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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

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ADEUS

Com champanhe, caviar e lágrimas, jato supersônico se despede dos céus; acidente e alto custo anteciparam aposentadoria

Concorde faz a sua última aterrissagem

Hugo Philpott/Reuters
Concorde da British Airways se prepara para fazer sua última aterrissagem, no aeroporto de Heathrow, em Londres; o jato, emblema da engenharia do século 20, só será visto agora em museus


MARK BENDEICH
DA REUTERS, EM LONDRES

Três Concordes aterrissaram ontem em Londres, em um final espetacular para a era das viagens supersônicas. Recebidos com lágrimas e aplausos por milhares de entusiastas, os jatos de nariz adunco pousaram no aeroporto de Heathrow, em uma despedida cuidadosamente coreografada.
Os jatos -vindos de Edimburgo, de um passeio pela baía de Biscaia e, o último, de Nova York- aterrissaram com intervalos de dois minutos e puseram fim a uma das experiências mais estimulantes (e dispendiosas) da história da aviação civil.
O piloto Mike Bannister disse, durante o vôo que partiu de Nova York, que "o Concorde é um avião fabuloso e se tornou uma lenda", depois de disparar até o limite do espaço, voando a duas vezes a velocidade do som.
Champanhe e vinhos de safras nobres foram servidos, enquanto os passageiros, entre os quais a atriz Joan Collins e a modelo Christie Brinkley, comiam lagosta, caviar e salmão defumado.
David Hayes, que pagou US$ 60,3 mil em um leilão de caridade para participar, com a mulher, desse vôo histórico, disse: "Comecei a chorar. Meu coração disparou. Era hora de dizer adeus".
Ivor Simms, controlador de vôo em Heathrow, contou que "estava em treinamento em 1976 quando o primeiro vôo do Concorde partiu para Nova York, e me orgulho muito por, 27 anos depois, estar no controle durante o pouso do último vôo vindo de lá".
O Concorde estabeleceu um paradigma para as viagens aéreas transatlânticas. Agora, a está destinado a uma vida sedentária em museus de aviação.
Bernie Ecclestone, o principal dirigente da Fórmula 1, que voou na primeira viagem do Concorde em 1976 e também participou da última, disse: "Não acho que veremos coisa parecida de novo".
Pouco depois da metade do século 20, os criadores anglo-franceses do Concorde esperavam que o seu avião fosse o pioneiro em uma nova geração de jatos de transporte.
Mas os altos custos operacionais, as turbinas imensamente ruidosas e os estrondos supersônicos causados pelo avião trouxeram-lhes a oposição dos ecologistas, e o Concorde não demorou a se tornar pouco mais que um brinquedo para os superastros.
O começo do fim veio em julho de 2000, quando um avião da Air France caiu perto de Paris, matando 113 pessoas e causando a paralisação dos vôos de toda a frota de Concordes francesa e britânica.
O Concorde voltou ao serviço no final de 2001, em meio a uma severa queda no tráfego aéreo transatlântico, depois dos ataques contra cidades dos EUA em 11 de setembro daquele ano. A fábrica de aviões Airbus anunciou há alguns meses que deixaria de fornecer sobressalentes e de cuidar da manutenção dos aparelhos, o que selou o destino do jato.
O veterano apresentador de televisão britânico David Frost, que fez cerca de 500 viagens no supersônico, disse que o Concorde era "a única maneira pela qual se podia estar em dois lugares ao mesmo tempo". E concluiu com um epitáfio repetido pelos demais passageiros entristecidos: "É uma ótima invenção, e é uma vergonha que tenha de parar".


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