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Crise afeta oficinas de conversão de gás veicular
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A discussão sobre um eventual racionamento de gás atingiu toda a cadeia produtiva ligada ao GNV (Gás natural veicular). Frank Chen, vice-presidente da Associação Brasileira
do Gás Natural Veicular, afirma
que "todo o mercado sofreu revés imediato".
Donos de oficinas que fazem
a conversão dos carros para
GNV perderam clientes. Na semana do dia 7, quando o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, desaconselhou o uso do combustível, a
oficina de Cristiano Siqueira,
em São Paulo, atendeu quatro
clientes. Uma semana antes, 22
pessoas procuraram a oficina.
No país, há 801 instaladores
de GNV registrados pelo Inmetro. De acordo com a Abegas
(Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás
Canalizado), em setembro,
1.454 postos tinham GNV.
As conversões para gás caíram mesmo antes da discussão
atual sobre a crise do combustível. De janeiro a setembro, a
conversão recuou 24% ante
igual período do ano anterior,
enquanto a frota brasileira
cresceu 11,4%, segundo o IBP
(Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
O vice-presidente da Associação Latino-Americana de
GNV, Rosalino Fernandes, disse que 2006 foi um ano excepcional para o GNV, quando
houve mais de 272 mil conversões. Já 2007 deve ter queda,
causada pelo aumento no preço
do combustível. Até setembro,
foram cerca de 151 mil.
No Brasil, o número de veículos convertidos para o combustível era de 1.476.219 no terceiro trimestre deste ano, de acordo com o IBP. O Rio de Janeiro
concentra 42% da frota, e São
Paulo, 25%.
Chen, que também é presidente da Gifel, indústria de cilindros de gás, afirma que não
diminuiu a produção na fábrica
porque os contratos com os fornecedores são definidos com
antecedência, mas que já sente
a crise no mercado. "Parte da
nossa fabricação está voltada
para a fabricação do cilindro de
GNV, produto que o mercado
não quer mais como antes."
O fabricante de cilindros Mat
S.A. concorda com o impacto da
crise. "O mercado está se rescindindo e não sabemos quando vai tomar um novo fôlego",
diz Jair Poliche, do departamento comercial. Poliche relata que os instaladores de GNV
não compram com a mesma regularidade. "Falta uma palavra
oficial de que não vai faltar gás."
Apesar das impressões pessimistas das indústrias, Fernandes prevê que o balanço final
das conversões em 2007 se
iguale ao número registrado
em 2005, quando foram registradas 216 mil adaptações de
veículos para o GNV.
Na ponta da cadeia, os donos
de oficinas mecânicas contam
que os clientes estão inseguros.
"A pessoa vê na TV que não é
recomendável instalar GNV.
Acabaram comigo, entendeu?",
desabafou Siqueira.
Paulo César Savattone Ribeiro, dono de uma instaladora em
São Paulo, recebia cerca de dez
pedidos de informação por e-mail ao dia de interessados na
conversão. Agora recebe, no
máximo, cinco.
Segundo Siqueira, alguns
clientes querem até mesmo retirar o kit de adaptação dos carros, mas a ameaça de racionamento assusta principalmente
as pessoas que não podem abrir
mão do GNV para trabalhar. "O
taxista vai continuar instalando GNV, com crise ou sem crise", afirma Siqueira.
O presidente Lula disse garantir o fornecimento do combustível para quem já fez a conversão para GNV. Entretanto o
presidente da Petrobras, José
Sergio Gabrielli, disse que a demanda por GNV deveria ser
menor. Segundo ele, o preço,
comparado a outros combustíveis, faz com que o consumo seja estimulado num momento
em que deveria acontecer o
contrário.
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