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Caro, cheque especial avança no crédito
Modalidade representa 13% dos empréstimos e gera mais de 53% do total da receita de crédito dos bancos, segundo BC
Apesar da existência de linhas com taxas de juros menores, concessão do cheque especial
avança 19% no ano
RAQUEL ABRANTES
DA SUCURSAL DO RIO
A concessão de cheque especial a pessoas físicas e jurídicas
(conta garantida) representa
13% dos empréstimos, gera
mais de 53% do total da receita
bruta de crédito das instituições financeiras e se transformou em uma das principais
fontes da rentabilidade dos
bancos.
Apesar da existência de linhas com juros bem menores,
a concessão do cheque especial
às pessoas físicas cresceu 19%
no ano e 9,4% em 12 meses,
respondendo por 6,1% do total
emprestado (R$ 13,99 bilhões),
segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central,
referentes a setembro.
A trajetória de queda da taxa
Selic, que está em 11,25% ao
ano, estimulou o consumo e
ampliou a oferta de todas as linhas de crédito, mas também
reduziu o ganho das instituições financeiras com tesouraria -rendimento menor dos títulos públicos e da taxa cobrada em empréstimos a outros
bancos, o CDI (Certificado de
Depósito Interfinanceiro).
Para equilibrar a receita, as
instituições aumentaram a
concessão do cheque especial,
o dinheiro mais caro do mercado, e os juros cobrados na operação, além de lançar outros
produtos de empréstimo pré-aprovado em conta corrente.
"Desde 2005, os bancos se
voltaram ao crédito como forma de compensar a perda da
receita com tesouraria, dada a
queda da Selic, e o cheque especial é o carro-chefe", diz Miguel
José Oliveira, vice-presidente
da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). As pessoas físicas estão
devendo quase R$ 230 bilhões
em operações de crédito ao sistema financeiro, de acordo
com o Banco Central. A modalidade que concentra a maior
parte desse montante é o crédito pessoal -que inclui o dinheiro mais barato do mercado, o empréstimo consignado
(desconto em folha de pagamento)-, com 42,1% ou
R$ 96,6 bilhões em aberto.
Enquanto a média das taxas
para pessoas físicas recuou de
46,6% para 46,3% ao ano e a
inadimplência caiu de 4,7% para 4,6% em setembro, os juros
do crédito pré-aprovado foram
de 139,5% para 140% ao ano.
"As taxas do cheque especial
subiram porque não há controle sobre as atividades financeiras. Os bancos não seguem nenhum parâmetro; ficam negociando com o governo a modalidade de crédito que ficará
mais barata e a que ficará mais
cara", criticou o presidente da
Andif (Associação Nacional de
Defesa dos Consumidores do
Sistema Financeiro), Aparecido Donizete Piton.
O economista Roberto Luis
Troster, ex-Febraban (Federação Brasileira de Bancos), lembra que as novas concessões de
cheque especial a pessoas físicas e jurídicas (conta garantida) representam 13% dos empréstimos e geram mais de 53%
do total da receita bruta de crédito das instituições financeiras, segundo dados do BC de
agosto. "É razoável que operações menores e com mais risco
paguem mais, mas não na proporção observada no Brasil."
O relatório da Febraban
"Evolução do crédito no sistema financeiro", de 25 de outubro, atribui a alta nos juros do
cheque especial em setembro a
uma tentativa de "inibir maior
endividamento dos indivíduos
numa modalidade tida como
emergencial e indicada para
contratação apenas em situações de descasamento de fluxo
de renda no curtíssimo prazo".
Economista-chefe da Febraban, Nicola Tingas explicou
que houve aumento da demanda pela modalidade, "tanto pela
aceleração da economia, que
incentivou o consumo, quanto
pelo uso do cheque especial para a cobertura de despesas
mensais". Com relação aos juros maiores em setembro, ele
disse que a linha de crédito tem
a particularidade da oscilação
diária, por ser dinheiro de curtíssimo prazo e que exige período mais longo para a definição de uma tendência.
"Quando alguém abre uma
conta corrente, a primeira coisa que o banco concede é o cheque especial. Além disso, as
instituições não orientam os
clientes a utilizar a linha apenas para emergências. A informação é dada apenas se o correntista procurar o gerente",
declara Oliveira. Levantamento do BC mostra que o prazo
médio de utilização da modalidade é de 20 dias, ou seja, o crédito disponível em conta corrente já está incorporado à renda mensal do brasileiro.
Quando o cheque especial
for indesejado e o correntista
verificar a concessão de limite
no extrato bancário, o Procon-SP orienta a solicitação do cancelamento do crédito. Caso a linha continue disponível, a recomendação é procurar um órgão de defesa do consumidor e
formalizar a reclamação.
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