São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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BALANÇO

Instituição teria prejuízo em 2003 se não tivesse renegociado dívida de US$ 1,2 bi com controladora da Eletropaulo

BNDES lucra R$ 1 bi após acordo com AES

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O fechamento do acordo de renegociação da dívida de US$ 1,2 bilhão da AES (referente a empréstimos para a compra da Eletropaulo) permitiu ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) transformar em lucro de R$ 1,038 bilhão em 2003 um resultado que até o mês de novembro apontava prejuízo de R$ 2,125 bilhões.
Com o acordo, o banco pôde lançar na sua contabilidade de ativos (bens) o valor da quase totalidade dos créditos com a AES que antes estavam na conta de provisões para créditos duvidosos.
Dos créditos com a AES, o BNDES transformou US$ 600 milhões (R$ 1,762 bilhão) em participação acionária na Brasiliana (empresa formada com ativos da AES no Brasil), renegociou US$ 510 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) e recebeu, em janeiro deste ano, US$ 90 milhões (cerca de R$ 260 milhões).
A operação permitiu que o banco lançasse em seus ativos o total de R$ 3,056 bilhões. Uma parcela dos créditos, de cerca de R$ 460 milhões, permaneceu entre as provisões. O provisionamento é feito de acordo com a classificação de risco da empresa devedora.
"Com o êxito da negociação com a AES, fundamentalmente, conseguimos inverter a situação anterior", disse o diretor da área financeira do BNDES, Roberto Timótheo da Costa. Os ativos totais do banco fecharam 2003 em R$ 152,1 bilhões, dos quais R$ 116,9 bilhões em créditos.

Maior lucro nominal
O resultado de 2003 foi 89% maior que os R$ 549,6 milhões de 2002 e acabou sendo o maior lucro nominal (sem correção monetária) da história do BNDES.
O maior lucro anterior havia sido de R$ 963 milhões, em 1996. Em dólares, o resultado de 1996 equivalia a US$ 963 milhões (o câmbio estava em US$ 1/R$ 1), enquanto o de 2003 foi de aproximadamente US$ 358 milhões, pelo câmbio livre de 30 de dezembro.
O resultado do BNDES poderia ter sido bem melhor se o banco não tivesse sido obrigado a manter entre suas provisões para créditos duvidosos cerca de R$ 2 bilhões, equivalentes a aproximadamente US$ 700 milhões devidos pela empresa SEB (Southern Electric Brasil), da qual a AES é controladora (65,5% do capital).
A SEB controla cerca de 33% do capital da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). Costa disse que o BNDES vem negociando há 11 meses a recuperação dos créditos com a SEB.
A inadimplência total dos devedores do BNDES somava R$ 3,7 bilhões no final de 2003, contra R$ 7,1 bilhões em setembro do mesmo ano. Graças ao acordo sobre a parte da dívida da AES referente à compra da Eletropaulo, o índice de inadimplência caiu de 7,3% da carteira de empréstimos em setembro para 4,4% em dezembro.
O conselho de administração do BNDES decidiu também que apenas 25% (R$ 259,5 milhões) do total do lucro será pago à União.
Os 75% restantes do lucro de 2003 foram capitalizados pelo banco, o que fez seu patrimônio aumentar para dar sustentação ao propósito de emprestar neste ano R$ 47 bilhões.
O patrimônio líquido fechou 2003 em R$ 12,8 bilhões. Segundo o superintendente da área financeira do banco, José Roberto Fiorêncio, a situação patrimonial é confortável para a realização do orçamento de 2004. Mas ele ressalvou que a margem legal para empréstimos ao setor público, prioridade da direção do banco, está apertada. Ela era de apenas R$ 1,539 bilhão no fim de 2003.


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