São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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análise

Reservas altas amortecem déficit externo

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de uma semana após o Brasil anunciar que tem dinheiro em caixa para "zerar" a dívida externa, o país divulga o pior resultado desde 1998 de suas transações com o restante do mundo. Na avaliação de economistas, não se trata de uma contradição, mas de uma mudança no relacionamento do Brasil com o exterior, em que o país recebe cada vez mais investimento, mas também deve remeter lucro para remunerar esse capital. No caso, a posição alta das reservas cambiais permite que essa equação aconteça fora de um cenário de crise cambial, como em 2002 e 1998.
"A demanda interna cresce entre 6% e 7%, e o PIB, 4,5%. É natural um aumento das importações. O movimento é saudável dado o crescimento da economia. É natural um país pobre como o Brasil, com baixa poupança [interna], ter déficit [externo]. Nós é que estávamos mal-acostumados", disse Zeina Latif, do Banco Real.
"Não é uma contradição. O que aconteceu é que caiu muito a balança comercial e subiu muito o déficit em serviços. Pode ser que seja pontual porque em janeiro se remetem lucros e dividendos para fora", disse o economista Alcides Leite, da Trevisan.
Para os economistas, além da posição sólida das reservas, a entrada de investimento direto e o câmbio flutuante atenuam a deterioração das transações correntes. Se a saída de recursos levar a uma depreciação do real, os produtos brasileiros ficam mais competitivos e aumentam as exportações. O BC prevê um déficit de US$ 3,5 bilhões nas contas externas em 2008. No último boletim Focus, os analistas de mercado esperavam déficit de US$ 7,85 bilhões -era de US$ 6 bilhões há quatro semanas.
Para José Luiz Rossi, do Ibmec-SP, se o país continuar crescendo de forma acelerada, aumentarão ainda mais as importações e o déficit externo. "O déficit é perfeitamente administrável se o país continuar crescendo."
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) avalia que ainda é cedo para afirmar que a mudança veio para ficar. "O déficit decorreu de resultados surpreendentes: baixo superávit comercial e volume alto de remessas de lucros."


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