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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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Com guerra prolongada, PIB pode cair

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço de uma guerra relativamente longa entre Estados Unidos e Iraque seria alto para o Brasil. Se o iminente conflito se arrastasse por meses, o país poderia encerrar o ano com crescimento negativo, dólar a R$ 4,00 e dívida pública em níveis recordes.
Estudo realizado pela consultoria Global Invest mostra que se a guerra começasse nas próximas semanas e se prolongasse além do primeiro semestre, o Brasil poderia encerrar o ano amargando uma queda de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país). A relação dívida pública líquida/PIB, nesse cenário, chegaria a 62,4%.
Mas esse é o cenário menos provável, segundo instituições financeiras e consultorias ouvidas pela Folha. A percepção geral é de que, se houver conflito, será rápido, com duração de poucas semanas.
"É improvável que haja uma guerra longa. Os efeitos para a economia brasileira devem ser apenas o de um soluço, isto é, com o dólar ficando um pouco mais pressionado, mas depois retornando para perto dos R$ 3,30", afirma o economista do banco Lloyds TSB Wilson Ramião.
O estudo também projeta um cenário bastante otimista, em que o imbróglio entre EUA e Iraque se resolveria rapidamente e sem a necessidade de uma guerra.
Se isso viesse a ocorrer, haveria espaço para a economia mundial se recuperar mais rapidamente no segundo semestre, com os esperados reflexos positivos para o Brasil. Nesse panorama, a economia brasileira encontraria espaço para crescer até 3,5% neste ano. O dólar encerraria o ano em R$ 3,20, e a taxa básica (Selic) chegaria ao fim de dezembro em 16%.
"Somente se tivermos uma guerra que se arraste por meses é que a Selic deve se manter no patamar atual [25,5% ao ano". Do contrário, a expectativa é que recue a partir do fim do primeiro semestre", afirma Fernando Coelho, analista da ABM Consulting.

Perspectivas
Para Fernando Ferreira, diretor da Global Invest, mesmo no pior dos cenários a inflação não vai ir muito além da meta ajustada do governo, de 8,5%, com o IPCA chegando, no máximo, aos 11,78%. "Os maiores problemas, se houvesse um conflito mais duradouro, seriam a explosão da relação dívida/PIB e o crescimento da economia, que poderia ficar negativo. Isso seria um desastre nesse primeiro ano de governo petista", diz Ferreira.
Nenhum dos economistas e analistas consultados diz acreditar que o dólar vá muito além dos R$ 4,00, mesmo com o pior dos cenários. A cotação da moeda norte-americana já estaria muito elevada em relação ao real -na última sexta-feira fechou em R$ 3,63-, com o reflexo negativo da guerra já embutido.

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