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PAULO RABELLO DE CASTRO
A educação de um presidente
O presidente educado perceberá que a aceleração do crescimento é um jogo
de desentupir gargalos
TODOS APRENDEMOS fazendo.
Só o trabalho ensina. Assim
também aprendem os presidentes, sejam candidatos ou já incumbidos. É bonito ver o aprendizado presidencial acontecendo à frente dos olhos dos espectadores (nós),
que aprendemos também, se tivermos a paciência de acompanhar os
debates, ler programas de governo e,
principalmente, conseguir enxergar, a nós mesmos, como povo e sociedade, encarnados nos personagens que, na telinha, representam
nossos medos e mitos.
A educação de um presidente é caríssima. É feita com a caneta na mão,
sem o beneficio de "simuladores",
aqueles sofisticados aparelhos que
ajudam a treinar pilotos. O resultado é o aumento do risco, quer de desastres ou, quase igual, de oportunidades perdidas, que custam muitos
bilhões. Presidentes têm custado
muito ao Brasil.
Presidentes também aprendem.
Lentamente. Por dois motivos o
aprendizado presidencial é lerdo. A
primeira razão, óbvia, é que ninguém lhes terá avisado para ficar de
olhos bem abertos. Pelo contrário: o
deslumbramento do cargo e o incensamento do ego turvam a visão,
prejudicando a percepção e o processamento das experiências. Daí
ser tão comum a frase presidencial:
"Eu, de fato, não sabia...".
No presidencialismo, além do
mais, não há repetência nem dispensa antecipada do aprendiz, como
ocorreria no parlamentarismo. O
presidente fica, durante todo o mandato, interagindo com a realidade
que o cerca, com seus colegas de ofício, quando viaja a serviço, por meio
dos informes e dos relatórios oficiais, das atitudes e reações do Congresso, da imprensa e da opinião pública. Tudo faz parte da educação de
um presidente.
Ele aprenderá, por exemplo, que
não basta proteger a bolsa do consumidor, que também aprendeu a detestar a inflação e a corrosão do poder aquisitivo do seu salário. Essa
foi, certamente, a principal lição do
nosso passado recente. Não foi
aprendida por nenhum presidente
do período militar, apesar de toda a
preparação técnica que parecia envolver os presidentes-generais. A
grande inflação engoliu letrados e
espertalhões, durante mais de 20
anos. No entanto, curiosamente, foi
na humildade dos presidentes dispostos a ouvir e aconselhar-se que
surgiram formas de combate mais
eficaz à inflação brasileira. Daí o Plano Real. Lula foi mais longe: "terceirizou" a questão da inflação para o
Banco Central.
Mas o saudável embate deste segundo turno traz para o público, e
para os próprios candidatos, novas
perguntas incômodas: E o Brasil que
não cresce? Por que as empresas hoje tomam tão pouco crédito e pagam
tanto imposto? A estabilidade sem
crescimento, é isso mesmo que queremos?
Um novo enfoque se impõe no
"programa de curso" dos presidenciáveis: aprender a importância de
bem planejar e gerenciar o crescimento da economia. Esse objetivo
não comporta respostas evasivas do
tipo "o tempo tomará conta disso"
ou "o mercado indicará a hora de
crescer" ou, ainda, "isso é quando o
Banco Central deixar".
O presidente bem-educado saberá
que ele, seu governo, as medidas que
tomará, as reformas que encaminhará (ou não), tudo fará parte do
jogo de expectativas econômicas a
determinar o ritmo dos futuros investimentos. Além disso, o presidente educado perceberá que a aceleração do crescimento é um jogo de
desentupir gargalos ("desembolar o
jogo") e calibrar rentabilidades esperadas. Desentupir gargalos, no
plano físico, significa criar infra-estruturas, algo que as privatizações
-com todos os seus defeitos de
DNA- ajudaram a fazer, e, no plano
financeiro, ajustar passivos, realizando "encontros de contas" com os
muitos ativos públicos existentes,
algo que precisa ser feito, por exemplo, em relação à Previdência Social
e ao FGTS.
Mais do que tudo, e antes de tudo,
o presidente educado compreenderá que nenhum sistema econômico
de mercado opera bem quando os
preços dos ativos estão mal calibrados, isto é, quando os rendimentos
dos títulos do próprio governo pagam mais do que as rendas auferidas
pelos empreendimentos de risco.
Quando o próximo presidente bem-educado calibrar a rentabilidade de
cada ativo ao nível do seu risco efetivo, estará conseguindo realizar um
pequeno milagre: diminuir, para si e
para a sociedade, a chance de haver,
à frente da República, alguém que,
mesmo não sabendo, tampouco pergunta.
PAULO RABELLO DE CASTRO, 57, doutor em economia
pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do
Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora
de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria
econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da
Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias,
nesta coluna.
rabellodecastro@uol.com.br
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