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Modelo que inspirou programa não conseguiu gastar recursos
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para cumprir a promessa de
construir 1 milhão de casas, o
governo federal vai ampliar um
programa habitacional que tem
recursos sobrando e, em dez
anos, ergueu somente 268 mil
unidades.
Base para o novo plano habitacional, o PAR (Programa de
Arrendamento Residencial)
contabilizou como "disponíveis" 56% do R$ 1 bilhão alocado para todo o país em 2008.
No ano passado, 13 dos 25 Estados que tiveram recursos alocados para o PAR não gastaram
nenhum real, segundo números do Ministério das Cidades.
O novo programa aumenta
de seis para dez salários mínimos a faixa de renda beneficiada e transforma o aluguel numa
prestação subsidiada, com a garantia de compra do imóvel em
20 anos. Mantém, contudo, a
forma como os imóveis são
construídos e os beneficiários
selecionados.
Cabe à construtora encontrar o terreno e apresentar projeto à Caixa. O poder público local (prefeituras e Estado) fica
com a responsabilidade de disponibilizar o cadastro das famílias de baixa renda que vivem
de aluguel e conceder as licenças aos empreendimentos.
Famílias com renda até seis
mínimos já são o público alvo
do PAR, que consumiu R$ 7 bilhões de investimentos em
1.711 empreendimentos entre
1999 e 2008. No ano passado,
somente Rondônia e Mato
Grosso contrataram quase a totalidade dos recursos alocados
-R$ 20 milhões e R$ 130 milhões, respectivamente.
A secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães, cita
três pontos para a baixa execução em 2008: nem todos os Estados têm muitas cidades com
mais de 150 mil habitantes (exigência para participar do programa), são poucas as empresas
especializadas em moradia de
baixo custo e nem sempre o poder público organiza de forma
eficiente a demanda.
No entanto, para empresários da construção civil, o principal problema é a morosidade
da Caixa ao avaliar os projetos e
autorizar as obras e a burocracia que atrasa a liberação de recursos. "Ninguém começa uma
obra com menos de oito meses
de espera. O governo não consegue operacionalizar para ter
recursos disponíveis no início
do ano", afirma José Carlos
Martins, vice-presidente da
Cebic (Câmara Brasileira da
Indústria da Construção).
Martins concorda que são as
pequenas e microempresas que
mais se interessam por esse tipo de empreendimento, considerado de baixa rentabilidade.
Por isso, Estados e municípios
serão convocados a assinar um
termo de adesão ao plano habitacional se comprometendo a
reduzir tributos para atrair o
interesse da iniciativa privada.
Além de tentar assegurar agilidade e eficiência, o governo
será desafiado também a corrigir as falhas detectadas pelo
PAR, em especial na gestão dos
condomínios já habitados. Incluir no projeto pontos como
hidrômetros individuais e garagens cobertas e prever uma administração compartilhada entre empresa e moradores são
fundamentais para integrantes
de um grupo de pesquisa multiuniversitário sobre habitação.
"Pouco se reflete sobre a
pós-ocupação. Há questões que
não são definidas no projeto e
se transformam em verdadeiros problemas de convivência",
afirma a professora Nirce Saffer Medvedovski, da Universidade Federal de Pelotas, que
faz parte da rede de pesquisa.
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