São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entrada de investimento externo dobra em janeiro

Juro alto ajudou a atrair US$ 4,8 bi no mês passado, mas fluxo cai em fevereiro

Cerca de US$ 1,7 bi foi investido por estrangeiros em títulos públicos no mercado interno para ganhar com taxa de juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fluxo de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil chegou a US$ 4,814 bilhões no mês passado, o dobro do valor registrado em janeiro de 2007 e 443% a mais do que em dezembro passado. Segundo o Banco Central, instituições financeiras e empresas de metalurgia foram os principais destinos dessas aplicações.
Já neste mês, porém, a situação é um pouco diferente: segundo dados fechados ontem, o fluxo de investimentos está em apenas US$ 100 milhões, devendo chegar a US$ 200 milhões até o final da semana, de acordo com as projeções do BC.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a diferença entre os números em janeiro e fevereiro reflete, principalmente, algumas operações isoladas feitas nas últimas semanas.
Nessas transações, segundo Lopes, três multinacionais venderam as participações que tinham em empresas brasileiras, resultando na saída de aproximadamente US$ 1 bilhão do país, o que, pela estatística do BC, reduz o saldo de investimentos estrangeiros.
Lopes não quis citar os nomes das empresas envolvidas nos negócios, mas afirmou que, apesar de terem grande impacto nas estatísticas de fevereiro, esses eventos foram "pontuais" e não devem afetar a tendência esperada para o resto do ano.
A projeção do BC é que o Brasil receba US$ 28 bilhões em investimentos estrangeiros diretos ao longo de 2008. Se confirmado o ingresso de US$ 200 milhões em fevereiro, o saldo acumulado no primeiro bimestre ficará em cerca de US$ 5 bilhões.
Os investimentos diretos recebidos pelo Brasil até agora ajudam a financiar o déficit em transações correntes observado neste início de ano. Outro fator que ajuda no equilíbrio das contas externas é o fluxo de capitais de curto prazo, que são atraídos pela elevada taxa de juros praticada no país.
Em janeiro, segundo o BC, o país recebeu US$ 1,961 bilhão em capitais de curto prazo, ou seja, que entram no país e saem depois de menos de um ano. Além disso, US$ 1,685 bilhão foi investido por estrangeiros em títulos públicos negociados no mercado interno. Embora esses papéis tenham prazos longos, seu principal atrativo é a taxa de juros, que é alta se comparada com a média internacional.
O economista Fabio Kanczuk, professor da USP, diz que esse movimento tende a se acelerar com a redução dos juros norte-americanos. "A diferença [da taxa brasileira] em relação aos juros dos Estados Unidos está maior ainda, então o fluxo financeiro continua alto", afirma.
Com receio de que a crise imobiliária leve os EUA a uma recessão, o Fed (o banco central norte-americano) tem reduzido seguidamente os juros locais, que hoje estão em 3% ao ano. No Brasil, a taxa básica de juros está em 11,25% ao ano.
Isso significa que, caso a taxa de câmbio se mantenha estável, uma aplicação em títulos brasileiros vai sempre render bem mais do que um investimento em papéis norte-americanos numa situação como a atual, o que ajuda a explicar parte do grande fluxo de capitais estrangeiros que tem ocorrido recentemente.


Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Não é hora de vacilar
Próximo Texto: Balança tem 1º déficit semanal desde 2002
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.