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País só vai renovar com o Fundo
se houver vantagem, afirma Lula
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente Lula disse ontem
em Nova York que o Brasil só assinará novo acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
se trouxer "alguma vantagem para o país" e que o forte ajuste fiscal
é decisão do governo, e não imposição da entidade. O governo quer
incluir o que chama de "cláusulas
sociais", a fim de ter maior folga
para investir mais no social e na
infra-estrutura.
Lula advertiu ainda o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ao dizer que a depredação de patrimônio público
não ajudava a entidade: "Obviamente os meus amigos do MST
sabem que, com um comportamento assim, eles não se ajudam".
Anteontem, manifestantes ligados ao MST protestavam em frente ao Ministério da Agricultura
contra a liberação do plantio de
soja transgênica, quando, no tumulto, um vidro do prédio foi
quebrado.
Segundo Lula, ele disse ao presidente dos EUA, George W. Bush,
em almoço anteontem na sede da
ONU (Organização das Nações
Unidas), ter visto com "estranhamento" os EUA terem se aliado à
União Européia em Cancún (México), onde fracassou rodada de
negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Lula contou ter dito a Bush que
não era correta uma crítica do representante comercial dos EUA,
Robert Zoellick, ao G23 feita na
imprensa internacional. O G23 é
um grupo de países em desenvolvimento liderados pelo Brasil que
se opôs à proposta dos EUA e da
UE para a área agrícola.
O presidente negou que tenha
feito duros ataques aos Estados
Unidos, apesar dos discursos críticos que fez nesta semana em
Nova York, especialmente anteontem, na abertura da 58ª Assembléia Geral da ONU.
Mas defendeu a dureza nas negociações comerciais com os países ricos, criticando novamente o
protecionismo agrícola. "É correto que haja essa disputa, essa dureza na negociação. Não devemos
esperar facilidades. Ninguém nos
dará nada de graça", afirmou, em
entrevista coletiva na residência
do embaixador do Brasil na ONU,
Ronaldo Sardenberg.
Lula negou que o governo queira reduzir o poder das agências
reguladoras. "Não há nenhum interesse do governo em esvaziar as
agências". Afirmou querer "trazer
muitos investidores ao Brasil". O
governo divulgou anteontem anteprojetos de lei com mudanças
nas agências.
O presidente também falou que
"a queda dos juros não é um carro" e que "nós não estamos na
Fórmula 1". Segundo ele, o BC
não vai reduzir de forma "abrupta" os juros, hoje em 20% ao ano.
A seguir, por tópicos, trechos da
entrevista.
"Não tenho problema com Bush.
Respeito a posição americana, ele
respeita a nossa. Conversamos
sobre a questão de Cancún. Tínhamos combinado [antes de
Cancún] que haveria um esforço
muito grande para tentar chegar a
bom termo. Disse para ele que o
que o Brasil fez em Cancún, com o
G21 [que já chegou a 23 países],
foi colocar na nossa pauta 70% do
que os EUA queriam até dois meses atrás na área da agricultura.
Portanto, quem mudou de posição não foi o Brasil, foi o representante do governo americano [Robert Zoellick].
Ele [Bush] me disse: "Precisamos ter paciência e continuar
conversando". Temos a OMC para continuar o nosso trabalho. É
um jogo de força. E nós, sem ficar
chorando, vamos jogar o jogo. Temos de ser duros nas defesas dos
nossos interesses.
É correto que haja essa disputa,
essa dureza na negociação. Ninguém nos dará nada de graça. Estamos construindo força política
para nos tornarmos iguais aos
países desenvolvidos."
"A economia entrou numa rota
de crescimento e não vai voltar
mais. Acho que o desemprego vai
cair no final do ano. Estamos entrando em uma época de crescimento do emprego, do comércio,
do consumo em todos os países, e
o Brasil não será diferente."
"A informação que eu tive é que
havia ocorrido uma extraordinária reunião ontem [anteontem]
entre o governo e o MST. Depois,
recebi a informação de que houve
um incidente na Agricultura
[quebra de uma porta]. Obviamente os meus amigos do MST
sabem que, com um comportamento assim, eles não se ajudam."
"Não há nenhum interesse do governo em esvaziar as agências. O
interesse do governo é o de colocar as coisas em seus devidos lugares. Quem decide politicamente
é o governo, e quem cuida da regulamentação são as agências.
Vamos fazer os marcos regulatórios da forma mais transparente
possível. Portanto não há nenhum conflito."
"Não foi o FMI quem determinou
o superávit primário [4,25% do
PIB]. É uma decisão do governo.
O superávit não tem nada a ver
com o acordo. É um problema
nosso.
Não temos necessariamente de
renovar o acordo. Só faremos se
houver possibilidade de um acordo que possa trazer alguma vantagem para o país. Portanto estamos tranquilos, não estamos em
nenhum sufoco, o Brasil está muito a cavaleiro para dizer ao FMI:
"Não queremos o acordo, não vamos renovar e acabou!"."
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