São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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VÔO ERRÁTICO

Presidente do banco central dos EUA afirma que déficit público pode elevar taxa de juros e afetar o crescimento

Greenspan defende corte em gasto social

Larry Downing/Reuters
O presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, 77, durante depoimento à Comissão de Orçamento da Câmara, em Washington


DA REDAÇÃO

O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Alan Greenspan, recomendou ontem ao Congresso norte-americano que seja feito um corte nos gastos sociais no país. De acordo com Greenspan, o crescente déficit público americano poderá significar juros mais altos, menos investimentos privados e menor crescimento econômico.
Em depoimento à Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, Greenspan disse que um eventual aumento nos impostos para financiar o déficit público representaria uma ameaça para a atividade econômica. Por isso, o presidente do Fed defendeu a redução nos gastos dos programas sociais, principalmente na previdência e na assistência médica.
"É muito difícil estimar a magnitude exata de tais riscos, mas eles representam uma preocupação suficiente, em meu julgamento, para justificar a meta de reduzir o déficit fiscal primordialmente, se não totalmente, pelo lado dos gastos", disse Greenspan.
Segundo as últimas estimativas do governo norte-americano, o déficit público chegará a US$ 521 bilhões ao término do ano fiscal corrente, que se encerra em setembro. Em termos nominais, seria um recorde, ainda que, como proporção do PIB, o país tenha vivido dias piores na década de 80.
Hoje, o déficit público norte-americano equivale a 5% do PIB (Produto Interno Bruto). A proporção chegou a 8% durante o governo Ronald Reagan (1981-89), republicano como o atual presidente dos EUA, George W. Bush.
Greenspan voltou a destacar, como já fizera em outras ocasiões, a latente ameaça representada pela chamada geração dos "baby boomers", que começa a se aposentar dentro de quatro anos. São 77 milhões de pessoas que nasceram no período de rápido crescimento populacional após a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Segundo Greenspan, a aposentadoria dos "baby boomers" alterará de forma dramática a proporção entre contribuintes e aposentados. Para o presidente do Fed, o melhor seria reduzir o valor dos benefícios. Um eventual aumento dos impostos deveria ser a última alternativa.
Greenspan, que completa 78 anos na próxima semana, disse que os benefícios dos atuais aposentados não deveriam ser mexidos. As alterações ocorreriam para os novos beneficiários.
O presidente do Fed tem sido alvo de críticas, sobretudo por parte da oposição democrata, por causa do seu endosso aos cortes de impostos do governo Bush. Para os críticos dessa política, a redução beneficiou os mais riscos e desestabilizou as contas do país.
Apesar de os EUA estarem hoje com as menores taxas de juros das últimas quatro décadas, o presidente do Fed lembrou que essa situação não vai se manter para sempre. Segundo Greenspan, os investidores começarão a exigir taxas de juros mais elevadas, caso não percebam um esforço do governo para conter o déficit.
"Seremos confrontados, nos próximos anos, com uma pressão de alta nos juros de longo prazo, o que será muito prejudicial ao crescimento de longo prazo", disse Greenspan.
A taxa básica de juros do país está em 1% ao ano, o menor nível desde 1958. Os títulos do governo com prazo de vencimento de dez anos estão pagando juros de 4% ao ano, a taxa mais baixa em quatro décadas.
Hoje, a seguridade social e o Medicare (assistência médica) têm um custo equivalente a 7% do PIB. Mas projeções do governo mostram que o peso dos programas federais subirá para 12% do PIB, caso não haja reformas e cortes nos gastos.

Com agências internacionais


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