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Citi tentou vender fatia ao Brasil, diz Lobão
Segundo o ministro, governo recusou oferta porque, em plena crise, tinha outras prioridades; banco não comenta
Banco americano
procurou vários países
emergentes para se
capitalizar após colapso
do sistema financeiro
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
No auge da crise, o Citigroup
procurou o governo brasileiro
para negociar a venda de até
um terço do grupo para o Brasil, disse ontem o ministro de
Minas e Energia, Edison Lobão, durante palestra a representantes de bancos, investidores e empresários em Nova
York, organizada pela Câmara
de Comércio Brasil-EUA.
Lobão disse que ouviu a história do próprio presidente Lula. Em meio a um discurso sobre os planos de investimento
do setor elétrico e da Petrobras,
Lobão começou a falar sobre os
sinais do novo papel do Brasil
na economia mundial.
Sem maiores explicações,
anunciou: "E eu aqui faço uma
revelação dita a mim recentemente pelo próprio presidente
da República. No epicentro da
crise econômica aqui nos EUA,
o Brasil quase comprou um terço do Citibank", disse.
Depois, em entrevista, explicou que o Brasil foi procurado
no começo deste ano por representantes do banco. "O Brasil
teve essa possibilidade, mas
achou que teria de sair da crise
primeiro... Foi uma boa oportunidade perdida, mas qualquer
governo prudente teria tido
cautela mesmo", disse.
De acordo com Lobão, o negócio poderia ter trazido lucro
e prestígio ao país. O Citi foi o
maior credor individual do Brasil até 1987. Nos anos 1990, William Rhodes, então presidente
do Citi, comandou a renegociação da dívida dos países latino-americanos, inclusive do Brasil.
De acordo com o relato de
Lobão, caso a negociação tivesse prosperado, uma fatia do
banco teria sido comprada pelo
Tesouro. As discussões que resultaram na desistência do negócio foram feitas entre Banco
Central, Fazenda e Presidência
da República, segundo ele.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que tenha
sido procurado pelo Citigroup
para negociar a venda de qualquer participação no grupo. O
Citibank brasileiro preferiu
não comentar o assunto.
Lobão não soube dizer quais
os valores envolvidos, mas disse que não seria superior a US$
40 bilhões. Em fevereiro, os
EUA aumentaram sua participação no Citigroup para um
terço do capital, convertendo
ações preferenciais em ações
ordinárias. Antes disso, o banco
já havia recebido US$ 45 bilhões em ajuda do governo
americano.
Fundo soberano
Para capitalizar o Citi, investidores e acionistas importantes do grupo bateram em várias
portas para levantar recursos.
À época, o pouco dinheiro disponível era de governos de países emergentes, em particular
de fundos soberanos.
O Brasil teria sido um desses
países consultados para participar da injeção de capital, junto com outras nações de Ásia e
Oriente Médio, segundo fontes
do mercado. O Brasil já tinha na
época US$ 200 bilhões nas reservas internacionais, uma das
maiores do planeta.
O governo brasileiro, porém,
não tinha um fundo soberano
institucionalizado capaz de viabilizar um investimento desse
porte. No ano passado, o governo separou US$ 14 bilhões para
constituir seu fundo soberano,
cuja regulamentação está parada no Congresso.
No capital do Citigroup, entraram os fundos soberanos de
Abu Dhabi, de Kuait e de Cingapura. O banco teve ainda aporte
do príncipe Alwaleed bin Talal,
da Arábia Saudita.
Rumores no Brasil
No Brasil, o Citigroup foi alvo
de sucessivos rumores sobre a
venda de suas operações no
país, onde está desde 1915,
principalmente após as fusões
entre Itaú e Unibanco e Santander e Real, no ano passado.
O banco atua no varejo de alta renda e tem uma das maiores
carteiras de atendimento a
multinacionais. Lucrou R$ 1,7
bilhão no primeiro semestre
deste ano, mais do que a Caixa
Econômica Federal. Tem 127
agências e emprega 5.910 pessoas no Brasil.
Em plena crise, o presidente
mundial do grupo, o indiano Vikran Pandit, veio ao Brasil duas
vezes: em novembro do ano
passado e em junho deste ano.
Nas duas, juntou o mercado para negar que pretendia deixar o
país, um dos mais lucrativos no
mundo.
O banco, no entanto, vendeu
uma a uma todas as participações em empresas consideradas não estratégicas. Neste ano,
vendeu por R$ 2,8 bilhões os
17% restantes que tinha na Redecard, segunda maior processadora de cartões de crédito no
Brasil depois da VisaNet. Segundo os executivos do banco, a
ideia era manter foco no crédito e na atividade bancária.
Em maio de 2008, vendeu
sua participação para a Oi na
Solpart, holding que controlava
a Brasil Telecom, por R$ 2,3 bilhões. Em dezembro do ano
passado, levantou mais R$ 1 bilhão com a saída do metrô do
Rio de Janeiro.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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