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São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

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CURTO-CIRCUITO

Montante a ser renegociado equivale a pouco menos de US$ 500 mi; queda do faturamento prejudica empresa

Light anuncia reestruturação de dívida

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um problema de solvência no setor elétrico veio à tona ontem. A Light, principal empresa de distribuição de energia do Estado do Rio, comunicou ao mercado que vai reestruturar parte de sua dívida. A Folha apurou que o montante que será renegociado equivale a pouco menos de US$ 500 milhões e se refere aos compromissos da empresa com instituições financeiras.
O restante da dívida -que no total somava US$ 1,5 bilhão no fim de 2002- não será renegociado agora. Entre os bancos credores, estão importantes instituições, como Deutsche Bank, BBA Creditanstalt (hoje parte do Itaú BBA) e Citibank. O último, além de credor, foi contratado pela Light para prestar assessoria no processo de reestruturação.
Procurada pela Folha, a Light não quis comentar a decisão de renegociar sua dívida.
Mas a notícia não chegou a pegar o mercado de surpresa. Ao contrário, analistas já esperavam que a empresa tivesse de partir para a reestruturação da dívida em consequência de sua delicada situação financeira.
Por conta dessa expectativa e dos resultados ruins apresentados pela empresa -que teve prejuízo líquido de R$ 1,25 bilhão em 2002-, o valor da ação já havia despencado. Desde o início do ano, o papel da empresa tem desvalorização acumulada de 38,7%. Ontem, o papel recuou 6,6% após o anúncio da reestruturação.

Principais problemas
São dois os principais problemas da Light atualmente: endividamento volumoso e alto nível de perdas em seu faturamento.
Segundo Sérgio Tamashiro, analista do Unibanco, a dívida da Light é mais de cinco vezes superior à geração de caixa, que, nas contas dele, deve ser de R$ 800 milhões em 2003.
"Esse nível está bastante acima do recomendável e deixa a empresa numa situação financeira complicada", diz o analista.
Para ele, a solução ideal para a Light seria o cancelamento de parte da dívida por meio, por exemplo, da conversão de parcela dos débitos que a empresa têm com sua controladora em capital.

Sem dinheiro
O problema é que a EDF não parece disposta a injetar mais dinheiro no Brasil tão cedo. No ano passado, a empresa estatal francesa havia feito um aporte de capital na Light de R$ 2,35 bilhões. Mas agora congelou todas as possibilidades de novos investimentos no Brasil.
Outro grande problema da Light é o elevado grau de perda de energia por causa principalmente de fraudes em medidores residenciais. A Folha apurou que o percentual de perda de faturamento chegou a 24% no início deste ano. Em 2001, era de 16%. No mercado, esse valor é de cerca de 10%.

Crise no setor
O anúncio da reestruturação da dívida da Light acontece em um momento em que o setor de energia enfrenta uma profunda crise. A Eletropaulo, por exemplo, está parcialmente inadimplente.
Além do excesso de energia elétrica, que prejudica o faturamento das empresas, existe uma grande incerteza sobre os rumos que a regulação tomará nesse novo governo. Com tudo isso, os investimentos no setor estão praticamente congelados.


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