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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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MARCHA LENTA

Para analista, Brasil, com crescimento de 1% neste ano, deve atravancar o crescimento da América Latina

AL ainda deve crescer menos que a África

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo terceiro ano consecutivo, os países emergentes da América Latina vão amargar crescimento menor (2,4%) que os da África (3,8%), segundo projeções do Institute of International Finance.
Segundo Robin Bew, economista-chefe da Economist Intelligence Unit (EIU), o desempenho da economia brasileira será o maior freio à expansão da região. "O Brasil vai atravancar o crescimento da América Latina", afirma Bew.
Segundo o economista, a crise na Venezuela certamente também trará sérias consequências para a região e até para o mundo caso a produção de petróleo do país continue deprimida.
Já a crise política na Venezuela aumenta ainda mais a aversão de investidores externos em relação à América Latina.
No entanto, o Brasil tem peso maior na definição dos rumos econômicos da região.
"Esperamos crescimento de apenas 1% para o Brasil novamente este ano. Isso é ruim para toda a América Latina", afirma Bew.
Segundo ele, o pior é que o governo brasileiro terá pouco espaço para manobras. Com o câmbio desvalorizado, a inflação deverá ser alta novamente. Isso reduz as chances de corte de juros.
Com a necessidade de aumentar o rigor fiscal, o governo também não poderá injetar recursos para estimular a economia.
"Isso não tem nada a ver com o novo governo. Aconteceria com qualquer um", diz Bew.

Outros emergentes
Paulo Leme, do Goldman Sachs, diz que o aumento da demanda por bens e serviços importados por parte dos países industrializados deve favorecer os mercados emergentes. A expectativa do banco norte-americano é que essa demanda cresça 6,1% em 2003 contra uma retração de 6,8% no ano passado.
"Em termos históricos essa média ainda é baixa, mas já representa uma recuperação expressiva", diz Leme.
O fato de que as taxas de juros nos países desenvolvidos está muito baixa e o retorno dos investimentos tem sido pequeno também tende a beneficiar os mercados emergentes.
Mas esse fluxo maior de capitais tende a passar ao largo da América Latina.
"Esses recursos devem ir para os países da Ásia e do Leste Europeu", afirma Bew.
Com tudo isso, novamente, a América Latina crescerá menos até que a África. Segundo Renato Bauman, economista-chefe da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o isolamento da maior parte dos países da África dos mercados globalizados faz com que estes sejam menos sujeitos às crises financeiras.
"Esse isolamento, obviamente, tem consequências perversas para os países africanos, embora estes sejam menos sujeitos à volatilidade dos mercados", diz Bauman.
Segundo Bauman, a saída para a América Latina é tentar diminuir a dependência de capitais externos, sem se isolar da economia mundial. Isso ajudaria a amenizar o efeito de choques externos.
"Por isso, as políticas de incentivo às exportações são importantes", diz Bauman.(ÉRICA FRAGA)


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