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Usuário é "expulso" por achatamento de salário
VINICIUS ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Augusto Batista Correia,
28, procurou um plano de saúde
pela primeira vez em 1996. Ele não
queria que sua mulher, Rita de
Cássia, 29, corresse o mesmo risco
que a mulher de um amigo seu,
que perdeu o filho na demora do
atendimento em um hospital municipal.
Desde então, Correia passou
por mais dois planos. Seu maior
salário até hoje foi de R$ 700, incluindo horas extras, e ele sempre
procurou as modalidades de plano mais baratas. Enquanto Rita
trabalhava como secretária, ganhando R$ 500, a despesa familiar
mensal com saúde era em média
de R$ 100, ou 8,3% do orçamento
doméstico.
Correia passou, desde 1996, por
dois empregos. Hoje trabalha como porteiro em um edifício no
centro de São Paulo. Viu o salário
encolher até R$ 550, e o da mulher
-que de secretária passou a balconista em uma padaria- cair de
R$ 500 para R$ 350.
Entretanto, a compra de remédios para sua filha e o tratamento
de que a mulher precisou fizeram
com que seus gastos com saúde
passassem de R$ 100 para R$ 120.
Com a queda da renda familiar,
13,3% do seu orçamento total passaram a ser comprometidos com
gastos relativos à saúde familiar.
Sem plano de saúde desde novembro de 2002, Correia está à
procura de um plano para garantir o atendimento médico da família. O mais barato que encontrou até agora custa R$ 90.
Reajustes
Se, no caso de Correia, o peso do
gasto com saúde veio do achatamento da renda familiar, para o
comerciante Estêvão Jorge Boccuzzi, 44, o problema foram os
reajustes. Sua renda tem se mantido estável desde que adquiriu o
primeiro plano de saúde, em 1999.
Naquele ano, fez um plano para a
sua mãe, Nassra Mansur Boccuzzi, 66, e para a filha, Carolina, 12. O
que gastava na época com os planos consumia cerca de 15% de sua
renda total.
No final de 99, no entanto, precisou parar de pagar o plano da
mãe, que chegava a R$ 380 mensais. O irmão de Boccuzzi passou
a ajudar com a despesa de um novo plano, que hoje está em cerca
de R$ 500. O plano para a filha,
que agora custa R$ 140, o comerciante continua a pagar.
Em janeiro de 2002, Boccuzzi
fez um plano de saúde para si próprio, o mais barato que pôde encontrar. Em três meses teve de
deixá-lo -e só agora, mais de um
ano depois, conseguiu adquirir
um novo. "Acabei de adquirir um
plano porque acho que não estou
bem de saúde. Fiz o plano mais
básico, que custa R$ 85. Só dá direito ao médico dar o atestado de
óbito", diz. "Estou fazendo por
falta de opção."
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