São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2001

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MERCADO DE TRABALHO

Instituto começa a apurar número de pessoas que desistiram de procurar vaga

IBGE vai calcular emprego oculto

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de anos sem pesquisar o desemprego oculto, causado pelo desalento das pessoas em procurar uma vaga, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) resolveu mudar sua Pesquisa Mensal de Emprego.
Mas, mesmo com as alterações, o desemprego oculto não vai ser incorporado à taxa. Será medido em separado, analisando apenas o contingente de trabalhadores "desalentados" -aqueles que deixaram o mercado de trabalho por não encontrar uma vaga. Até hoje, essa categoria não era pesquisada, o que era motivo de várias críticas recebidas pelo IBGE.
"O desencorajado é aquele que deixou de procurar porque não achou emprego. Esse contingente não vai ser somado à taxa de desemprego. Vamos manter a precisão dos conceitos", disse Marta Mayer, diretora de pesquisa do instituto. Os primeiros resultados do desemprego oculto sairão em fevereiro.
Ao contrário do IBGE, o Seade/ Dieese pesquisa desde 1985 o desemprego oculto. O IBGE pesquisa o desemprego aberto a partir da resposta do entrevistado às perguntas: 1) Você está empregado? 2) (se a resposta for não) Há quanto tempo não procura emprego? Se o entrevistado disser que não procurou emprego na última semana, não é considerado desempregado, mas sim fora do mercado e da PEA (População Economicamente Ativa).
Nos últimos meses, o desemprego vinha baixando devido à saída de pessoas da PEA. O próprio IBGE reconheceu que poderia ser por causa do desalento. No entanto, essa tendência não se confirmou em outubro, quando a PEA cresceu 0,5%, e o desemprego acabou subindo.
Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese, disse que a nova pesquisa já é uma evolução, por quantificar o desalento. Mas não agregá-lo à taxa pode "confundir as coisas".
A economista Zeina Latif, da consultoria Tendências, concorda que pode ser adotada essa taxa informal e defende que o IBGE pesquise também o desemprego oculto. "Quanto mais informação, melhor."
Pela diferença de metodologias, as diferenças entre as taxas de desemprego do IBGE e do Dieese sempre chamaram atenção. Em setembro, a do IBGE para São Paulo foi 6,6%, enquanto a do Dieese, 17,8%.
"Hoje medimos uma pressão parcial na taxa de desemprego, a dos que estão no mercado. Com a nova pesquisa, teremos uma pressão total, dos que estão fora também", disse a economista do IBGE Shyrlene Ramos de Souza.
Lauro Ramos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que a medição do desemprego oculto é ineficaz. "É algo muito subjetivo." Para Ramos, o desalentado pode ser aquele que responde:"Se tivesse um emprego que me pagasse bem eu trabalharia". Ou até alguém que fala: "Trabalharia de qualquer forma".
Ramos defende que o desemprego oculto tem de ser uma taxa complementar. "Não é boa idéia agregá-lo ao contingente de desempregados."


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