|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NEGOCIAÇÃO
Categorias com data-base no segundo semestre querem antecipar campanhas para aproveitar "bom momento"
Trabalhador quer "sinal de retomada" no bolso
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhadores querem colocar no bolso -em forma de aumento real- os sinais de retomada da economia revelados por indicadores da indústria e do comércio neste semestre.
Para isso, categorias profissionais com data-base no segundo
semestre querem antecipar -ou
já iniciaram- as negociações
com os empresários na busca de
reajustes que não só reponham a
inflação, mas também tragam ganho real aos salários.
Bancários, químicos e metalúrgicos (CUT) e comerciários (Força Sindical) são exemplos de algumas categorias com data-base no
segundo semestre -respectivamente em setembro, outubro, novembro e dezembro- que ou estão à mesa de negociação ou estão
preparando suas pautas para entregar ao setor patronal.
"Quando a economia está desaquecida, os trabalhadores pagam
"o pato". Quando há sinais de retomada, queremos que os empregados participem disso", disse Antonio Carrara, coordenador da
FUP (Federação Única dos Petroleiros). "Se a economia vai bem, a
Petrobras aumenta as vendas, o
que permite a concessão de aumento real." Nos cálculos do sindicalista, esse ganho deve ser, no
mínimo, de dois pontos percentuais acima da inflação.
Os petroleiros pedem participação nos lucros -a Petrobras
anunciou lucro recorde de R$ 17,8
bilhões em 2003-, plano de cargos e salários e aumento real.
Os 430 mil comerciários de São
Paulo querem antecipar a data-base da categoria -de dezembro
para setembro- para incluir nos
salários a recuperação das vendas
já concentrada em alguns setores.
Segundo a Fecomercio SP,o faturamento real do comércio varejista na região metropolitana de
São Paulo cresceu 6,70% em abril
deste ano em relação ao mesmo
período de 2003. O setor prevê aumento de 3% a 4% no faturamento neste ano em relação a 2003.
"Além da possibilidade de expansão da economia, o frio aqueceu as vendas. Aproveitar este
momento é importante, porque
não se sabe ainda se a retomada
do crescimento é sólida", afirmou
Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de São Paulo. "Se for uma
bolha, perdemos a oportunidade
de negociar aumento real."
Os comerciários iniciaram em
abril a discussão de algumas de
suas reivindicações. "Pagar lucros
aos empregados motiva a produtividade, além de ter impacto na
massa salarial", afirma Patah.
Para os bancários -que tiveram na terça-feira a primeira rodada de negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos
Bancos)-, o setor financeiro tem
condições não só de pagar aumento real, mas de criar empregos. "Os bancos batem recordes
de lucros semestre após semestre,
o que nos permite cobrar a criação de empregos e a distribuição
dessa renda, com a concessão de
aumento real para os trabalhadores", diz Vagner Freitas, presidente de CNB-CUT (Confederação
Nacional dos Bancários), que representa 400 mil funcionários no
país. Nos cálculos da entidade, a
ampliação do horário bancário
das 9h às 17h pode criar até 160
mil funcionários.
Entre as reivindicações econômicas, os bancários pedem em
suas negociações reajuste de 25%
nos salários, além de participação
nos lucros de um salário nominal
mais R$ 1.200.
No primeiro trimestre deste
ano, o lucro somado dos quatro
maiores bancos do país foi de R$
2,38 bilhões -24% mais do que
igual período de 2003-, segundo
estudo da ABM Consulting.
Para o coordenador de negociações trabalhistas da Fenaban,
Magnus Apostólico, os bancos
vêm ano a ano dividendo seus lucros. "No ano passado, R$ 1,5 bilhão de lucros foi pago aos empregados." Em relação ao pedido de
25% de reajuste, disse que é algo
"impensável".
Já os metalúrgicos da CUT e da
Força Sindical têm posições contrárias em relação à antecipação
das negociações. Enquanto a
CNM (Confederação Nacional
dos Metalúrgicos, da CUT) quer
discutir já o repasse dos ganhos
do setor para os trabalhadores, o
Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo (Força) defende a idéia
de fazer a negociação em novembro, quando acredita que a economia vá estar ainda melhor.
No ano passado, os metalúrgicos da CUT conseguiram antecipar a data-base nas montadoras
de novembro para outubro. Neste
ano, está previsto que a data-base
mude para setembro. Na próxima
semana, eles devem definir sua
pauta de reivindicação. "O bom
desempenho dos setores automobilístico, de máquinas agrícolas e
siderúrgico devem fazer com que
reivindiquemos entre 5% e 6% de
aumento real", diz Fernando Lopes, presidente da CNM-CUT.
Em maio, as vendas de carros,
por exemplo, cresceram 6,6% em
relação a abril. Na comparação
com maio do ano passado, houve
aumento de 15,2% nas vendas.
Na avaliação da Força Sindical,
o que pode fazer com que algumas categorias antecipem suas
negociações salariais é o processo
eleitoral. Nesse caso, os sindicatos
estariam mais preocupados com
o cenário político do que com o
econômico -que afeta de fato as
categorias que representam.
"Quem negociou em maio já
conseguiu resultados melhores
do que quem fez acordo em abril
ou março. Isso mostra que a economia começou a melhorar de fato a partir de maio", diz João Carlos Gonçalves, que assumiu o cargo de presidente da Força no lugar de Paulo Pereira da Silva, licenciado para concorrer à eleição
municipal. "Nossa orientação é
manter as campanhas em outubro ou novembro."
Para o diretor do Departamento
de Integração Social da Fiesp, Pedro Evangelinos, os trabalhadores
de setores ligados a exportação e
agronegócios -cerca de 15%-
devem ter reajustes melhores. "Os
85% que trabalham em setores
que dependem exclusivamente
do mercado interno devem ter
um 2004 mais triste".
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Sindicatos afirmam que reajustes dos salários superaram inflação Índice
|