São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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MERCADO TENSO
Aconselhado por ACM, presidente indicado do BC fará discurso defendendo-se previamente das acusações
Armínio Fraga quer "desarmar oposição"

RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília

O economista Armínio Fraga, presidente indicado para o Banco Central, vai se antecipar a eventuais perguntas embaraçosas dos senadores da oposição na arguição pública da Comissão de Assuntos Econômicos, que acontece a partir das 9h de hoje.
Em sua exposição inicial, Fraga deve se defender previamente das acusações previsíveis, abordando todas as questões polêmicas nas quais foi envolvido.
A estratégia de Fraga, aconselhada pelo presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e pelos líderes partidários governistas, é desarmar a oposição, que prepara um forte interrogatório, dando ênfase a questões éticas, como a relação do economista com o megainvestidor George Soros.
"Não pense que ele (Fraga) vai sofrer desgaste. Ele vai crescer se defendendo das acusações, porque é competente e não há nada que possa prejudicá-lo moralmente", afirmou ontem o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que vai assistir à arguição pessoalmente.
Para ACM, não haverá surpresas. "Acontecerá o de sempre: a oposição ataca e o governo defende e aprova", disse.
ACM mandou distribuir 210 sanduíches e refrigerantes durante a sessão, que deverá durar mais de seis horas. Além de Fraga, os outros cinco diretores indicados para o BC também serão sabatinados na mesma sessão. Depois da arguição, a CAE vota as indicações, que irão a plenário na próxima terça-feira.
Fraga irá munido de documentação inocentando-o de processos administrativos que sofreu quando ocupou a diretoria do BC no governo Collor.
Além disso, os governistas -a começar pelo relator, Ney Suassuna (PMDB-PB)- deverão sabatinar duramente o economista, criando condições para que ele esclareça todas as suspeitas já divulgadas pela imprensa. Deverão também direcionar o debate para as questões técnicas.
Fraga já teve uma prévia do que enfrentará hoje nas conversas que manteve com todos os líderes partidários do Senado -inclusive Marina Silva (PT-AC), da oposição- na noite de anteontem.

Duro, mas educado
"Foi uma conversa protocolar de pré-sabatina. Eu lhe disse que não faremos perguntas de ordem pessoal, mas que abordaremos questões de ordem técnica, política e ética. Ele disse que está disposto a responder a todas as perguntas da oposição", disse Marina.
No gabinete no líder do PFL, Hugo Napoleão (PI), Fraga foi orientado por aliados como o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), um dos defensores da idéia de que os próprios governistas deveriam fazer as perguntas mais difíceis.
O líder do PPB, Leomar Quintanilha (TO), perguntou se o câmbio continuaria flutuante. Fraga respondeu que a política cambial não deve ser rígida.
O presidente da CAE, Fernando Bezerra (PMDB-RN), prevê uma sessão tumultuada. "Meu papel é fazer com que as coisas funcionem e que não haja exageros. Quem quiser ser duro poderá ser, mas desde que mantenha a educação", disse o senador.


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