São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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COMÉRCIO

Segundo documento de instituição americana, estrutura dos supermercados no Brasil prejudica pequeno fornecedor

Relatório critica concentração no varejo

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Relatório divulgado nesta semana, em Washington, pelo IFPRI (sigla em inglês para Instituto Internacional de Pesquisas de Políticas Alimentares), afirma que a atual concentração do setor de supermercados no Brasil prejudica os negócios de pequenos fornecedores de alimentos, principalmente de produtos agrícolas e carnes e aves no país.
O documento defende a idéia de que os pequenos fabricantes estão em "desvantagem", cita exemplos no Brasil e inclusive dá o nome de redes que "exploram" os pequenos .
Analistas do segmento e supermercados ouvidos ontem criticaram o documento.
Na última publicação da entidade, especializada em debates sobre nutrição, pobreza e segurança alimentar no mundo, o relatório sobre o Brasil é o grande destaque. Ele informa que os maiores supermercados na América Latina, e principalmente no país, cresceram em uma década o mesmo que o setor nos EUA levou cinco décadas.
"No Brasil, por exemplo, os supermercados eram responsáveis por 30% das vendas de alimentos em 1990. Em 2000, a taxa chegou a 75%", informa.
Com poucos vendendo muito, os economistas da entidade -são cerca de 300 colaboradores no mundo- acreditam que há um desequilíbrio. Dizem que as lojas compram mercadorias de pequenos fornecedores e revendem para fora, ganhando com a exportação. E que os fabricantes precisam se adequar às normas dos contratos do comércio -que incluiu um prazo de até 60 dias para o pagamento da compra da mercadoria ao fabricante.

Resposta
Analistas de varejo e supermercados no país acreditam que há um "equívoco" na análise.
Com base em dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) informam que a concentração perdeu fôlego (o grande movimento de fusões e aquisições teria ocorrido em 1999 e 2000).
Afirmam ainda que no Brasil as cinco maiores rede têm 39% do mercado, enquanto na França e Inglaterra as cinco maiores têm entre 60% e 70% do negócio.
Reforçam ainda o argumento de que contratos de compra e venda têm regras flexíveis. Se o fabricante, por exemplo, enfrenta problemas financeiros, os pagamentos podem ser antecipados e os prazos renegociados.
Na avaliação do grupo Pão de Açúcar, dono das lojas Extra, Barateiro e Extra Eletro, não há conflitos nocivos entre as partes. Na prática, afirma, os supermercados precisam dos pequenos fornecedores por duas razões: 1) para aumentar o número de alternativas de compra ao consumidor e 2) para reduzir a dependência de grandes marcas, que têm elevado poder de barganha na hora de negociar preços.
"Temos feito um trabalho intenso para oferecer uma alternativa de compra de menor custo para o consumidor", diz Marcelo Roffé, diretor de comercialização categoria Menor Preço do Grupo Pão de Açúcar. "É uma relação "ganha-ganha". O consumidor economiza, o fornecedor, sobretudo os pequenos, coloca seus produtos no mercado, e a empresa consegue oferecer um diferencial de compra ao consumidor."
Reproduzido ontem pela rede de notícias BBC, o relatório não foi comentado pelo Carrefour, outra rede de grande porte no Brasil.


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