São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Crise afeta oficinas de conversão de gás veicular

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A discussão sobre um eventual racionamento de gás atingiu toda a cadeia produtiva ligada ao GNV (Gás natural veicular). Frank Chen, vice-presidente da Associação Brasileira do Gás Natural Veicular, afirma que "todo o mercado sofreu revés imediato".
Donos de oficinas que fazem a conversão dos carros para GNV perderam clientes. Na semana do dia 7, quando o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, desaconselhou o uso do combustível, a oficina de Cristiano Siqueira, em São Paulo, atendeu quatro clientes. Uma semana antes, 22 pessoas procuraram a oficina.
No país, há 801 instaladores de GNV registrados pelo Inmetro. De acordo com a Abegas (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), em setembro, 1.454 postos tinham GNV.
As conversões para gás caíram mesmo antes da discussão atual sobre a crise do combustível. De janeiro a setembro, a conversão recuou 24% ante igual período do ano anterior, enquanto a frota brasileira cresceu 11,4%, segundo o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
O vice-presidente da Associação Latino-Americana de GNV, Rosalino Fernandes, disse que 2006 foi um ano excepcional para o GNV, quando houve mais de 272 mil conversões. Já 2007 deve ter queda, causada pelo aumento no preço do combustível. Até setembro, foram cerca de 151 mil.
No Brasil, o número de veículos convertidos para o combustível era de 1.476.219 no terceiro trimestre deste ano, de acordo com o IBP. O Rio de Janeiro concentra 42% da frota, e São Paulo, 25%.
Chen, que também é presidente da Gifel, indústria de cilindros de gás, afirma que não diminuiu a produção na fábrica porque os contratos com os fornecedores são definidos com antecedência, mas que já sente a crise no mercado. "Parte da nossa fabricação está voltada para a fabricação do cilindro de GNV, produto que o mercado não quer mais como antes."
O fabricante de cilindros Mat S.A. concorda com o impacto da crise. "O mercado está se rescindindo e não sabemos quando vai tomar um novo fôlego", diz Jair Poliche, do departamento comercial. Poliche relata que os instaladores de GNV não compram com a mesma regularidade. "Falta uma palavra oficial de que não vai faltar gás."
Apesar das impressões pessimistas das indústrias, Fernandes prevê que o balanço final das conversões em 2007 se iguale ao número registrado em 2005, quando foram registradas 216 mil adaptações de veículos para o GNV.
Na ponta da cadeia, os donos de oficinas mecânicas contam que os clientes estão inseguros. "A pessoa vê na TV que não é recomendável instalar GNV. Acabaram comigo, entendeu?", desabafou Siqueira.
Paulo César Savattone Ribeiro, dono de uma instaladora em São Paulo, recebia cerca de dez pedidos de informação por e-mail ao dia de interessados na conversão. Agora recebe, no máximo, cinco.
Segundo Siqueira, alguns clientes querem até mesmo retirar o kit de adaptação dos carros, mas a ameaça de racionamento assusta principalmente as pessoas que não podem abrir mão do GNV para trabalhar. "O taxista vai continuar instalando GNV, com crise ou sem crise", afirma Siqueira.
O presidente Lula disse garantir o fornecimento do combustível para quem já fez a conversão para GNV. Entretanto o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que a demanda por GNV deveria ser menor. Segundo ele, o preço, comparado a outros combustíveis, faz com que o consumo seja estimulado num momento em que deveria acontecer o contrário.


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