São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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MERCADO TENSO
Mauch diz que não tolerará operações com o intuito de elevar cotação artificialmente; dólar fica em R$ 2,05
BC ameaça punir especulador de câmbio

da Sucursal de Brasília

O Banco Central ameaçou punir bancos que manipularem o mercado de dólar, forçando a alta artificial da moeda norte-americana, e decidiu manter segredo sobre suas intervenções.
A ameaça foi divulgada no início da noite pelo diretor de Fiscalização do BC, Cláudio Mauch, após mais um dia de pressão.
O BC voltou a intervir ontem no câmbio por meio dos bancos que operam em seu nome, segundo operadores. Na média ponderada do BC, o dólar comercial fechou a R$ 2,035, em alta de 1,6%. No mercado, a cotação de fechamento ficou estável em R$ 2,05.
"O BC está atento aos movimentos do mercado e não tolerará operações sem finalidade clara, realizadas apenas com o intuito de pressionar a taxa de câmbio", declarou Mauch por intermédio da assessoria de imprensa do BC.
Ele também sinalizou a suspensão ou o cancelamento de registros de bancos: "A atividade bancária é um serviço concedido e, portanto, depende sempre de autorização do BC, que é o órgão regulador".
A preocupação do BC é evitar que se repita hoje o que ocorreu em 29 de janeiro, a "sexta-feira negra", quando boatos, movimentos especulativos e manipulação de mercado fizeram a cotação do dólar atingir R$ 2,15.
Assim como ocorreu naquele dia (último dia útil do mês), a taxa de hoje determinará os ganhos ou perdas no mercado futuro de câmbio. Quem comprou dólares nesse mercado tem interesse na alta.
A fiscalização do BC pretende evitar uma operação de manipulação de cotações conhecida como "Zé com Zé". Nela, manipuladores compram e vendem dólares entre si, provocando a alta da cotação.
A Folha apurou que o governo montou uma estratégia para evitar que boatos sobre calote da dívida interna pressionem o câmbio.
O Banco do Brasil abasteceu a rede bancária com cédulas para que não ocorram filas nem falte dinheiro nos bancos hoje, caso haja um volume maior de saques.
O BC também decidiu manter segredo sobre suas intervenções no mercado de câmbio. Ao contrário dos dois dias anteriores, ontem a instituição não informou se interveio ou não no mercado.
"Vai ficar claro se (o BC) fez intervenção e quanto fez quando forem divulgadas as reservas cambiais", disse o presidente interino do BC, Demósthenes Madureira de Pinho Neto, pela assessoria.
A Folha apurou que o governo avalia que, se neste mês ocorrerem prejuízos no mercado futuro de dólar, as perdas serão menores que as de janeiro, quando o BC registrou prejuízo de R$ 8 bilhões.
Ontem, as reservas fecharam em US$ 35,705 bilhões (queda de US$ 33 milhões).


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