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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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TRABALHO

Crise afeta indistintamente a todos, não importa a escolaridade,diz IBGE

Mais estudo não garante emprego

DA SUCURSAL DO RIO

Jovem de 18 a 24 anos, predominantemente mulher e com oito a dez anos de estudo. É esse o retrato do desempregado das seis maiores regiões metropolitanas do Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) levantados a pedido da Folha.
Os dados mostram que uma escolaridade maior não é garantia de emprego. Por anos de estudo, o desemprego chegou a 17,1% para quem frequentou a escola de oito a dez anos. E ficou em 12,7% para os sem escolaridade ou com menos de oito anos de estudo regular. Para os mais escolarizados (11 anos ou mais), no entanto, a taxa foi menor: 11,4%.
Apesar disso, do total de desocupados nas regiões metropolitanas, 40,1% têm 11 anos de estudo ou mais, 26,4% possuem de 8 a 10 anos de escolaridade e 33,5% frequentaram a escola por menos de 8 anos.
O número de desocupados que frequentaram a escola por pelo menos 11 anos -o que equivale ao ensino médio completo- subiu em 270 mil de junho de 2002 para junho de 2003.
Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), entre as pessoas ocupadas 28,9% haviam concluído ao menos o ensino médio em 2001. A Pnad, porém, leva em conta todo o país, enquanto a Pesquisa Mensal de Emprego considera apenas as seis maiores regiões metropolitanas, onde as pessoas têm mais acesso à escola.

Mais mulheres
O desemprego também atinge mais mulheres do que homens. Entre os desempregados, elas são a maioria -54,4%.
Segundo Luiz Parreiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em tempos de crise e renda comprimida aumenta a desocupação feminina, pois a mulher tem de se lançar mais ao mercado de trabalho para compensar o menor orçamento da família.
O desemprego atinge mais os mais jovens, enquanto quem tem mais de 50 anos está numa situação praticamente de pleno emprego, revelam os dados do IBGE.
Entre os que têm de 15 a 17 anos, o desemprego chega a 39,4%. Na faixa de 18 a 24 anos, o percentual ainda se mantém elevado: 24,4%. Só começa a cair significativamente na faixa de 25 a 49 anos, para 9,8%. No caso dos que têm mais de 50 anos, a taxa é de apenas 5,9%. A média geral é de 13%.
Para Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), não adianta o governo criar um programa para estimular o primeiro emprego, porque o projeto só colocaria mais gente procurando emprego e pressionando, dessa forma, a taxa de desemprego.

Jovens são vítimas
Outro problema identificado por ele é que, como o jovem se sujeita a ganhar menos, os empresários poderiam aproveitar para substituir trabalhadores mais velhos, com salários maiores, pelos mais novos atendidos pelo programa.
"É como uma placa que vi pela TV, numa manifestação na França, na qual um jovem protestava com a seguinte frase: "Papai, consegui um emprego: o seu'", disse.
Como alternativa, Neri sugere "uma segunda bolsa-escola" para manter jovens de 18 a 24 anos estudando. "Se tivesse de eleger o grande perdedor com a crise do mercado de trabalho, escolheria o jovem. É a vítima preferencial, não só do desemprego mas da violência também", afirma.
O mercado de trabalho só irá criar vagas numa quantidade suficiente para absorver os que estão ingressando quando o país voltar a crescer, segundo Parreiras.
Para ele, o mercado de trabalho está muito enxuto e, se o país voltar a crescer, vai ocorrer um boom de emprego. Isso porque as empresas já trabalham com o mínimo de empregados. (PS)


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