São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Para empresários, Bolsa cresce com a economia real

Mesmo com valorização de 1.600% nas ações, nos últimos cinco anos, analistas acreditam em novas altas em 2008

Empresários refutam tese de "exuberância irracional" no mercado e esperam investimentos e aumento da demanda interna

DA REPORTAGEM LOCAL

O jornal britânico "Financial Times" publicou neste mês uma reportagem em que dizia que a Bolsa brasileira vivia um momento de exuberância irracional: "Desde o corte da taxa de redesconto [que remunera os empréstimos entre instituições financeiras] pelo Fed [banco central dos EUA], em agosto, os mercados brasileiros parecem tão racionais quanto uma festa no cemitério".
Entre os argumentos apresentados, está o fato de que, depois de cinco anos de alta e valorização de 1.600% em dólares, "o valor de oportunidade desapareceu". Para o jornal, o fato de a relação entre o preço das ações e o lucro das empresas listadas na Bovespa, de 17,8 vezes, ser quase o mesmo da S&P 500, índice das 500 maiores corporações americanas, tiraria os atrativos do mercado local. Outro motivo que sustenta a tese é que o valor de mercado da Bovespa é de US$ 13 bilhões, enquanto a Nasdaq vale US$ 5,2 bilhões. E que o volume diário médio negociado na Bovespa passou de R$ 2,5 bilhões, em 2006, para R$ 4,5 bilhões neste ano, além de ter girado R$ 8 bilhões, após a abertura de capital da própria Bolsa.
O jornal alertava para uma possível saída brusca de investidores estrangeiros que sustentam o movimento e que acabaria com essa exuberância.
Os empresários brasileiros discordam com um argumento básico: a valorização dos papéis das companhias nacionais acontece em cima de crescimento real, impulsionado por demanda reprimida.
Enquanto o lucro apurado entre 220 empresas, nos primeiros nove meses do ano, cresceu 45,6% sobre 2006, a Bovespa subiu 37%. Isso significa espaço para valorização das ações, segundo analistas.
"As classes mais baixas, que tiveram aumento de renda, consomem na periferia, nas lojinhas de sua região", diz Marcel Malczewski, presidente da empresa de automação Bematech. "É esse pequeno varejo, em razão da pressão do fisco e em busca de controles, que está se informatizando."
Carlos Eduardo Schahin, diretor-executivo do Grupo Schahin, concorda com a tese do "Financial Times". "O mercado está muito líquido, e os especuladores têm grande poder de barganha", diz. "Cerca de 70% dos investimentos na Bovespa são feitos por estrangeiros, o que deixa o ambiente muito volátil." Para ele, a maior parte das empresas está crescendo e, mesmo com a volatilidade financeira, a tendência é de aumento dos negócios.
Espécie de centrais de indicadores antecedentes de investimentos, os escritórios de advocacia e os bancos de investimento dizem ter em carteira mandados para novas emissões, aberturas de capitais e de fusões e aquisições suficientes para manter esse incremento.
"A hipótese de crescimento é muito forte graças ao potencial de expansão do mercado consumidor e ao fato de o país dever alcançar o "investment grade" [nota dada por agências de risco] no próximo ano", afirma José Olympio Pereira, diretor do banco de investimentos Credit Suisse. (CRISTIANE BARBIERI)


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