o aumento da meta é positivo
porque "os custos sociais de metas inatingíveis estão afetando todo o país".
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