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VINICIUS TORRES FREIRE
Brasil investe mais. Lá fora
Investimentos brasileiros em negócios no exterior devem superar entrada de capital estrangeiro no Brasil neste ano
ATÉ SETEMBRO, empresas brasileiras haviam investido
mais em outros países do que
o governo federal deve investir no
Brasil durante este ano inteiro. Foram até agora US$ 7,8 bilhões aplicados em empreendimentos no exterior. Mesmo antes de a Vale comprar a canadense Inco, negócio que
deve chegar a US$ 17 bilhões, 2006
já tendia a ser o ano da internacionalização da empresa brasileira.
O investimento brasileiro produtivo no exterior deve atingir entre
US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões. O
pico anterior havia ocorrido em
2004, com US$ 9,8 bilhões, número
inflado pela fusão da AmBev com a
Interbrew.
Outra transação excepcional, a da
Vale, vai fazer com que, pela primeira vez desde 1947, quando passou a
haver dados regulares sobre o tema,
o investimento produtivo brasileiro
no exterior seja maior que o investimento estrangeiro no Brasil (estimado em US$ 17 bilhões para 2006).
Por que as empresas brasileiras
investem lá fora? Para ganhar tamanho e, por vezes, mais eficiência devido à escala de produção; para dominar mercados e não serem compradas; para incorporar tecnologia.
Por vezes, o objetivo é fazer da nova filial uma cliente cativa para seus
produtos. Ou aproveitar as possibilidades de negócios oferecidas por
países de economia mais aberta. Ou
ganhar dinheiro em mercados que
limitam a entrada de produtos brasileiros via exportação. Ou apenas se
beneficiar de um ambiente econômico menos hostil: com impostos e
juros menores, menos burocracia,
câmbio mais favorável, infra-estrutura melhor, Justiça mais decente.
Em parte, a internacionalização da
empresa brasileira é inevitável e positiva. Em parte, pode significar que
as empresas estejam deixando de investir mais no país por falta de ambiente econômico decente, o que é
uma tragédia. O investimento produtivo brasileiro no exterior deve fechar o ano em torno de 1,3% do PIB,
sem contar o caso Vale. É muito. Faz
anos que o investimento total na
economia brasileira estagnou em
torno de 20% do PIB.
Por ora, as empresas brasileiras
que mais "viajam para o exterior"
são as de metalurgia (como a Gerdau) e petróleo (Petrobras). No caso
de aquisições, as empresas desses
setores foram responsáveis por
mais de metade das compras de empresas estrangeiras sediadas no exterior desde 2004, segundo dados
coletados pela KPMG. Mas é cada
vez mais diversificada a migração:
autopeças, aviação, cimento, alimentos, por exemplo. E aqui se tratou apenas de investimento. Muita
empresa brasileira já projeta ou desenha seus produtos aqui e os fabrica na Ásia ou onde for mais barato.
Seja por meio de investimento no
exterior ou de outra estratégia empresarial, a internacionalização, em
si, não é problema. Problema é saber
que empresas podem estar apenas
fugindo do Brasil.
vinit@uol.com.br
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