São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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TRABALHO

Taxa em janeiro havia ficado em 11,7%; de acordo com o instituto, aumentou o número de pessoas à procura de vaga

Desemprego sobe e atinge 12%, aponta IBGE

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em fevereiro, o número de pessoas trabalhando permaneceu estável na comparação com janeiro, mas mais gente procurou trabalho, o que provocou um pequeno aumento do desemprego, de acordo com a metodologia do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A taxa de desemprego passou de 11,7% no primeiro mês deste ano para 12% em fevereiro, segundo o instituto. Já o rendimento médio real (descontada a inflação) cresceu 0,5% em comparação com janeiro. O número de pessoas sem trabalho e à procura de vaga teve uma alta de 3,3% na mesma comparação -sinal de que mais pessoas estão em busca de uma colocação.
Segundo o gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, a variação da taxa de desemprego de janeiro para fevereiro "não é significativa" e indica "uma estabilidade", mas "num patamar elevado". Em fevereiro de 2003, a taxa de desemprego havia ficado em 11,6%.
Especialistas ouvidos pela Folha dizem que o mercado não está nem melhor nem pior: o desemprego continua alto e novos postos não estão sendo gerados em nível suficiente para cobrir toda a procura, repetindo o cenário dos últimos meses.

Precariedade
Ao comparar os dados com os de fevereiro de 2003, porém, houve uma expansão da precariedade do mercado de trabalho.
Apesar de o número de pessoas ocupadas ter aumentado 1,5%, as vagas criadas são informais. Cresceu o total de empregados sem carteira (4,8%) e de trabalhadores por conta própria (8,8%), que, em geral, têm salários menores e condições de trabalho piores. Ao mesmo tempo, caiu a ocupação com carteira assinada -1,9%.
Em relação a fevereiro do ano passado, o total de pessoas sem trabalho que procuravam uma recolocação também subiu (5,7%). Nessa comparação, a renda continuou em queda, mas num ritmo menor do que nos meses anteriores. Houve uma retração de 5,7%.
"O quadro é de um aumento dessa camada informal, que já vinha em alta desde o ano passado. Foi uma característica de 2003 que está se repetindo neste ano", disse Pereira.
Fernando Montero, economista da Tendências Consultoria, completou: "Esse é um problema que já vinha ocorrendo. Por causa da crise, mais pessoas estão procurando trabalho e se ocupando com o que aparece".
Para o economista Lauro Ramos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os dados de fevereiro revelam que "o mercado de trabalho ficou parado". Um sinal disso, afirmou, é que não estão sendo gerados novos postos de trabalho.
"A grande informação é que não tem novidade: o desemprego continua praticamente estável, se comparado com janeiro, e um pouco mais alto, em relação ao mesmo mês de 2003, sem indicações claras de alteração desse quadro", disse.
Montero afirmou que a taxa de fevereiro seguiu um comportamento sazonal, subindo nos primeiros meses do ano.
"Houve uma elevação na taxa de desemprego numa época e numa magnitude já esperadas", disse. Ramos também ressaltou que as altas em janeiro e fevereiro são sazonais.
O único indicador que está menos pior, dizem os especialistas, é o rendimento. Para Pereira, a expansão da renda ante janeiro e a desaceleração na comparação com 2003 é reflexo de dissídios maiores do que a inflação de algumas categorias. É que eles são corrigidos pela inflação passada, mais alta.
Ramos, no entanto, disse que o rendimento já havia caído muito em 2003, o que torna a base de comparação "fraca".


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