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OPINIÃO ECONÔMICA
Afrouxem a corda para evitar o pior
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A passagem da teoria econômica para o campo da política econômica é uma das armadilhas mais perigosas na carreira
dos economistas quando deixam
o acolhedor ambiente da universidade para trabalhar na planície
da vida profissional. Essa é a causa mortis mais importante na
destruição ou mediocrização de
carreiras de alunos e acadêmicos
brilhantes. Já vi esse filme, várias
vezes, ao longo de minha vida
profissional.
A explicação para esse fenômeno é muito fácil de ser encontrada. A teoria econômica é desenvolvida a partir de um processo
de idealização do comportamento dos principais agentes econômicos em mercados perfeitos e
puros. Nesse processo de abstração procuram-se encontrar regras
estáveis de funcionamento da
economia e definir relações estatísticas entre variáveis relevantes
ao longo de tempo. Nos últimos
anos o desenvolvimento da matemática -teórica e aplicada-
melhorou de maneira importante
o tratamento do chamado fenômeno econômico e, como conseqüência, deu maior densidade à
teoria econômica.
Já a política econômica trata de
questões da economia em um espaço social e político determinado e em um tempo histórico definido. Nessas condições, que se
afastam do sonho descrito nos livros-textos, aparecem pelo menos
três desafios para aqueles que assumem a responsabilidade de desenhar e operar a política econômica de um dado governo. Sem
querer hierarquizar essas etapas,
vou procurar detalhá-las ao meu
leitor da Folha.
A primeira regra para essa passagem difícil e traiçoeira dos livros-textos para uma ação de governo é entender a realidade política na qual ela será implementada. A história nos mostra, por
exemplo, a diferença entre a política econômica de governos autoritários e a de governos democráticos, esta muito mais sensível à
realidade do que a primeira.
Mostra-nos, também, as diferenças entre o que ocorre nas democracias maduras e institucionalizadas e nos sistemas políticos
mais frágeis, como o nosso.
Uma segunda preocupação dos
formuladores de uma política
econômica deve ser a de deixar
bem claros, dentro do governo em
que ela será operada, os valores
determinantes que servirão de
base para sua aplicação. Conceitos mal definidos, "trade-offs"
não explicitados e contradições
entre dificuldades que serão enfrentadas ao longo do mandato
de um presidente e promessas de
uma campanha eleitoral são algumas das armadilhas a serem
evitadas ou minimizadas para
que a ação econômica de um governo tenha chance de ser efetiva,
eficiente e perene.
Uma terceira limitação a ser
observada com cuidado é a diferença entre o arcabouço institucional da economia idealizada
na teoria econômica e o encontrado no país real onde será implementada a política econômica.
As diferenças mais importantes
aparecem no nível microeconômico e são representadas, principalmente, por uma legislação
inadequada ao funcionamento
eficiente dos mercados idealizados na teoria econômica. Essa limitação se torna insuportável
dentro do arcabouço funcional
da economia globalizada que vivemos hoje.
A avaliação da política econômica do governo Lula nestes seus
primeiros 14 meses de governo, tomando como metodologia o que
sucintamente descrevi acima, é
extremamente preocupante. Primeiro porque a mudança nos rumos decidida em plena campanha eleitoral de 2002 não foi legitimada por uma decisão institucional dos petistas, como ocorreu
no caso de vários partidos da social democracia européia. Essa
carência de legitimidade está no
centro da polêmica de hoje sobre
as mudanças de rumo, exigidas
hoje por parcela importante do
PT.
Essa falta de clareza quanto à
opção do governo por uma política econômica desvinculada das
promessas de campanha do presidente Lula está permitindo que os
partidos da base aliada exerçam
uma pressão oportunista sobre o
ministro Palocci. Essa situação está nos levando a uma confusa e
inimaginável situação em que a
oposição ao governo procura dar
sustentação à equipe econômica
do presidente Lula.
Um segundo ponto que me
preocupa é a incapacidade da
turma de Palocci, toda ela fixada
ainda no imaginário dos livros-textos, de entender os verdadeiros
desafios que representam essas
contradições de natureza política.
Com isso estão levando a limites
extremos os conflitos dentro do
governo Lula. Voltarei a esse ponto na próxima semana...
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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