São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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Citi tentou vender fatia ao Brasil, diz Lobão

Segundo o ministro, governo recusou oferta porque, em plena crise, tinha outras prioridades; banco não comenta

Banco americano procurou vários países emergentes para se capitalizar após colapso do sistema financeiro

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

No auge da crise, o Citigroup procurou o governo brasileiro para negociar a venda de até um terço do grupo para o Brasil, disse ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante palestra a representantes de bancos, investidores e empresários em Nova York, organizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA.
Lobão disse que ouviu a história do próprio presidente Lula. Em meio a um discurso sobre os planos de investimento do setor elétrico e da Petrobras, Lobão começou a falar sobre os sinais do novo papel do Brasil na economia mundial.
Sem maiores explicações, anunciou: "E eu aqui faço uma revelação dita a mim recentemente pelo próprio presidente da República. No epicentro da crise econômica aqui nos EUA, o Brasil quase comprou um terço do Citibank", disse.
Depois, em entrevista, explicou que o Brasil foi procurado no começo deste ano por representantes do banco. "O Brasil teve essa possibilidade, mas achou que teria de sair da crise primeiro... Foi uma boa oportunidade perdida, mas qualquer governo prudente teria tido cautela mesmo", disse.
De acordo com Lobão, o negócio poderia ter trazido lucro e prestígio ao país. O Citi foi o maior credor individual do Brasil até 1987. Nos anos 1990, William Rhodes, então presidente do Citi, comandou a renegociação da dívida dos países latino-americanos, inclusive do Brasil.
De acordo com o relato de Lobão, caso a negociação tivesse prosperado, uma fatia do banco teria sido comprada pelo Tesouro. As discussões que resultaram na desistência do negócio foram feitas entre Banco Central, Fazenda e Presidência da República, segundo ele.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que tenha sido procurado pelo Citigroup para negociar a venda de qualquer participação no grupo. O Citibank brasileiro preferiu não comentar o assunto.
Lobão não soube dizer quais os valores envolvidos, mas disse que não seria superior a US$ 40 bilhões. Em fevereiro, os EUA aumentaram sua participação no Citigroup para um terço do capital, convertendo ações preferenciais em ações ordinárias. Antes disso, o banco já havia recebido US$ 45 bilhões em ajuda do governo americano.

Fundo soberano
Para capitalizar o Citi, investidores e acionistas importantes do grupo bateram em várias portas para levantar recursos. À época, o pouco dinheiro disponível era de governos de países emergentes, em particular de fundos soberanos.
O Brasil teria sido um desses países consultados para participar da injeção de capital, junto com outras nações de Ásia e Oriente Médio, segundo fontes do mercado. O Brasil já tinha na época US$ 200 bilhões nas reservas internacionais, uma das maiores do planeta.
O governo brasileiro, porém, não tinha um fundo soberano institucionalizado capaz de viabilizar um investimento desse porte. No ano passado, o governo separou US$ 14 bilhões para constituir seu fundo soberano, cuja regulamentação está parada no Congresso.
No capital do Citigroup, entraram os fundos soberanos de Abu Dhabi, de Kuait e de Cingapura. O banco teve ainda aporte do príncipe Alwaleed bin Talal, da Arábia Saudita.

Rumores no Brasil
No Brasil, o Citigroup foi alvo de sucessivos rumores sobre a venda de suas operações no país, onde está desde 1915, principalmente após as fusões entre Itaú e Unibanco e Santander e Real, no ano passado.
O banco atua no varejo de alta renda e tem uma das maiores carteiras de atendimento a multinacionais. Lucrou R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre deste ano, mais do que a Caixa Econômica Federal. Tem 127 agências e emprega 5.910 pessoas no Brasil.
Em plena crise, o presidente mundial do grupo, o indiano Vikran Pandit, veio ao Brasil duas vezes: em novembro do ano passado e em junho deste ano. Nas duas, juntou o mercado para negar que pretendia deixar o país, um dos mais lucrativos no mundo.
O banco, no entanto, vendeu uma a uma todas as participações em empresas consideradas não estratégicas. Neste ano, vendeu por R$ 2,8 bilhões os 17% restantes que tinha na Redecard, segunda maior processadora de cartões de crédito no Brasil depois da VisaNet. Segundo os executivos do banco, a ideia era manter foco no crédito e na atividade bancária.
Em maio de 2008, vendeu sua participação para a Oi na Solpart, holding que controlava a Brasil Telecom, por R$ 2,3 bilhões. Em dezembro do ano passado, levantou mais R$ 1 bilhão com a saída do metrô do Rio de Janeiro.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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