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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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Usuário é "expulso" por achatamento de salário

VINICIUS ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Augusto Batista Correia, 28, procurou um plano de saúde pela primeira vez em 1996. Ele não queria que sua mulher, Rita de Cássia, 29, corresse o mesmo risco que a mulher de um amigo seu, que perdeu o filho na demora do atendimento em um hospital municipal.
Desde então, Correia passou por mais dois planos. Seu maior salário até hoje foi de R$ 700, incluindo horas extras, e ele sempre procurou as modalidades de plano mais baratas. Enquanto Rita trabalhava como secretária, ganhando R$ 500, a despesa familiar mensal com saúde era em média de R$ 100, ou 8,3% do orçamento doméstico.
Correia passou, desde 1996, por dois empregos. Hoje trabalha como porteiro em um edifício no centro de São Paulo. Viu o salário encolher até R$ 550, e o da mulher -que de secretária passou a balconista em uma padaria- cair de R$ 500 para R$ 350.
Entretanto, a compra de remédios para sua filha e o tratamento de que a mulher precisou fizeram com que seus gastos com saúde passassem de R$ 100 para R$ 120. Com a queda da renda familiar, 13,3% do seu orçamento total passaram a ser comprometidos com gastos relativos à saúde familiar.
Sem plano de saúde desde novembro de 2002, Correia está à procura de um plano para garantir o atendimento médico da família. O mais barato que encontrou até agora custa R$ 90.

Reajustes
Se, no caso de Correia, o peso do gasto com saúde veio do achatamento da renda familiar, para o comerciante Estêvão Jorge Boccuzzi, 44, o problema foram os reajustes. Sua renda tem se mantido estável desde que adquiriu o primeiro plano de saúde, em 1999. Naquele ano, fez um plano para a sua mãe, Nassra Mansur Boccuzzi, 66, e para a filha, Carolina, 12. O que gastava na época com os planos consumia cerca de 15% de sua renda total.
No final de 99, no entanto, precisou parar de pagar o plano da mãe, que chegava a R$ 380 mensais. O irmão de Boccuzzi passou a ajudar com a despesa de um novo plano, que hoje está em cerca de R$ 500. O plano para a filha, que agora custa R$ 140, o comerciante continua a pagar.
Em janeiro de 2002, Boccuzzi fez um plano de saúde para si próprio, o mais barato que pôde encontrar. Em três meses teve de deixá-lo -e só agora, mais de um ano depois, conseguiu adquirir um novo. "Acabei de adquirir um plano porque acho que não estou bem de saúde. Fiz o plano mais básico, que custa R$ 85. Só dá direito ao médico dar o atestado de óbito", diz. "Estou fazendo por falta de opção."

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