São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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VACA DOENTE

Solução tende a demorar

Rússia deve manter veto à carne brasileira

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Rússia não está disposta a suspender o embargo à importação de carne brasileira tão cedo. Segundo relatório da comissão do Ministério da Agricultura que viajou ao país, não há nenhuma "perspectiva de solução a curto prazo". O grupo voltou ao Brasil e nem sequer tem uma resposta objetiva sobre a vinda de técnicos russos para verificar as condições sanitárias do produto brasileiro.
A Rússia suspendeu as compras de carne brasileira na semana passada devido a um foco de febre aftosa encontrada no Amazonas. Essa é a segunda vez no ano que o país suspende a compra do produto do Brasil. A primeira foi em junho, após a confirmação de casos da doença no Pará. Nenhum dos Estados exporta carne.
No texto entregue ao ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), os técnicos informam que, "apesar da polidez" com que foram tratados, não há "perspectiva de solução a curto prazo". Trechos do relatório foram repassados à Folha por um dos técnicos que integrou a comissão à Rússia.
O departamento de vigilância sanitária da Rússia classificou de "instabilidade epizootia" o território brasileiro, pois essa é a segunda vez que a doença surgiu em menos de um ano. Ou seja: não há segurança de que a doença ficará restrita a uma região.
O relatório, no entanto, aponta que os técnicos russos "entenderam" que não há ligação entre o episódio do Pará e do Amazonas. Na bagagem de volta, segundo a Folha apurou, a comissão brasileira recebeu uma resposta "evasiva" sobre a vinda de uma equipe para verificar as condições sanitárias do produto brasileiro.
O Brasil é membro da OIE (Organização Internacional de Epizooties), que permite às regiões seguramente livres da doença a exportar. As regiões Norte e Nordeste não estão neste grupo.
Na avaliação de integrantes do ministério, a questão deixou de ser técnica para ser política. A tese é reforçada devido ao embargo abranger a comercialização de peixe e de frango, animais que não são atingidos pela doença. A Rússia fica com 18% das vendas externas de carne brasileira. Em 2003, comprou 80% das exportação de suínos. A "dependência" brasileira, poderá ser utilizada em troca de vantagens comerciais.
Para o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, até o momento, não houve prejuízo para o produtor, pois o governo conseguiu nesta semana a liberação dos produtos que já estavam nos portos. "O que pode haver é um atraso nas entregas."
A CNA entrega em outubro uma avaliação da condições sanitárias do Norte e Nordeste. O relatório apontará "alto risco" de aftosa em Estados como o Piauí e preocupação com Roraima, que faz divisa com a Venezuela.
Os países proíbem a importação de carne de locais com aftosa para protegerem seus rebanhos.


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