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FUNDO DO POÇO
Combate à inflação abortou PIB maior neste ano, mas permitirá "crescimento duradouro", diz ministro
Brasil não cresce em 2003, admite Palocci
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) afirmou ontem que
o Brasil não crescerá neste ano
por causa do combate à inflação
promovido pelo governo. Segundo ele, no entanto, a política fiscal
"dura" criou um ambiente favorável ao crescimento longo e duradouro mais à frente.
"Não crescemos, é verdade. Em
ano de combate ao desajuste não
se cresce. O que se vê na história
do mundo é perda de PIB [Produto Interno Bruto] importante.
Mas, o que se vê na frente é expectativa efetiva de crescimento. E eu
estou muito otimista quanto a isso", declarou o ministro, em entrevista em Brasília, após a viagem
que fez a Dubai (Emirados Árabes
Unidos) para a reunião anual do
Fundo Monetário Internacional.
No início do ano, os índices de
inflação estavam em alta e apontavam para uma elevação de até
30% acumulada em 2003. O remédio do governo para conter o
repique inflacionário foi promover um arrocho na economia, aumentando os juros (a taxa básica
chegou a 26,5% ao ano), retirando
dinheiro de circulação (aumentando o percentual do depósito
compulsório dos bancos). Além
disso, como parte do esforço fiscal, diminuiu os gastos públicos.
A medida deu resultado. O índice de inflação que baliza a meta do
governo (o IPCA) deve ficar em
cerca de 8,5% no acumulado do
ano. O efeito, porém, foi uma paralisação geral da economia no
primeiro semestre. Sem crédito, a
produção industrial caiu, o PIB ficou negativo por dois trimestres
consecutivos, o comércio vendeu
menos e o desemprego atingiu níveis recordes.
Segundo o ministro, no primeiro semestre o governo promoveu
um arrocho fiscal por conta própria. "Nós assumimos isso. Não
nos escondemos atrás do FMI. As
medidas duras eram necessárias
para controlar a inflação", declarou. O governo busca uma economia equivalente a 4,25% do PIB
(total de riquezas produzidas pelo
país) neste ano.
"Imagine se tivéssemos produzido uma bolha de crescimento
com inflação? Hoje estaríamos
discutindo o que fazer com uma
inflação de 200%, eu tenho certeza, porque o Brasil já fez isso", disse. "O que o Brasil tem de bom na
área econômica é que tudo o que
poderia ser feito de errado já foi
feito", brincou o ministro.
FMI
Palocci confirmou que o governo negocia com o Fundo um
acordo de "blindagem", que não
durará mais do que um ano. "Interessa fazer um trânsito, que encerre o acordo com o Fundo. Isso
é um objetivo nosso e do FMI."
O ministro afirmou que a intenção é negociar um acordo preventivo em que o país teria acesso a
uma linha de crédito "de precaução". Isso significa que o FMI
acompanharia o desempenho do
país e colocaria os recursos financeiros à disposição, na medida em
que as metas fosse cumpridas.
Caberia ao país sacar ou não os
recursos. "O nosso objetivo é não
sacar o dinheiro. Se não retirar [o
dinheiro], não custa nada ao
país", adiantou Palocci. Por esse
motivo, o acordo não aumentaria
o endividamento do país e daria
mais confiança aos investidores
estrangeiros, diminuindo o custo
da dívida pública -segundo ele.
Palocci afirmou ainda que "não
interessa ao Brasil" fechar um
programa com o FMI baseado exclusivamente em ajuste fiscal.
"Esse não é o nosso cenário
olhando para frente. Era o cenário
do ano passado, quando se renovou o acordo", declarou.
O ministro repetiu uma frase
que vem sendo usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao
afirmar que o país não "está com a
corda no pescoço".
O governo pretende incluir no
acordo metas sociais e retirar o investimento das empresas estatais
do cálculo de despesas públicas, o
que mudaria a forma de contabilização do superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros da dívida).
Com a Redação
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