São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Brasil investe mais. Lá fora

Investimentos brasileiros em negócios no exterior devem superar entrada de capital estrangeiro no Brasil neste ano

ATÉ SETEMBRO, empresas brasileiras haviam investido mais em outros países do que o governo federal deve investir no Brasil durante este ano inteiro. Foram até agora US$ 7,8 bilhões aplicados em empreendimentos no exterior. Mesmo antes de a Vale comprar a canadense Inco, negócio que deve chegar a US$ 17 bilhões, 2006 já tendia a ser o ano da internacionalização da empresa brasileira.
O investimento brasileiro produtivo no exterior deve atingir entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões. O pico anterior havia ocorrido em 2004, com US$ 9,8 bilhões, número inflado pela fusão da AmBev com a Interbrew.
Outra transação excepcional, a da Vale, vai fazer com que, pela primeira vez desde 1947, quando passou a haver dados regulares sobre o tema, o investimento produtivo brasileiro no exterior seja maior que o investimento estrangeiro no Brasil (estimado em US$ 17 bilhões para 2006).
Por que as empresas brasileiras investem lá fora? Para ganhar tamanho e, por vezes, mais eficiência devido à escala de produção; para dominar mercados e não serem compradas; para incorporar tecnologia. Por vezes, o objetivo é fazer da nova filial uma cliente cativa para seus produtos. Ou aproveitar as possibilidades de negócios oferecidas por países de economia mais aberta. Ou ganhar dinheiro em mercados que limitam a entrada de produtos brasileiros via exportação. Ou apenas se beneficiar de um ambiente econômico menos hostil: com impostos e juros menores, menos burocracia, câmbio mais favorável, infra-estrutura melhor, Justiça mais decente.
Em parte, a internacionalização da empresa brasileira é inevitável e positiva. Em parte, pode significar que as empresas estejam deixando de investir mais no país por falta de ambiente econômico decente, o que é uma tragédia. O investimento produtivo brasileiro no exterior deve fechar o ano em torno de 1,3% do PIB, sem contar o caso Vale. É muito. Faz anos que o investimento total na economia brasileira estagnou em torno de 20% do PIB.
Por ora, as empresas brasileiras que mais "viajam para o exterior" são as de metalurgia (como a Gerdau) e petróleo (Petrobras). No caso de aquisições, as empresas desses setores foram responsáveis por mais de metade das compras de empresas estrangeiras sediadas no exterior desde 2004, segundo dados coletados pela KPMG. Mas é cada vez mais diversificada a migração: autopeças, aviação, cimento, alimentos, por exemplo. E aqui se tratou apenas de investimento. Muita empresa brasileira já projeta ou desenha seus produtos aqui e os fabrica na Ásia ou onde for mais barato.
Seja por meio de investimento no exterior ou de outra estratégia empresarial, a internacionalização, em si, não é problema. Problema é saber que empresas podem estar apenas fugindo do Brasil.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Paulo Rabello de Castro: A educação de um presidente
Próximo Texto: "Spread" bancário volta a subir após 8 meses
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.