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Remessa de lucro triplica no governo Lula
Somado a dividendos, valor enviado ao ano para o exterior era de US$ 5,1 bi em 2002 e deve superar US$ 16 bi em 2006
Ganhos crescentes das empresas, investimentos estrangeiros em alta e aplicações maiores na Bolsa explicam expansão
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As remessas de lucros e dividendos ao exterior, feitas por
empresas multinacionais e investidores estrangeiros no
mercado de capitais, triplicaram no governo Lula. De US$
5,1 bilhões em 2002, essas remessas totalizaram US$ 15,5
bilhões neste ano, no acumulado em 12 meses até novembro.
E podem superar os US$ 16 bilhões no fechamento do ano,
segundo projeção do Depec
(Departamento de Estudos
Econômicos) do Bradesco.
Parte dos recursos remetidos
-US$ 10,94 bilhões- é lucro
enviado às matrizes das multinacionais. Outros US$ 4,53 bilhões são dividendos pagos a
estrangeiros que fizeram aplicações em ações de empresas
brasileiras na Bolsa de Valores
local e em ADRs (recibos de
ações estrangeiras negociadas
nos Estados Unidos).
A expansão das remessas
vem desde o início da década,
mas ganhou força nos dois últimos anos em conseqüência da
explosão do lucro das empresas
-especialmente das exportadoras. Também resultam do
aumento do fluxo de investimento direto e das aplicações
em Bolsa, que elevaram o estoque de recursos estrangeiros
no país para US$ 401,8 bilhões
até novembro. Essa tendência
deve prosseguir nos próximos
anos, segundo analistas.
A lógica é que, quanto mais
os estrangeiros investirem dinheiro no país e melhor andarem seus negócios, mais lucros
terão para remeter às suas matrizes. Como a economia brasileira é muito internacionalizada -o estoque de investimento
estrangeiro no país só é menor
do que o da China entre os
emergentes-, é natural que as
remessas de lucros sejam altas,
segundo Octavio de Barros, diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco.
Da mesma forma, a expansão
do mercado de capitais com a
participação crescente de investidores estrangeiros tende a
alimentar a remessa de dividendos. Só em operações de
ofertas de ações na Bovespa os
estrangeiros aplicaram US$ 10
bilhões neste ano, segundo dados do banco Itaú BBA. Os estrangeiros absorveram 73%
dos novos papéis colocados por
empresas locais na Bolsa.
"O que os investidores estão
comprando é o crescimento
das empresas", observa Jean
Marc Etlin, vice-presidente-executivo do Itaú BBA. Segundo Etlin, nos 45 casos de IPOs
(lançamento inicial de ações)
feitos desde 2004 na Bovespa,
o Ebitda (lucro antes de impostos, amortizações e depreciações) crescia em média 41% ao
ano, antes das emissões. Após
as emissões, o Ebitda seguiu
crescendo 32% ao ano.
O câmbio valorizado também ajudou a impulsionar as
remessas nos últimos dois
anos, mas não foi o principal fator, segundo Barros. "O crescimento da remessa de lucros é
um ótimo sinal, mostra que o
Brasil está no radar do investidor internacional como um
bom lugar para investir e ganhar dinheiro", observa.
Rentabilidade
O fato de o Brasil ser uma das
economias mais rentáveis para
o investimento estrangeiro explica o alto volume de remessas
de lucros e dividendos dos últimos anos, na opinião de Antônio Corrêa de Lacerda, ex-presidente da Sobeet (Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica).
"Apesar dos inúmeros problemas, a economia brasileira é
relativamente estável, cresce
pouco, mas cresce, e a rentabilidade das empresas é alta", diz
Lacerda. Por isso, segundo ele,
o fluxo de investimento estrangeiro direto vem se mantendo
-embora não cresça muito- e
a repatriação de capital (empresas estrangeiras que deixam
o país) é pequena.
Neste ano, a estimativa é que
o investimento estrangeiro direto líquido chegue a US$ 16 bilhões, ante os US$ 15,1 bilhões
do ano passado. Já as repatriações atingiram R$ 8,8 bilhões
(US$ 4,1 bilhões) em 12 meses,
de novembro de 2005 a outubro de 2006, segundo o Depec.
Lacerda diz que o fluxo de investimento direto deve aumentar nos próximos anos se a economia crescer a um ritmo mais
acelerado. "Nada comparável à
China, por exemplo, pois nosso
grau de internacionalização é
mais maduro, a presença do capital estrangeiro no país já está
consolidada", diz Lacerda. "Os
outros BRICs [sigla para Brasil,
Índia, Rússia e China] ainda estão em processo de internacionalização e têm mais espaço para o ingressos de capital estrangeiro", conclui.
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