|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Subprocurador tenta anular veto à Nestlé
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O subprocurador-geral da República Moacir Guimarães Morais Filho entrou ontem no Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) com pedido de
anulação da decisão que vetou a
compra da Chocolates Garoto pela multinacional Nestlé.
Enquanto o recurso estiver sendo analisado, a determinação para a venda da empresa brasileira
fica suspensa.
Os embargos de declaração
apresentados por Morais Filho
pedem que o conselho anule todas as etapas do processo, até
mesmo a decisão final, após o Ministério Público Federal ter emitido seu parecer no caso.
"Depois que emiti meu parecer
foram juntados ao processo vários estudos e realizadas várias
audiências, e o Ministério Público
não tomou conhecimento do teor
disso", declarou.
Embargos de declaração são
instrumentos jurídicos usados
quando há omissão, contradição
ou obscuridade na decisão, segundo a resolução 26/02 do próprio Cade. O pedido de anulação,
segundo Morais Filho, constaria
dos questionamentos preliminares dos embargos.
Neles, ainda há um pedido de
reapreciação da decisão, caso o
tribunal da concorrência não
aceite o pedido de anulação. "Ainda fiz um pedido de recurso hierárquico ao ministro da Justiça, se
não houver revisão da decisão. Isso é possível e há precedente na
história do Cade", declarou.
Recurso ao ministério
Segundo ele, em 1999, a siderúrgica Gerdau recorreu à Justiça pedindo que uma decisão do Cade
fosse levada ao ministro da Justiça. "O Cade é uma autarquia e está administrativamente subordinada ao ministro."
Procurado pela Folha, o presidente do Cade, João Grandino
Rodas, que votou pela compra da
Garoto com restrições, informou,
por meio de sua assessoria, que
ainda não tivera acesso aos recursos apresentados pelo MP e, assim, não comentaria o assunto.
O Cade julgou o processo Nestlé/Garoto no início do mês. A
compra pela multinacional suíça
ocorreu em 2002.
De acordo com a decisão, a Nestlé tem 150 dias (a contar da última segunda-feira) para vender
todos os ativos da Garoto. Para o
conselho, a operação não pode ser
aprovada porque gera alta concentração no mercado de chocolates brasileiro. Em alguns produtos, como a linha de coberturas líquidas de chocolate, a concentração chega a 100%.
O subprocurador-geral argumentou que os embargos pedem
esclarecimento sobre vários pontos da decisão do conselho. "É
preciso que seja esclarecido um
ponto que é o desinvestimento.
Quando se fala em desinvestir,
não significa que todos os ativos
tenham de ser vendidos. Pode ser
alienada somente uma parte do
negócio", disse.
Ele considera ainda que, do
ponto de vista constitucional, a
decisão do Cade desrespeita o
princípio da livre concorrência.
"A decisão gera efeitos na concorrência, além dos reflexos para o
consumidor e a sociedade."
Os embargos de declaração do
MP agora serão encaminhados ao
relator do caso, conselheiro
Thompson Andrade, que deu parecer contra a compra. Ele emitirá
um despacho sobre os recursos e
o submeterá ao plenário do Cade.
O tribunal decidirá, então, se os
recursos são procedentes ou não.
Texto Anterior: Exclusividade dos canais no país pode acabar Próximo Texto: Frase Índice
|