São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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NEGOCIAÇÃO

Categorias com data-base no segundo semestre querem antecipar campanhas para aproveitar "bom momento"

Trabalhador quer "sinal de retomada" no bolso

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os trabalhadores querem colocar no bolso -em forma de aumento real- os sinais de retomada da economia revelados por indicadores da indústria e do comércio neste semestre.
Para isso, categorias profissionais com data-base no segundo semestre querem antecipar -ou já iniciaram- as negociações com os empresários na busca de reajustes que não só reponham a inflação, mas também tragam ganho real aos salários.
Bancários, químicos e metalúrgicos (CUT) e comerciários (Força Sindical) são exemplos de algumas categorias com data-base no segundo semestre -respectivamente em setembro, outubro, novembro e dezembro- que ou estão à mesa de negociação ou estão preparando suas pautas para entregar ao setor patronal.
"Quando a economia está desaquecida, os trabalhadores pagam "o pato". Quando há sinais de retomada, queremos que os empregados participem disso", disse Antonio Carrara, coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros). "Se a economia vai bem, a Petrobras aumenta as vendas, o que permite a concessão de aumento real." Nos cálculos do sindicalista, esse ganho deve ser, no mínimo, de dois pontos percentuais acima da inflação.
Os petroleiros pedem participação nos lucros -a Petrobras anunciou lucro recorde de R$ 17,8 bilhões em 2003-, plano de cargos e salários e aumento real.
Os 430 mil comerciários de São Paulo querem antecipar a data-base da categoria -de dezembro para setembro- para incluir nos salários a recuperação das vendas já concentrada em alguns setores.
Segundo a Fecomercio SP,o faturamento real do comércio varejista na região metropolitana de São Paulo cresceu 6,70% em abril deste ano em relação ao mesmo período de 2003. O setor prevê aumento de 3% a 4% no faturamento neste ano em relação a 2003.
"Além da possibilidade de expansão da economia, o frio aqueceu as vendas. Aproveitar este momento é importante, porque não se sabe ainda se a retomada do crescimento é sólida", afirmou Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de São Paulo. "Se for uma bolha, perdemos a oportunidade de negociar aumento real."
Os comerciários iniciaram em abril a discussão de algumas de suas reivindicações. "Pagar lucros aos empregados motiva a produtividade, além de ter impacto na massa salarial", afirma Patah.
Para os bancários -que tiveram na terça-feira a primeira rodada de negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos)-, o setor financeiro tem condições não só de pagar aumento real, mas de criar empregos. "Os bancos batem recordes de lucros semestre após semestre, o que nos permite cobrar a criação de empregos e a distribuição dessa renda, com a concessão de aumento real para os trabalhadores", diz Vagner Freitas, presidente de CNB-CUT (Confederação Nacional dos Bancários), que representa 400 mil funcionários no país. Nos cálculos da entidade, a ampliação do horário bancário das 9h às 17h pode criar até 160 mil funcionários.
Entre as reivindicações econômicas, os bancários pedem em suas negociações reajuste de 25% nos salários, além de participação nos lucros de um salário nominal mais R$ 1.200.
No primeiro trimestre deste ano, o lucro somado dos quatro maiores bancos do país foi de R$ 2,38 bilhões -24% mais do que igual período de 2003-, segundo estudo da ABM Consulting.
Para o coordenador de negociações trabalhistas da Fenaban, Magnus Apostólico, os bancos vêm ano a ano dividendo seus lucros. "No ano passado, R$ 1,5 bilhão de lucros foi pago aos empregados." Em relação ao pedido de 25% de reajuste, disse que é algo "impensável".
Já os metalúrgicos da CUT e da Força Sindical têm posições contrárias em relação à antecipação das negociações. Enquanto a CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos, da CUT) quer discutir já o repasse dos ganhos do setor para os trabalhadores, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força) defende a idéia de fazer a negociação em novembro, quando acredita que a economia vá estar ainda melhor.
No ano passado, os metalúrgicos da CUT conseguiram antecipar a data-base nas montadoras de novembro para outubro. Neste ano, está previsto que a data-base mude para setembro. Na próxima semana, eles devem definir sua pauta de reivindicação. "O bom desempenho dos setores automobilístico, de máquinas agrícolas e siderúrgico devem fazer com que reivindiquemos entre 5% e 6% de aumento real", diz Fernando Lopes, presidente da CNM-CUT.
Em maio, as vendas de carros, por exemplo, cresceram 6,6% em relação a abril. Na comparação com maio do ano passado, houve aumento de 15,2% nas vendas.
Na avaliação da Força Sindical, o que pode fazer com que algumas categorias antecipem suas negociações salariais é o processo eleitoral. Nesse caso, os sindicatos estariam mais preocupados com o cenário político do que com o econômico -que afeta de fato as categorias que representam.
"Quem negociou em maio já conseguiu resultados melhores do que quem fez acordo em abril ou março. Isso mostra que a economia começou a melhorar de fato a partir de maio", diz João Carlos Gonçalves, que assumiu o cargo de presidente da Força no lugar de Paulo Pereira da Silva, licenciado para concorrer à eleição municipal. "Nossa orientação é manter as campanhas em outubro ou novembro."
Para o diretor do Departamento de Integração Social da Fiesp, Pedro Evangelinos, os trabalhadores de setores ligados a exportação e agronegócios -cerca de 15%- devem ter reajustes melhores. "Os 85% que trabalham em setores que dependem exclusivamente do mercado interno devem ter um 2004 mais triste".


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