São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Lucro bilionário dos bancos tem alta de 90% em 2007

Cinco maiores instituições privadas do país registram ganho líquido somado de R$ 18,48 bilhões até o terceiro trimestre

Expansão do crédito, maior acesso aos serviços bancários e venda de participação em empresas impulsionam resultado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor bancário não tem do que reclamar. Os lucros bilionários alcançados nos últimos tempos têm se repetido -e aumentado- neste ano. Considerando cinco dos maiores bancos privados do país (Bradesco, Itaú, ABN Real, Santander e Unibanco), os lucros líquidos alcançados entre janeiro e setembro deste ano somaram o montante de R$ 18,48 bilhões, o que representou uma elevação de 90% em relação ao mesmo período de 2006.
A expansão da oferta de crédito, que parece estar longe de seu fim, segue como uma forte propulsora dos resultados exuberantes do setor bancário.
A maior bancarização -ou seja, mais pessoas têm aberto contas e se utilizado de serviços bancários- também tem tido papel relevante, ao favorecer e elevar os ganhos com tarifas e serviços.
A diferença de 90% notada neste ano em relação a 2006 teve também impacto de alguns fatores extraordinários. Neste ano, a venda de participação dos bancos em outras empresas, como a Redecard e a Serasa, ajudou a inflar seus lucros. Por outro lado, em 2006 os bancos realizaram pesadas amortizações de ágios de compras que fizeram em anos anteriores, o que encolheu um pouco os resultados do período.
Deixando esses fatores extraordinários de lado, chama a atenção a contínua expansão da carteira de crédito. Um crescimento de 28,9% levou o crédito total ofertado por esses bancos privados à cifra inédita de R$ 378,34 bilhões em setembro último. Até o fim do ano, o montante deve ultrapassar os R$ 400 bilhões.
"O potencial de crescimento do crédito dos bancos ainda é muito elevado. A relação crédito/PIB no Brasil ainda é baixa em comparação a outros países, o que demonstra que ainda há muito espaço para se expandir. Nesse aspecto, os bancos ainda têm muito o que lucrar", afirma Ariadne Arnosti, analista financeira do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
Quem destoou desse crescimento considerável de lucros foi o Banco do Brasil, que, na comparação entre janeiro e setembro de 2006 e o mesmo período deste ano, teve queda de quase 20% em seu lucro -mas que ficou em elevados R$ 3,84 bilhões até o 3º trimestre.
Gastos extras, especialmente os decorrentes de um programa de demissões voluntárias e aposentadorias antecipadas lançado pelo BB, engoliram parte de seu lucro no período. No primeiro semestre do ano, a adesão de cerca de 7.000 bancários a esse programa gerou custo extra de R$ 446 milhões.
Com a interrupção do processo de queda da taxa básica Selic -que serve de referência para as taxas praticadas no mercado-, a carteira de crédito dos bancos tende a se tornar ainda mais lucrativa, pois segue em expansão sem que os juros cobrados encolham.
Ana Higa, economista-sênior da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), afirma que o crescimento do crédito "tem sido um destaque" nos resultados dos bancos. "A taxa de crescimento do crédito nos anos recentes foi superior a 20% e deve se manter nesse ritmo nos próximos anos."
Outro item que tem se destacado são as receitas com serviços (que incluem tarifas bancárias, taxas de administração de fundos e cartões, entre outros itens). Somando os maiores bancos privados, essas receitas subiram 16,5% entre os primeiros nove meses de 2006 e o mesmo período deste ano, alcançando R$ 23,44 bilhões.
Com isso, a participação dos serviços bancários nas receitas totais dos bancos tem crescido de forma importante nos últimos anos. De aproximadamente 6,5% de participação em 1994, os serviços passaram a representar cerca de 19% das receitas agora, como mostram os últimos balanços publicados. Isso significa que cada vez mais os serviços têm sido relevantes para os ganhos dos bancos.
Higa, da Febraban, afirma que, se for comparar os resultados atuais das instituições com os registrados no começo do período da estabilização, após a implantação do Plano Real, "houve uma mudança na composição dos ganhos", pois naquele tempo havia retornos relevantes de itens como o chamado "floating".
A alta inflação, somada às taxas elevadas do overnight (aplicações feitas por um dia), criava um ambiente que favorecia a busca pelo "floating": os bancos aproveitavam os recursos depositados nas contas para reaplicá-los enquanto estavam indisponíveis para movimentação. Após a estabilização, uma das saídas encontradas pelos bancos, com a perda de dinamismo do "floating", foi ampliar o mix de produtos oferecidos e de tarifas cobradas. Somadas à expansão da bancarização, as receitas com serviços passaram a ter um peso maior no resultado das instituições.
"Temos de considerar que tem havido um maior acesso aos serviços bancários. A utilização de cartões de crédito e débito tem crescido bastante", afirma Higa.

Cartões em expansão
Os últimos balanços divulgados pelos bancos também mostraram que está crescendo a relevância dos cartões de crédito em suas carteiras.
O Bradesco apresentou um crescimento de 62% em 12 meses no volume movimentado com cartões de crédito, que chegou a R$ 7,23 bilhões em setembro último. No caso do Unibanco, o crescimento foi de 32%, com o volume alcançando R$ 5,6 bilhões. O Santander registrou aumento de 65%, com movimento de R$ 2,09 bilhões acumulado até o fim do terceiro trimestre.
O Itaú apresentou uma expansão menor no período, de 19%, mas a base do banco no segmento é muito elevada, marcando R$ 9,47 bilhões.
Pesquisa realizada pela Itaucard projeta que o número de plásticos em circulação deve alcançar os 91 milhões ainda neste mês. Isso representa um crescimento de 17% em relação a novembro de 2006. Ou seja, já há praticamente um cartão de crédito para cada dois brasileiros. Em 2005, havia cerca de 60 milhões de cartões no mercado.
Para as instituições financeiras, essa mudança de comportamento do brasileiro, com rápida ampliação no uso de cartões, tem se revertido em mais uma rentável fonte de ganhos.
O faturamento da indústria de cartões de crédito já alcançou neste ano, até outubro, R$ 144,8 bilhões -aumento de 21% em relação a 2006.


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