São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Na Argentina, dólar valia 3,7 pesos ontem, contra R$ 3,78 no Brasil

Valor nominal do peso passa o real

DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros ficaram mais pobres que os argentinos? Não é correto afirmar isso. Desde ontem, o real vale nominalmente menos que o peso. No mercado cambial argentino, o dólar fechou ontem cotado a 3,70 pesos, enquanto no Brasil a cotação foi de R$ 3,78.
Mas o que tem de ser considerado é o valor real da moeda. Ou seja, seu poder de compra. Para isso, é preciso levar em conta as taxas de inflação brasileira, argentina e norte-americana.
Imagine que uma garrafa de Coca-Cola custe 2 pesos na Argentina. Se a mesma garrafa custasse R$ 3,78 no Brasil, significaria que, mesmo com uma taxa de câmbio nominal maior, o real estaria menos desvalorizado do que o peso argentino. Isso porque, em dólares, a garrafa de Coca-Cola custaria US$ 0,52 na Argentina enquanto um brasileiro desembolsaria o equivalente a US$ 1 pelo mesmo produto.
Fazer a comparação entre taxas de câmbio reais e poder de compra de moedas é difícil porque seria preciso encontrar um grande número de produtos idênticos.
Mesmo quando escolhemos dois produtos aparentemente idênticos, é difícil comparar seus preços porque impostos e diferenças de salários podem fazer com que os custos de produção do mesmo produto em cada país sejam muito diferentes.
Assim, para economistas, o ideal antes de afirmar qual moeda está mais desvalorizada em termos reais seria montar uma cesta de produtos similares e verificar o preço dela no mercado argentino e no Brasil.
Quanto mais barata a cesta no país, em dólares, mais desvalorizada está a moeda. Só que essa comparação não pode ser feita tomando em conta oscilações dos valores nominais das moedas em prazos muito curtos, como dias ou semanas. Isso porque a própria oscilação do dólar pode fazer os preços subirem no futuro, e não faria sentido comparar cestas considerando os preços atuais.
Imagine novamente o exemplo da Coca-Cola. Para calcular o preço em dólares do produto no Brasil e na Argentina, foi usada a taxa de câmbio de ontem. Se a indústria brasileira importasse garrafas e o câmbio continuasse em R$ 3,78, o preço da Coca-Cola iria subir. Caso o dólar voltasse a cair, não haveria repasse de preços. Assim, para afirmar que uma moeda vale menos que outra, os economistas preferem comparar diversos produtos e taxas de câmbios de períodos mais longos.


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