São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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Sindicatos afirmam que reajustes dos salários superaram inflação

DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos acordos salariais negociados no primeiro semestre deste ano conseguiu repor integralmente as perdas da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE ou obter ganhos reais. É o que mostra levantamento feito pela Folha a partir de informações fornecidas por 27 sindicatos filiados às duas maiores centrais do país -CUT e Força Sindical.
A queda de inflação e o aquecimento da economia contribuíram para esse desempenho, avaliam sindicalistas e especialistas em mercado de trabalho.
Dos 27 acordos fechados por categorias com data-base entre janeiro e maio, 63% (17) obtiveram reajustes iguais ou acima da variação da inflação calculada pelo INPC (indicador mais usado nas negociações salariais) nos 12 meses anteriores a cada data-base. Destes, 37% conseguiram superar a inflação, com ganhos reais em torno de 1%.
Na Força Sindical, dos 14 acordos salariais negociados no primeiro semestre, nove (64,3%) conseguiram reajustes iguais ou acima da inflação. O restante, abaixo da inflação.
Entre as categorias que conseguiram melhor resultados estão trabalhadores da alimentação e vigilantes de Guarulhos.
No caso da CUT, de 13 acordos, oito (ou 61,5%) tiveram reajustes iguais ou acima da inflação. Os cinco restantes (38,5%) ficaram abaixo da inflação. Não foram considerados nesse cálculo três acordos fechados que tiveram reajustes com percentuais que variavam (abaixo ou acima da inflação) -caso dos professores dos setor privado, guardas de trânsito e construção civil.
Para José Silvestre, supervisor técnico do Dieese, a tendência verificada no primeiro semestre é positiva apesar de a amostra analisada ser pequena. Ele destaca que, no ano passado, a maioria dos reajustes negociados no primeiro semestre ficaram abaixo da inflação e obtiveram o pior resultado desde o Plano Real. Dos 149 acordos firmados de janeiro a junho de 2003, 54% obtiveram reposição abaixo do INPC. Ou seja, 81 acordos não conseguiram nem sequer zerar a inflação medida pelo indicador.
O técnico também ressalta que, em 2003, triplicou o número de acordos em que os reajustes foram parcelados em até três vezes -dentre os 27 acordos informados pelas centrais sindicais não foi verificado parcelamento do reajuste.
"A inflação de dois dígitos fez com que, no ano passado, os trabalhadores aceitassem o parcelamento para repor as perdas , diz Silvestre. Em maio de 2003, por exemplo, a inflação medida pelo INPC chegou a 20,44%. Em maio deste ano, foi de 4,99 pelo mesmo indicador.
Os trabalhadores de setores industriais ligados a atividades exportadoras são os que têm conseguido os melhores reajustes -caso dos trabalhadores nas indústrias de calçados de Franca.
Para o coordenador do Dieese, Clemente Ganz, as negociações no primeiro semestre também foram favorecidas pela retomada do crescimento econômico verificada de forma desigual e pontual.
"Mas ainda não dá para falar em espetáculo de crescimento dos salários. Estamos longe de recuperar a queda nos rendimentos que ocorre desde 1997", diz Ganz.
Na avaliação de Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA, é preciso considerar que, apesar de haver um clima de otimismo, deve ocorrer uma desaceleração no segundo semestre em conseqüência do cenário externo -principalmente aumento dos juros americanos. "Não será tão forte, mas pode haver um impacto. É preciso, entretanto, analisar como irá ocorrer em cada setor."


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