São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

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Remessa de lucro triplica no governo Lula

Somado a dividendos, valor enviado ao ano para o exterior era de US$ 5,1 bi em 2002 e deve superar US$ 16 bi em 2006

Ganhos crescentes das empresas, investimentos estrangeiros em alta e aplicações maiores na Bolsa explicam expansão

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As remessas de lucros e dividendos ao exterior, feitas por empresas multinacionais e investidores estrangeiros no mercado de capitais, triplicaram no governo Lula. De US$ 5,1 bilhões em 2002, essas remessas totalizaram US$ 15,5 bilhões neste ano, no acumulado em 12 meses até novembro. E podem superar os US$ 16 bilhões no fechamento do ano, segundo projeção do Depec (Departamento de Estudos Econômicos) do Bradesco.
Parte dos recursos remetidos -US$ 10,94 bilhões- é lucro enviado às matrizes das multinacionais. Outros US$ 4,53 bilhões são dividendos pagos a estrangeiros que fizeram aplicações em ações de empresas brasileiras na Bolsa de Valores local e em ADRs (recibos de ações estrangeiras negociadas nos Estados Unidos).
A expansão das remessas vem desde o início da década, mas ganhou força nos dois últimos anos em conseqüência da explosão do lucro das empresas -especialmente das exportadoras. Também resultam do aumento do fluxo de investimento direto e das aplicações em Bolsa, que elevaram o estoque de recursos estrangeiros no país para US$ 401,8 bilhões até novembro. Essa tendência deve prosseguir nos próximos anos, segundo analistas.
A lógica é que, quanto mais os estrangeiros investirem dinheiro no país e melhor andarem seus negócios, mais lucros terão para remeter às suas matrizes. Como a economia brasileira é muito internacionalizada -o estoque de investimento estrangeiro no país só é menor do que o da China entre os emergentes-, é natural que as remessas de lucros sejam altas, segundo Octavio de Barros, diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco.
Da mesma forma, a expansão do mercado de capitais com a participação crescente de investidores estrangeiros tende a alimentar a remessa de dividendos. Só em operações de ofertas de ações na Bovespa os estrangeiros aplicaram US$ 10 bilhões neste ano, segundo dados do banco Itaú BBA. Os estrangeiros absorveram 73% dos novos papéis colocados por empresas locais na Bolsa.
"O que os investidores estão comprando é o crescimento das empresas", observa Jean Marc Etlin, vice-presidente-executivo do Itaú BBA. Segundo Etlin, nos 45 casos de IPOs (lançamento inicial de ações) feitos desde 2004 na Bovespa, o Ebitda (lucro antes de impostos, amortizações e depreciações) crescia em média 41% ao ano, antes das emissões. Após as emissões, o Ebitda seguiu crescendo 32% ao ano.
O câmbio valorizado também ajudou a impulsionar as remessas nos últimos dois anos, mas não foi o principal fator, segundo Barros. "O crescimento da remessa de lucros é um ótimo sinal, mostra que o Brasil está no radar do investidor internacional como um bom lugar para investir e ganhar dinheiro", observa.

Rentabilidade
O fato de o Brasil ser uma das economias mais rentáveis para o investimento estrangeiro explica o alto volume de remessas de lucros e dividendos dos últimos anos, na opinião de Antônio Corrêa de Lacerda, ex-presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
"Apesar dos inúmeros problemas, a economia brasileira é relativamente estável, cresce pouco, mas cresce, e a rentabilidade das empresas é alta", diz Lacerda. Por isso, segundo ele, o fluxo de investimento estrangeiro direto vem se mantendo -embora não cresça muito- e a repatriação de capital (empresas estrangeiras que deixam o país) é pequena.
Neste ano, a estimativa é que o investimento estrangeiro direto líquido chegue a US$ 16 bilhões, ante os US$ 15,1 bilhões do ano passado. Já as repatriações atingiram R$ 8,8 bilhões (US$ 4,1 bilhões) em 12 meses, de novembro de 2005 a outubro de 2006, segundo o Depec.
Lacerda diz que o fluxo de investimento direto deve aumentar nos próximos anos se a economia crescer a um ritmo mais acelerado. "Nada comparável à China, por exemplo, pois nosso grau de internacionalização é mais maduro, a presença do capital estrangeiro no país já está consolidada", diz Lacerda. "Os outros BRICs [sigla para Brasil, Índia, Rússia e China] ainda estão em processo de internacionalização e têm mais espaço para o ingressos de capital estrangeiro", conclui.


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