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VINICIUS TORRES FREIRE
A cascata de números comerciais
Possível inversão na balança comercial suscita chutes
sobre o caráter "positivo"
ou "perigoso" das mudanças
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NESTES MOMENTOS de virada
das contas externas, é comum ouvir astrologias sobre
qual fator estaria "puxando" exportação e importação, com conseqüências funestas ou benéficas para a
economia, a depender do gosto político ou do balcão do freguês. Coisa
semelhante se passa com o investimento estrangeiro direto, "produtivo", recorde "histórico" em tal ou
qual janeiro, em geral uma bobice,
pois tal número varia muito e de modo quase aleatório, mês a mês.
Delfim Netto costuma repetir que
"mudança grande mesmo na balança foi o petróleo". 30 anos de dados
da Funcex dizem isso mesmo, grosso modo. O padrão muda devagar.
Ouve-se que o atual ciclo de alta de
importações é "positivo", pois "puxado" por bens de capital, máquinas
que incrementam o parque produtivo etc. Bem, nos 12 meses até janeiro
de 2007, o valor das compras de bens
de capital equivalia a 14,1% do total
de importações. Em janeiro de 2004,
ido o primeiro ano Lula, era 14,5%.
Em janeiro de 2005, caíra a 12,4%.
Sobe gradativamente desde então.
Chegou a 21%, em 1997-98, mas o
país importava menos bens intermediários (a economia ia mal) e menos da metade do total que importa
hoje. Sim, o país ora compra mais
máquinas (e tudo o mais!), o "quantum" importado sobe rápido (o preço de bens de capital, em queda, ajuda). Mas isso não muda o padrão das
importações nem "puxa" a balança.
Bens intermediários (insumos industriais) e bens de capital perfazem
uns 74% do total do valor importado
desde 1993, variando mais ou menos
dois pontos. A importação de bens
duráveis (carros, eletrodomésticos
etc.) cresce bem desde o primeiro
ano de Lula. Dobrou sua participação, mas de 2,1% do total para 4,2%.
Mais interessante, os picos e os vales do ritmo da quantidade de exportações e importações estão mais
próximos desde o início do século.
Por ora, o ritmo de alta do "quantum" de importações não está sendo
acompanhado do mergulho inequívoco do "quantum" exportado em
direção ao vermelho, como em outros ciclos. Mas, embora tal relação
esteja mais ou menos estável desde o
trimestre final de 2006, a quantidade importada cresce num ritmo em
torno de quatro vezes mais rápido
que o da quantidade exportada.
Cerca de 34% do valor das importações nos 12 meses até janeiro se
concentrou em petroquímicos, petróleo e carvão, e químicos, como na
média dos anos Lula. Isso se deve a
uma carência histórica de investimento pesado, de retorno demorado, que exige boa engenharia, pessoal treinado e, essencial, ambiente
econômico estável e juro menor.
Outros 30% da importação vêm
de eletrônicos, máquinas e tratores,
peças e veículos. A fim de importar
menos disso, é preciso, repita-se, engenheiros, inovação industrial, pesquisa científica, impostos menores e ambiente estável. Câmbio? Importante, mas sozinho não altera um
padrão industrial no curto prazo.
Resumo da ópera, parece não
adiantar muito procurar em períodos curtos sinais de sangria desatada
ou desastres nacionais, nem marquetar otimismos com o consumo
de máquinas ou pessimismos da desindustrialização. Não é sensato
"deixar como está para ver como fica". Mas a dança dos indicadores
suscita cascatas ideológicas.
vinit@uol.com.br
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