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DISPUTA COMERCIAL
Empresários concordam em reduzir volume de exportações ao mercado vizinho, que suspenderá barreira
Indústria têxtil fecha acordo com Argentina
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários brasileiros e argentinos do setor têxtil chegaram
a um acordo preliminar na madrugada de sábado para limitar as
exportações brasileiras de tecido
de algodão a partir deste ano.
Após nove horas de negociação,
os empresários brasileiros cederam, em parte, às demandas argentinas e concordaram em reduzir o volume das exportações de
20 milhões de metros lineares (registrados ano passado) para 15
milhões em 2004, segundo o assessor da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Carlos
Brickmann. Limitações para outros segmentos do setor têxtil, como fibras e tecidos sintéticos,
continuam em discussão.
É a primeira vez que um contencioso entre os dois principais
membros do Mercosul é resolvido em negociações com os setores
privados. Entretanto os negociadores só chegaram a um acordo
depois que o governo argentino
ameaçou o Brasil com entraves
burocráticos à exportação de produtos têxteis.
Na sexta, o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, anunciou que o governo iria
aplicar um sistema de licenças
não-automáticas para a importação de têxteis do Brasil.
A medida foi adotada em resposta a pressões dos empresários
locais, que reclamam de uma suposta invasão de produtos brasileiros nos últimos dois anos.
Empresários dos dois países vinham negociando havia cerca de
três meses uma saída para a questão, mas chegaram a um impasse
na última semana, quando grupos locais rechaçaram a proposta
feita pelos brasileiros de manter o
nível das exportações em 2004 no
mesmo patamar do ano passado.
Para os argentinos, o Brasil deveria restringir as exportações a 10
milhões de metros lineares -a
metade do registrado em 2003.
Na última semana, esses grupos
aumentaram a pressão sobre o
governo argentino para que adotasse medidas unilaterais de proteção à indústria.
Surpresa
No entanto, o coordenador das
empresas argentinas, Daniel Roiter, disse que o anúncio por parte
de Lavagna, da aplicação de licenças para importações, tomou de
surpresa os empresários locais,
que estavam em São Paulo na sexta-feira para uma reunião de negociação com o presidente da
Abit, Paulo Skaf.
"A decisão nos pegou de surpresa, em meio à negociação. Depois
do anúncio de Lavagna, os brasileiros nos disseram que, como o
país não demonstrava boa vontade, não iam negociar, mas mais
tarde pudemos acordar as bases
para um acordo voluntário", disse
Roiter ao jornal "La Nación".
"Preferimos um acordo voluntário porque no longo prazo medidas como a das licenças são
contraproducentes", afirmou.
Pela versão apresentada pelos
negociadores brasileiros, os empresários argentinos teriam usado a decisão de seu governo como
mais um objeto de pressão. Paulo
Skaf, presidente da Abit, chegou a
dar por encerradas as conversas.
Voltou atrás depois de os parceiros terem se mostrado ""flexíveis".
De qualquer forma, com o acordo, a aplicação das licenças deve
ser cancelada. Ao anunciar a decisão, Lavagna afirmou que se tratava de uma medida transitória,
até que os grupos privados chegassem a um acordo.
Além da indústria têxtil, os setores de calçados e linha branca
também reclamam de uma invasão de produtos brasileiros.
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