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AUTOMÓVEIS
Governo compensa aumento da Cofins com imposto menor; setor será o único beneficiado por ser "mais complexo"
Montadoras terão mais uma redução de IPI
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai reduzir o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor de automóveis
como forma de compensar as
mudanças na cobrança da nova
Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). O objetivo declarado é evitar
repasse da indústria no preço ao
consumidor -o setor foi o único
beneficiado com a compensação.
"As mudanças não terão impacto nos preços porque nós vamos
reduzir o IPI para compensar",
disse o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Segundo ele, o
setor automotivo é mais complexo que outros setores e, portanto,
precisa da compensação. A queda
do IPI, que deverá ser permanente, vai beneficiar carros de até
2.000 cilindradas.
Em agosto do ano passado, a
fim de tentar aumentar as vendas
de automóveis populares e médios, o governo firmou um acordo de redução de três pontos percentuais da alíquota do IPI para as
montadoras. O trato foi renovado
em dezembro e expirou em fevereiro deste ano.
A Folha apurou que o governo
vai acabar com o atual sistema
monofásico que atinge os automóveis, remédios, higiene, pneus,
cigarros e combustíveis. Nesta semana, os fabricantes de automóveis estiveram reunidos no Ministério da Fazenda durante um dia
inteiro, onde pressionaram pelas
mudanças de regras.
O regime monofásico concentra
a cobrança da Cofins e do PIS na
principal indústria. No caso da cadeia automotiva, nas montadoras. Dessa forma, os fornecedores
não pagavam as contribuições,
mas, em compensação, a alíquota
paga pelas montadoras era de
8,26% sobre o faturamento.
O regime foi criado no governo
anterior para dificultar a sonegação. Isso porque a Receita Federal
só precisava fiscalizar a principal
indústria. Nos setores que se
transformaram em monofásicos,
a arrecadação subiu.
Agora, a nova Cofins não se encaixou no regime monofásico.
Por ser não-cumulativa, a Cofins
que começou a ser cobrada em fevereiro -de 7,6% sobre o faturamento- pressupõe que cada indústria tenha créditos sobre a
contribuição paga na etapa anterior. Dessa forma, é evitada a cobrança de imposto sobre imposto. Como esses créditos não existem no regime monofásico, a tributação ficou mais alta que nos
outros setores.
Alíquota maior
O secretário da Receita Federal
também lembrou que será preciso elevar a alíquota das montadoras para mais de 9,25%, incluindo
aqui a Cofins e o PIS. Para evitar
que esse aumento seja repassado
ao consumidor, o governo compensa a alta desses tributos com a
redução do IPI. A montadora de
automóveis deverá concentrar
apenas a cobrança da contribuição das concessionárias.
Em fevereiro, segundo assessores próximos de Rachid, as montadoras tiveram de pagar mais
porque não tinham os créditos
para compensar. O ajuste foi feito
nas margens de lucro. A mudança
nas regras vai permitir que as
montadoras tenham a sua tributação reduzida e ainda façam o repasse da nova Cofins para o consumidor. E é aí que entra a redução do IPI.
Questionado sobre o aumento
de carga tributária que a nova Cofins também gerou para o setor de
serviços, Rachid respondeu, em
tom de brincadeira: "Mas o setor
de serviços não tem IPI".
Exclusões
A nova Cofins já foi criada com
a exclusão de alguns setores das
novas regras como telecomunicações e cooperativas. No Congresso Nacional, também ficaram em
uma situação especial os setores
de educação, saúde e transportes
coletivos.
Recentemente, também o setor
de construção civil obteve um relaxamento da cobrança no caso
de empreendimentos que são feitos sob as regras do patrimônio de
afetação. Essas regras fazem com
que os empreendimentos sejam
separados para que os compradores não percam seus investimentos em caso de falência.
Rachid disse que o governo vai
aproveitar a medida provisória
164, que cria a contribuição sobre
importados, para incluir as alterações. A medida está em discussão
no Senado.
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